Por Thiago Albuquerque
Adjunto da Delegacia de Tóxicos e Entorpecentes do Espírito Santo (Deten), Fabio Pedroto, defende a legalização da maconha. Nesta entrevista exclusiva ao Tempo Novo, o delegado explica seu ponto de vista, enriquecido pela experiência de comandar o combate ao consumo e tráfico de drogas ilícitas no Estado.
O senhor é a favor da legalização do uso recreativo da maconha?
Temos um posicionamento um pouco diferente do que geralmente a categoria policial tem. Nós somos parte de um grupo até pequeno dentro da segurança pública, que defende um debate maior de algumas drogas, entre elas a legalização da maconha.
Por que o senhor defende esse ponto de vista?
O combate às drogas já tem acontecido há 100 anos no Brasil, desde que proibiram a cocaína no início do século e logo depois, a maconha. E não têm dado resultados. O combate contra as drogas não pode ser uma atribuição só da polícia, se não tiver suporte do estado, oportunidades de emprego, de qualificação no mercado de trabalho. A legalização não pode ser da noite para o dia, tem de ter o suporte, tudo organizado, ter uma estrutura no estado.
O Estado precisa mudar o jeito de tratar o usuário de drogas ilícitas?
Sim. Ele não pode ser tratado como criminoso, mas sim como uma pessoa que precisa ser reinserida na sociedade e se libertar do vício de algumas drogas até mais graves. Há uma contradição muito grande. O álcool, por exemplo, é a droga mais perigosa para a sociedade. Vou te dar um exemplo. Em 2013, fiz um estudo no município de Ibiraçu sobre acidentes, brigas e violência doméstica e cheguei a conclusão de que se eu pudesse liberaria a maconha e não o álcool.
Por que o senhor considera álcool pior do que a maconha?
O usuário de maconha é pacífico, não se envolve em briga. No estudo em Ibiraçu, todas as ocorrências de brigas eram por causa do álcool. Na BR-101, que corta a cidade, de 100 acidentes com mortes, 80 aconteceram com motoristas embriagados. De 50 casos de violência doméstica na cidade, em 45 deles os agressores estavam embriagados.
A liberação da erva vai enfraquecer o tráfico?
Temos de ressaltar que o combate às drogas tem de ser inteligente. Você não vai acabar com tráfico só com repressão. Por isso se você legalizar a maconha, tributando, produzindo como é feito com tabaco e ter campanhas como cigarro, suas consequências, o uso iria diminuir. Certamente iria enfraquecer o tráfico, reduzindo-se poder econômico.
Como é equacionar essas opiniões pessoais com o papel de delegado da Deten?
Nosso trabalho foca na parte preventiva. Penso que não se deve legalizar a maconha para que o consumo continue e sim para que o consumo seja reduzido. A Deten foi recordista na apreensão de drogas este ano. Em 2014, incineramos cinco toneladas. Somos vinculados à Polícia Civil e temos parceria com a Polícia Militar.