Por Bruno Lyra
O presidente da Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes), Marcos Guerra, revela a posição da entidade em relação ao impeachment da presidente Dilma e fala dos reflexos da crise econômica no ES, além de avaliar os impactos do desastre da lama no rio Doce para a indústria capixaba. Ela também avalia a importância da Serra do contexto do ES. Confira.
Cada novo prognóstico revela queda maior do PIB brasileiro. A produção industrial nacional já acumula 20ª queda seguida. Como está a indústria do ES neste cenário?
A produção física industrial começou os três primeiros meses com 30% de crescimento. Chegamos ao final de setembro com 11,3% positivos. Estimamos chegar ao fim do ano no zero a zero. Essa mudança se deve principalmente a paralisação temporária da Samarco. O setor de minério estava puxando muito o crescimento da produção física industrial. No ano passado o Brasil fechou 3,2 % negativo e o ES 5,6% positivo. Os bons números do ES se explicam por inaugurações: 4ª usina da Samarco; 8ª usina da Vale; 3º auto forno da ArcelorMittal que estava em reforma e voltou a operar; novas indústrias como Jurong, Itatiaia, Bertolini, Marcopolo, entre outras.
Como a paralisação da Samarco impacta na indústria e demais setores econômicos capixabas?
A Samarco tem a 2º maior receita operacional bruta do ES, fica atrás só da Petrobrás. O retorno da Samarco é uma questão de tempo. Até porque a indústria do minério é muito importante, não só no ES como MG e no Pará. O mundo todo usa ferro, o cimento vem sendo substituído. Se teve erro, negligência, terá que ser corrigido.
Um dos impactos da lama do rio Doce afeta a Fíbria, que não pode captar água lá. Uma possível dificuldade da produção de celulose preocupa a Findes?
O problema do rio Doce afeta todos nós. Acredito que se a água já está sendo usada pela população, também já sirva para o uso industrial. O choque imediato foi muito grande para todos. A Fíbria paralisou a captação por um momento, mas ela vai retornar. É uma questão de tempo. Tratar água para uso industrial é menos complexo do que tratar para consumo humano.
Como a indústria do ES pode ajudar a contornar a falta d’água no ES e não correr risco de perder investimento por conta da escassez desse insumo?
A situação de água no ES é crítica. Grande parte da indústria já reutiliza sua água. Em torno de 17% de todo o consumo de água no Estado é da indústria. Devemos focar na recuperação de nascentes, recuperar florestas. É preciso criar um fundo para isto, usando royalties do petróleo e numa futura cobrança da água. E o fundo que será criado para a recuperação do rio Doce, deve focar nas nascentes da bacia.
Quais são os outros grandes gargalos para a indústria capixaba?
O preço da energia, a burocracia, licenciamentos ambientais e leis trabalhistas precisam ser reavaliados a nível nacional. Principalmente no ES, onde mais de 50% da economia é voltada para o mercado internacional. Tem projetos importantes no Congresso Nacional, como o da terceirização. No Estado também falta infraestrutura. Temos a BR 101 que está se arrastando a sua duplicação, a licitação da BR 262, onde ninguém se interessou e ficou para o Governo Federal, que não acredito que fará. Além dos problemas com aeroporto e portos.
O setor industrial também reclama do excesso de impostos…
As questões tributárias que precisam ser reavaliadas com urgência. O Governo vem querendo suprir sua deficiência de gestão em cima de aumento de imposto. Isto tem prejudicado a competitividade da indústria. Para piorar, só 36% de tudo que geramos em impostos federais retorna ao Espírito Santo.
O senhor acredita que o impeachment da presidente Dilma vai ajudar a indústria do ES e do resto do país?
O Governo perdeu a credibilidade e não consegue mais administrar um país tão complexo e com tantos partidos políticos. O impeachment em qualquer situação é ruim, mas necessário para o país voltar à governabilidade.
Recentemente a Findes abriu uma regional na Serra. Qual é o objetivo?
O Estado tem várias regionais nos municípios do interior. Abri na Serra, Cariacica e Vila Velha porque o industrial estava pouco presente em nossa estrutura e precisava discutir as prioridades da indústria no município onde está desde a formação profissional até busca de competitividade nas ações políticas e industriais.
A Serra acabou de aprovar o programa Desenvolve Mais Serra, que prevê incentivos fiscais, redução e até isenção de taxas para investidores. Como o senhor avalia?
Vejo com bons olhos. O prefeito deu demonstração de ser empreendedor. O momento é crítico e você agindo dessa forma, estimula as empresas que já estão e as que estão por vir. É uma demonstração inteligente que deveria ser copiada por outros municípios com maior vocação industrial.
Quais são os gargalos e potenciais para a indústria na Serra?
A Serra é o município mais industrializado do estado e tem uma topografia privilegiada. Em matéria de logística a cidade está muito bem, mesmo com a deficiência da BR 101. Mas precisa acelerar os contornos do Mestre Álvaro, de Jardim Carapina e o de Jacaraípe, que não são obras caras. A cidade está próxima de portos, aeroportos, grandes rodovias. A Serra hoje tem um perfil de capital de estado, com grandes shoppings centers e bons condomínios.
Qual seria o melhor local para o aeroporto internacional de cargas: Vila Velha ou Serra?
Discutir Serra ou Vila Velha é tirar o foco do aeroporto de Vitória, que também deveria ter sido discutido melhor. Mas já que se definiu ali, vamos trabalhar por ele. O ideal é que tenhamos um bom aeroporto em Vitória, que já é bem perto da Serra, e um regional no norte e outro no sul do ES com voos regulares.
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