Apesar dos fartos argumentos que existem contra o PT e contra o governo da presidente Dilma Roussef, inclusive de suspeitas de improbidade administrativa e de recursos financeiros em sua campanha de reeleição, provenientes de empresas que tem negócios com o Governo e envolvidas em denúncias de corrupção, o impeachment, ou cassação do mandato da presidente é algo pouco provável.
Fazendo um comparativo com o que aconteceu com o ex-presidente Fernando Collor de Mello, que teve o mandato cassado em 1992, percebe-se que o problema pode ser mais uma questão ideológica do que constitucional.
Collor foi eleito em 1990 representando a centro direita, que tinha a hegemonia da política brasileira. Naquela ocasião a centro esquerda aflorava no país. O PT que crescia no parlamento; o PSDB que apesar de ter sido fundado em 1988 já mostrava musculatura; PSB, PDT, PC do B entre outros partidos conquistavam cada vez mais espaço e encantavam multidões com seus discursos, programas e propostas transformadoras, principalmente estudantes, trabalhadores e camponeses.
A depressão que Collor causou ao povo brasileiro ao confiscar a poupança, somadas à sua arrogância e prepotência, levou-o a perder apoio no Congresso, que piorou com as descobertas de caixa dois em sua campanha, cujos recursos pagavam suas contas pessoais.
Esses fatos foram se agravando e o povo foi para as ruas, os estudantes pintaram as caras com as cores do Brasil e daí pouco tempo Collor renunciou ao mandato em dezembro de 1990, mas já era tarde, o seu impeachment já estava em curso.
Collor de Mello, da direita, foi substituído pelo vice-presidente, Itamar Franco, de centro, do PMDB, que ainda era um partido cheio de ideólogos como Ulisses Guimarães, Jarbas Vasconcelos, Pedro Simon, entre outras lideranças.
O que levou Collor ao declínio foram os crimes cometidos e que vieram à tona e a grande capacidade da esquerda de mobilizar multidões, que ganham a mídia que por sua vez pressiona a classe política.
Filme já conhecido pelos capixabas
Em termos financeiros e em se tratando de corrupção, os números e os casos de hoje suplantam em centenas de vezes os da época, mas mesmo assim o ímpeto com que se pede o afastamento da presidente Dilma não se compara com a energia demonstrada no caso de Collor.
Ainda não há um crime que possa ser imputado à presidente Dilma que convença a centro esquerda a abraçar o impeachment dela. As supostas pedaladas fiscais e o dinheiro das empresas envolvidas no escândalo da Petrobras são muito mais danosos aos cofres da nação do que o Fiat Elba que Collor comprou com dinheiro do caixa dois da campanha. Mas ainda não estão explícitas na mão da presidente.
As forças políticas que estão hoje no campo de esquerda, como Marina Silva, o PSB, Psol, PC do B e também os movimentos sociais aos quais essas forças estão inseridas não vão abraçar a tese do impeachment, tirar do poder um partido e uma presidente de centro esquerda para entregar o poder à centro direita, que no caso é o vice-presidente da República Michel Temer. Mesmo que surja um crime irrefutável contra Dilma Roussef, essas forças vão preferir tirá-la no voto.
Assim, vamos assistir a nível nacional um filme já conhecido no Estado, o mandato de governador de José Ignácio Ferreira (de 1999 a 2002), envolvido em um mar de denúncias de corrupção. Uma travessia longa, sofrida para os capixabas e onerosa para os cofres públicos. Calvário que só terminou em 2003, quando Paulo Hartung assumiu o governo após sair vitorioso das urnas.
Ficando Dilma na presidência, o povo brasileiro pode se preparar para uma travessia longa, sofrida e onerosa.
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