Por Bruno Lyra
A saída dos profissionais cubanos do programa Mais Médicos gera impacto direto na saúde pública da Serra. E impõe a Prefeitura um tremendo desafio: repor os 30 médicos espalhados por unidades de saúde como Nova Carapina, Jardim Carapina, São Marcos, Central Carapina, Nova Almeida, Barcelona, Vila Nova de Colares, Jacaraípe, Taquara, Barro Branco, entre outros.
Isso no contexto de empobrecimento e desemprego, que acaba por levar mais pessoas a depender do SUS. Historicamente, o município tem dificuldade para conseguir profissionais para atuar em determinadas regiões. O prefeito Audifax, por exemplo, já reclamou do desafio em conseguir pediatra para a UPA da Serra-Sede. Outra região que sofre é Nova Almeida.
Dentre os 78 municípios capixabas, a Serra é que mais teve cubanos do Mais Médicos. As vizinhas Vila Velha, Cariacica e Vitória têm, respectivamente, nove, sete e cinco profissionais do país caribenho.
Já o médico capixaba, assim como ocorre no resto do Brasil, é em boa medida oriundo de família de classe média. Quando não, de classe alta. Não é de se estranhar que rejeite trabalhar em local com fama de violento e degradado, pecha que recaiu sobre a Serra nas últimas décadas, em parte de forma injusta, uma vez que as cidades vizinhas também são problemáticas. Mas o que vale é a fama e a distância. Gente com mais recurso financeiro, como o médico, gosta de morar na zona norte de Vitória e da orla de Vila Velha. Salvo exceções.
Se a conta divulgada pela Folha de São Paulo de cada cubano atende, em média, 3,4 mil pacientes, mais de 100 mil pessoas podem ficar com o atendimento comprometido na Serra. Mas a Prefeitura não confirma os números.
Atuando na saúde básica, os cubanos costumam ser elogiados por quem atendem. Tanto pela qualificação quando pela humanização. É notório o prestígio internacional da medicina cubana. Portanto, a saída de Cuba do Mais Médicos é ideológica; foi provocada pela eleição de Jair Bolsonaro (PSL), que antes e durante a campanha já avisara que não aceitaria os termos atuais do convênio.
É discutível o fato do médico ficar com apenas 30% e o governo de Cuba 70% dos R$ 11 mil/mês que o Brasil paga por profissional. Também seria discutível se o governo cubano não levasse nada, uma vez que banca a formação do médico. O que é indiscutível é o prejuízo ao morador mais carente da Serra e do resto do Brasil onde só cubanos toparam clinicar.