Mestre Álvaro
Yuri Scardini é autor do livro 'Serra: a história de uma cidade' e escreve sobre política e economia

Casagrande está no auge da sua vida pública e é hegemônico dentro das linhas da democracia

Casagrande política
Casagrande é um dos principais líderes políticos da história do Espírito Santo, um estado com quase 500 anos de história político-administrativa. Crédito: Divulgação

Em 2010, Renato Casagrande (PSB) foi eleito governador do Espírito Santo pela primeira vez, vencendo a disputa no primeiro turno com expressivos 82,3% dos votos — um recorde na história política do estado. Para quem lê apenas dados, sem analisá-los em suas profundidades, à primeira vista não haveria dúvidas: naquele momento, Casagrande estava no auge da sua vida pública.

No entanto, essa não parece ser exatamente a realidade da época. Casagrande compartilhava o poder com Paulo Hartung (sem partido), então uma figura hegemônica na política capixaba. Com a ruptura entre eles em 2014, Casagrande desvinculou-se de Hartung, seguindo um caminho independente e liderando seu próprio grupo sem ser eclipsado.

Casagrande e Hartung são dois dos principais líderes políticos da história do Espírito Santo, um estado com quase 500 anos de história político-administrativa. Este tema, porém, demandaria uma análise mais detalhada, possivelmente em outro artigo.

Repassando rapidamente a trajetória histórica, desde as fragilidades de Vasco Fernandes Coutinho e seus descendentes, passando pela venda da capitania do Espírito Santo para a família Araújo (1674) e depois para a Coroa Portuguesa em 1718, até o ostracismo no Ciclo do Ouro e a transição do Império para a República, o estado enfrentou períodos de fragilidade. A sequência inclui a dinastia dos Monteiro, a Era Vargas com João Punaro Bley, a ascensão dos Santos Neves, dos Lindenbergs, o Governo Militar e os governadores biônicos.

Novos líderes populares como Gerson Camata e Max Mauro surgiram, seguidos por governadores como Albuíno Azeredo, Vitor Buaiz e José Ignácio Ferreira, que não conseguiram deter o avanço do crime organizado, levando o estado a uma grave crise institucional.

Eis então que chegamos a Casagrande, que nessa época já estava ativo na política; egresso dos movimentos de redemocratização, chegou a ser vice-governador de Vitor Buaiz, mas sem a caneta na mão, restou a ele tentar remediar problemas, além disso foi um dos poucos que conseguiu sair bem avaliado daquele governo, já que exerceu também a secretário de Estado de Agricultura, quando fez da pasta uma das mais estratégicas, como ainda é até os dias de hoje.

Com a virada do milênio, Paulo Hartung assumiu o governo, logrando controlar e reduzir a criminalidade enraizada na institucionalidade capixaba. As contas públicas foram saneadas, e o Espírito Santo experimentou um período de crescimento. Durante esse intervalo, Casagrande teve que se reinventar, atuando inclusive como Secretário Municipal na Serra, no segundo mandato de Sergio Vidigal (2000-2004). Reestabelecido na política eleitoral, Casagrande chegou ao Senado Federal e, com o apoio de Hartung – apelidado na época de ‘Imperador’ – foi eleito governador em 2010. O poder permaneceu dividido até a ruptura em 2014, quando Hartung retornou ao cenário político.

Casagrande e Paulo Hartung fazem parte de um mesmo projeto de desenvolvimento socioeconômico que buscou mitigar os impactos do processo histórico do Espírito Santo. Desde 2010, o estado tem contado com dois grandes líderes que, apesar de suas divergências, compartilham um compromisso com a gestão pública e o desenvolvimento do Espírito Santo, contribuindo para um período de 22 anos de crescimento e prosperidade.

Em termos de perfil, eles são bastante distintos. Hartung, conhecido por seu estilo de liderança menos popular, destacou-se por estratégias políticas eficazes e uma gestão pública bem avaliada, especialmente nos anos seguintes ao desmantelamento do crime organizado. Ele soube manter um controle eficiente sobre partidos e lideranças políticas, minimizando os riscos eleitorais graças à sua posição dominante no poder.

Com a chegada de 2010, e as mudanças no arranjo político local alinhadas ao contexto nacional, Casagrande, um líder popular, ascendeu ao poder em um acordo orquestrado por Hartung. Sob a gestão de Casagrande, o estado continuou a prática de uma gestão fiscal rigorosa iniciada por Hartung, mas com um enfoque mais arrojado no investimento público.

Após a ruptura de 2014, Casagrande polarizou com Hartung, que retornou ao cargo de governador. Apesar de seus caminhos divergentes, ambos os líderes fazem parte de um ciclo de prosperidade que, historicamente, beneficiou o Espírito Santo, fortalecendo a solidez das instituições do estado.

Entre 2015 e 2018, Hartung enfrentou desafios retumbantes, como a greve da polícia militar em 2017, que trouxe uma ameaça de convulsão econômica, social e institucional. Para preservar sua reputação nacionalmente reconhecida, Hartung optou por não se candidatar à reeleição em 2018. Naquele ano, Casagrande era visto como o favorito antes mesmo das eleições começarem, e conseguiu vencer no primeiro turno apesar da polarização política nacional.

Desde então, iniciou-se efetivamente a era casagrandista no Espírito Santo, em que Casagrande se mostrou um líder soberano dentro dos limites da democracia. Como um político experiente e participante ativo na reconstrução do estado, Casagrande tornou-se um símbolo de governança sólida em um período marcado por crises fiscais em estados como Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul.

Casagrande também solidificou seu poder ao indicar nomes para ocupar posições estratégicas, como no Tribunal de Contas, na Procuradoria-Geral e na presidência da Assembleia Legislativa. Essas ações fortaleceram seu mandato e promoveram um estado de harmonia entre os poderes, respeitando as funções e responsabilidades constitucionais de cada um.

Com as contas públicas saneadas, os capixabas estão testemunhando o maior ciclo de investimentos públicos da história do Espírito Santo. A governabilidade política de Casagrande permanece confortável mesmo em um Brasil que enfrenta a insanidade dos desafios políticos ultra ideologizados. Sua popularidade é refletida em uma recente pesquisa realizada pelo instituto Qualitest para o jornal Tempo Novo, onde seu governo foi avaliado como ‘bom’ ou ‘ótimo’ por 60% dos moradores da Serra, com quase 90% considerando-o pelo menos ‘regular’. Esses índices são corroborados por avaliações de outros institutos em diferentes regiões.

+ Casagrande é bem avaliado entre 85,4% dos moradores da Serra, revela pesquisa

Casagrande domina amplamente o cenário político do Espírito Santo e, não fosse a polarização atual, dificilmente teria concorrentes à vista. Este período de sua liderança pode ser considerado tão ou mais hegemônico quanto foram os dois primeiros mandatos de Hartung. Mais significativamente, ao fim deste mandato de Casagrande, serão 24 anos de um estado fiscalmente responsável, com contas saneadas, institucionalmente sólido, politicamente comprometido com o desenvolvimento, mantendo um ritmo de investimento sem precedentes e distante dos populismos ideológicos.

No entanto, percebe-se um claro risco de crise de liderança; com a saída de Casagrande do poder e a aposentadoria política de Hartung, após 24 anos, os capixabas enfrentarão a necessidade imperativa de escolher outro líder. Encontrar alguém com suficiente apoio popular, currículo político robusto e a capacidade para governar um estado brasileiro não é tarefa simples; excluindo Casagrande e Hartung, tal figura ainda não emergiu no cenário capixaba, embora existam nomes promissores sendo especulados.

Se Casagrande renunciar ao cargo para disputar o Senado, por exemplo, o vice-governador Ricardo Ferraço assumiria o governo por nove meses e estaria apto a concorrer ao cargo. Embora esteja entre os primeiros na linha de sucessão, a discussão sobre este tema ainda não é explícita, especialmente porque há eleições municipais este ano, e Casagrande precisa manter sua posição dominante como está.

Nessa fila, que oficialmente não existe, pode haver espaço para o prefeito Sergio Vidigal, que não disputará as eleições deste ano e, caso consiga emplacar um sucessor na prefeitura da Serra, terá ainda mais influência nas decisões políticas estaduais. Vidigal e Ferraço, aliados antigos e bons amigos, possuem ambos reconhecimento, votos, conhecimento das nuances do poder e um sólido currículo político. Claro que, no momento, tudo isso é mera especulação, mas o que é certo é que Casagrande vive o auge de sua carreira política, exercendo um poder dominante dentro dos limites da democracia, e é também um dos líderes mais influentes do PSB nacionalmente. O futuro institucional, a estabilidade e o desenvolvimento socioeconômico do Espírito Santo estão diretamente atrelados a ele.

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