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Preferimos a decisão técnica do que ceder à pressão política

O gerente disse que a seca no Estado fez com que a empresa acelerasse o reaproveitamento de água para controlar a poeira. Foto: Bruno Lyra

Junto com a Vale, a ArcelorMittal Tubarão é a empresa mais questionada quanto à poluição do ar na Grande Vitória e está na mira da CPI do Pó Preto. Localizada na Serra, ela produz aço e integra o complexo industrial de Tubarão junto com a Vale. Nesta entrevista, o diretor de Meio Ambiente, João Bosco da Silva – que é morador de Jacaraípe – revela os esforços e investimentos da Arcelor para reduzir a emissão de gases e poeira, incluindo o pó preto.

Quais são as principais fontes de emissão de poeira na planta industrial?

A fonte do pátio de carvão e minério de ferro não é a principal. Manuseamos só 10% do que circula no Complexo, o restante é a Vale. O inventário de fontes poluidoras aponta que o pátio representa 2,4% de nossas emissões. Tem a fonte da chaminé da sinterização, as vias internas, as transferências, as trocas nos carros de carregamento e a coqueria.

Quais tipos de materiais são estocados nas pilhas de minérios? 

Temos pilhas de minério de ferro, carvão mineral e calcário. O primeiro é fonte de ferro, o segundo é combustível e o terceiro é fundente para a fabricação do aço.

Por que a Arcelor entende que não deve colocar as barreiras de vento (wind fances) em volta de suas pilhas de minério como fez a Vale?

Estudo da MRI, instituição americana renomada, apontou que para a Vale era a melhor solução, pois lá não tem disponibilidade para cinturão verde e problemas na posição dos prédios na planta delas. Para nós apontou que a combinação do cinturão verde com a wind fance aumentaria a dispersão. Por outro lado, nosso cinturão verde já dava eficiência no controle.   Apontou ainda que se a gente colocasse o cinturão verde na parte norte e leste atingiríamos a eficiência da wind fance, 83%.  Onde não tinha área para isso, como na Sol Coqueria, colocamos o wind fance. Preferimos a decisão técnica que ceder à pressão política e isso prejudica a gente.

Durante a crise hídrica nesse verão houve muita reclamação de poeira vinda de Tubarão…

Antes do auge da crise fizemos o Plano Verão. Apresentamos ao Iema (Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos) e ao Consema (Conselho Estadual de Meio Ambiente).  Com a crise, passamos a usar água de reúso na umectação de vias, pois tivemos corte de mais de 40% no fornecimento de uma hora para outra.  Nas pilhas de minério passamos a usar polímero (substância gelatinosa), água de reúso, umectação com mais frequência. Reduzimos o tamanho das pilhas de 15 para 13 metros. E os materiais mais finos colocamos no meio do pátio, nas bordas deixamos os mais grossos.

Além desses, quais outros controles de poeira?

Com base no inventário de poluição atmosférica apontamos as fontes prioritárias para investir:  coqueria,  troca dos carros de carregamento,  sinterização, reforma do precipitador eletrostático, implantação de um filtro de manga, que é o maior investimento, em torno de R$ 32 milhões. Estamos substituindo o sistema de despoeiramento até o fim do ano e estudando tecnologia para fazer a supressão nos pátios de escória. Na saída dos pátios temos lavadores de pneus, e o sistema de limpeza das vias com ajuda de GPS para evitar falhas nas rotas.

Há também uma preocupação muito grande em relação aos gases emitidos na siderurgia. Quais são os gases que vocês lançam e como controlam?

O benzeno, por exemplo, é voltado para a saúde ocupacional. Não chega à comunidade. E não temos nenhum caso de afastamento de trabalho relacionado a ele. Todos os empregados passam por monitoramento e exames clínicos. Em relação aos outros gases, NOx, SO2, e CO2 temos absoluto controle. Só existem duas plantas de dessulfuração (retirada de enxofre) no Brasil e elas estão aqui na nossa coqueria.

E o mau cheiro relatado por moradores dos bairros da Serra no entorno da ArcelorMittal Tubarão?

Temos uma unidade ali próximo à Sol Coqueria. Há controle rígido do SO2 e monitoramento do odor. No passado nós tivemos problemas, fizemos melhorias, criamos rede de monitoramento e não temos recebido reclamações da comunidade. Fizemos nova avaliação por conta da matéria do Tempo Novo, o Iema veio aqui, verificou registros de operação e não foi encontrada anormalidade.

Quanto a ArcelorMittal Tubarão já investiu em controle de poluição do ar desde o início das operações ainda em 1983, quando era CST?

Até 2013 investimos U$ 780 milhões. De lá para cá houve mais U$ 100 milhões. São quase U$ 900 milhões (R$ 2,8 bilhões) em 32 anos. Só o sistema de dessulfulração custou U$ 27 milhões que solidifica o enxofre que é vendido para a indústria química.  Só isso já reduziu 31% de nosso material particulado. E cerca de 41% da emissão de SO2 (dióxido de enxofre).

A legislação brasileira é bem mais frouxa do que recomenda a Organização Mundial Saúde (OMS)…

Mas não tem nenhum outro estado brasileiro que tenha algo tão avançado como o decreto do Governo do ES, que estabelece metas para atingirmos os índices da OMS na questão dos gases NO2, NOx, ozônio, material particulado.  

Existe uma discrepância entre o que afirmam as empresas e o próprio Iema sobre a poluição e a percepção da população. O que você acha?

Alguns setores discutem a credibilidade do automonitoramento. Mas é assim no mundo inteiro. O dinheiro público não deve ser usado para monitorar o controle ambiental do setor privado. É mais barato e eficaz para o órgão ambiental fiscalizar esse monitoramento. Ele pode entrar aqui a hora que quiser e sem aviso.  Nosso plano de auditoria tem de estar submetido ao Iema.

Gabriel Almeida

Jornalista do Tempo Novo há mais de oito anos, Gabriel Almeida escreve para diversas editorias do jornal. Além disso, assina duas importantes colunas: o Serra Empregos, destinado a divulgação de oportunidades; e o Pronto, Flagrei, que mostra o cotidiano da Serra através das lentes do morador.

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