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“A Serra tem em média 300 ocorrências policiais por dia”

Para o Coronel Barreto, a estrutura da segurança pública não acompanhou o grande crescimento que a Serra experimentou. Foto: Bruno Lyra

O tenente Coronel Moacir Barreto comanda desde junho de 2014 o 6º Batalhão da Polícia Militar, responsável pelo policiamento de toda a Serra.  Ele fala dos desafios de ajudar na segurança da população do município onde mais se mata no ES e que está entre os lugares mais violentos do mundo.

Há quantos policiais militares atuando na cidade, incluindo o número por turno de trabalho?

Não podemos dar esse número. É uma questão estratégica, pois pode facilitar a ação de criminosos.

Essa quantidade e a estrutura disponível para a PM é suficiente?

A estrutura que temos hoje atende uma demanda, mas ela é reprimida pela dimensão do município e tamanho da população o que impacta na logística e deslocamento do efetivo. O tamanho da Serra exige dois batalhões da PM, um só para cuidar da região de Jacaraípe, Nova Almeida e Feu Rosa. O efetivo do 6º Batalhão é o mais defasado da Grande Vitória.

São quantas ocorrências por dia?

O município da Serra é onde a PM atende mais ocorrências no Estado, com cerca de 300 por dia. Os dias de maior demanda são de quinta a domingo.

Além dos homicídios, onde a Serra lidera as estatísticas, quais são os outros crimes mais comuns?

Roubo, furto, violência doméstica, tráfico de drogas. A Serra é a cidade que mais tem casos de violência contra a mulher. Nos crimes contra o patrimônio, há mais em Vila Velha e Vitória. Mas o crime contra o patrimônio que mais gera estatística está intimamente ligado à droga, roubo a pessoa em via pública.

Nos roubos de carros, qual é a situação na Serra?

É um fenômeno da Grande Vitória. Há mês que Vitória ganha, noutro é Vila Velha. É um crime ligado intimamente a atuação de quadrilhas. Não adianta só a presença ostensiva da política.

E apreensão de armas de fogo?

A Serra está na frente. Em 2014 foram 671 armas, contra 599 em Vila Velha e 416 em Vitória. Este ano, nos sete primeiros meses, foram 368 na Serra, 333 em Vila Velha, 228 em Cariacica e 203 em Vitória.

Dá para apontar as regiões mais violentas?

A maior parte dos crimes contra a vida se concentram nas áreas de crescimento desordenado. Jardim Carapina, Central Carapina, Jardim Tropical, José de Anchieta II, bairros do entorno da Grande Jacaraípe: Costa Dourada, Parque Jacaraípe, Bairro das Laranjeiras e da Grande Nova Almeida, destacando Parque das Gaivotas e Praiamar. Tem ainda os bairros no entorno da Serra Sede, como Planalto Serrano, Vista da Serra, São Marcos, Santo Antônio, Taquara, Cidade Pomar, Nova Carapina I e II, Feu Rosa e Vila Nova de Colares. E as invasões no entorno de Carapebus.

E dos crimes contra o patrimônio? 

Na Grande Laranjeiras, as regiões comerciais de Jacaraípe, de Jardim Limoeiro, o entorno dos shoppings, as áreas comerciais de Novo Horizonte e Porto Canoa.

Serra não só lidera como vem ampliando a diferença nos homicídios em relação a outras cidades do ES.

Já foi pior. Chegamos a ter 460 homicídios por ano na década de 2000. Nos últimos três anos a Serra está estável, não diminui e nem aumenta; em torno de 344 homicídios. A participação da Serra nos homicídios é que chama a atenção. Na Grande Vitória corresponde a 40% e 23% do ES. Realmente o índice é alto.

Por que isso e o que fazer para reverter o quadro?

Homicídio não se reduz só prendendo homicida, mas é um fator importante. A Serra precisa ter dois tribunais do Júri e não apenas um. E também mais uma delegacia 24h, hoje só tem a de Laranjeiras. Mas além do aspecto repressivo – preventivo, é preciso uma cultura da paz, incutir na mente das crianças, adolescentes e jovens uma perspectiva de futuro, de crescimento pessoal, com uma política de estado eficiente para isto. Ensino integral, por exemplo. Se a polícia tivesse como reduzir homicídio sozinha já tinha resolvido.

Em maio armas foram roubadas no 6º Batalhão. Como está isso?

Isso está esta sendo investigado. A principal ainda aponta para a participação direta ou indireta de pessoal de dentro do quartel, porém não houve invasão. Eu não poderia falar mais do que isso.
A legalização do consumo de algumas drogas mais leves como a Maconha é uma tendência mundial e está em pauta no país. O que o senhor acha?

Nos lugares mais evoluídos, há mais diálogo entre filhos e pais sobre essa má escolha. Acredito que o Brasil ainda não está preparado para uma legalização geral da droga. Pois não se para na maconha, evolui-se para outros tipos de vício.

Redução da maioridade penal pode ajudar a combater a violência?

Ideologizaram demais esse tema. Nos EUA com 14 anos pode ser preso, porém, você não fica preso com adultos e sim em um reformatório. Para mim, a redução ou não da maioridade penal não é a principal conversa. O que tem para debater é o menor responder pela infração e pelo tempo, aí estou com os EUA. Não sou a favor do menor matar alguém e ficar preso apenas dois anos por exemplo, e sim ficar preso nas condições certas  pelo tempo certo.

A lei de fechamento dos bares na Serra após 01h fez a violência diminuir? 

Houve diminuição do número de pessoas circulando com abuso de álcool, o numero de desordem pública diminuiu. Para violência doméstica e homicídios na madrugada também houve redução.

O corte de gasolina para a polícia no início do governo Hartung foi muito criticado pela sociedade…

Não houve necessariamente corte. A polícia trabalha com um orçamento e no caso da gasolina, o orçamento para 2015 se manteve o mesmo que o do ano anterior. O que aconteceu de diferente foi a inflação, e quatro aumentos sucessivos no preço do combustível. Logo temos que adequar esse orçamento a essa nova realidade de custos.

Gabriel Almeida

Jornalista do Tempo Novo há mais de oito anos, Gabriel Almeida escreve para diversas editorias do jornal. Além disso, assina duas importantes colunas: o Serra Empregos, destinado a divulgação de oportunidades; e o Pronto, Flagrei, que mostra o cotidiano da Serra através das lentes do morador.

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