O episódio da derrubada das obras do que seria um templo de uma igreja Batista em Solar de Anchieta, há cerca de um mês, e de uma casa em Camará, na margem do Córrego Laranjeiras, vizinha à ES 010, mostrou que a administração municipal está focada nas ocupações irregulares em áreas ambientais, principalmente em locais de acúmulo de águas de chuvas, que podem se transformar em alagamentos e causar prejuízos para as famílias e Município.
Esses são dois episódios mais recentes, mas têm muitos outros onde a fiscalização ambiental tem tomado providências, tanto no sentido de derrubar construções novas como também de evitar novas ocupações irregulares.
A peculiaridade geográfica da Serra torna a tarefa de fiscalizar mais difícil: é uma cidade recortada por fundos de vales em plena malha urbana; é formada de extensas lagoas cercada de matas por onde se escondem pequenos barracos; é composta por extensas baixadas que servem para a acomodação de águas de chuvas e é uma cidade onde centenas dos proprietários não cuidam adequadamente de suas propriedades por serem de preservação e que só lhes trazem prejuízo e preocupação.
As chuvas históricas de 2013/14 e a queima de turfas na baixada do Mestre Álvaro este ano mostraram que algo precisa ser feito urgentemente para se preservar regiões que servem para os processos de equilíbrio da natureza e não causar prejuízo às pessoas, na sua maioria pobres, que perdem tudo diante da ‘vingança’ da natureza, inclusive a saúde, como foi o caso das turfas.
Em época de crise como a que passamos agora, a ameaça de invasões tende a piorar. Municípios pobres, como alguns da Bahia, ‘exportam’ moradores que vivem na linha da pobreza, que chegam aqui e ficam abrigados por alguns dias em casas de parentes e conhecidos até erguerem um barraco em uma área de risco de um bairro periférico.
Esse crescimento populacional desordenado onera o município que não dá conta de atender as demandas de serviços de saúde, educação, moradia e assistência social de um modo geral.
Essa postura mais arrojada de combater invasões tem que ser feita em maior escala, com fiscais mais bem equipados e com poder de polícia.
Qual é a da Eco 101?
Se fizer uma pesquisa hoje entre a população da Serra e de diversos outros municípios para saber qual a empresa mais repudiada, é quase certeza que o troféu vai para a Eco 101, empresa concessionária que administra a BR 101.
As reclamações contra ela são incessantes, também não é para menos: transitava-se pela BR para cima e para baixo sem nenhum custo. Hoje a rodovia está cheia de praças de pedágio e as melhorias tão almejadas chegam a passo de tartarugas.
O trecho da rodovia que corta a Serra está precisando de reparos em vários pontos. Tem buracos, ondulações e recortes feitos por empreiteiras da Cesan mal feitos que até hoje estão lá, para desgosto de motoristas. Há ainda reclamações de líderes comunitários que reclamam das más condições de acesso aos seus bairros. Até para o Município iluminar um trecho da via a Concessionário criou dificuldades.
A Eco 101 tem uma política de comunicação muito ruim com a comunidade e usa as normas da Agência Nacional de Transportes Terrestres – ANTT como justificativa para se esquivar de muitos dos problemas apontados pelos líderes comunitários.
Mas na esfera política a Eco costura bem. Dias atrás teve uma reunião no Palácio Anchieta com membros do Governo e com a bancada de deputados que, segundo alguns participantes, teve o intuito de aproximar-se das autoridades e minimizar as queixas contra ela.
Na esfera judicial a Eco 101 mostrou também que tem força. Ela conseguiu na Justiça Federal uma liminar que impede associações de moradores de bairros da Serra que estão no seu entorno de promoverem manifestações que levem ao fechamento da pista, em uma espécie de mordaça na boca daqueles que sofrem diariamente com a postura nada democrática da empresa.
Se a Eco não quiser ficar com o troféu de empresa mais antipática, deve rever a sua política de ralação com as comunidades do entorno, porque mesmo que ela tenha as bênçãos das autoridades e liminares judiciais, não será suficiente para conter a ira popular.
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