Anunciadas pela Prefeitura para reduzir a erosão e impedir o avanço do mar em alguns pontos do litoral da Serra, a chamada ‘engorda das praias’ está provocando polêmica num dos balneários onde deve ser aplicada. Trata-se de Jacaraípe, moradores, surfistas e ativistas apontam que a adição de areia para aumentar a faixa de praia vai atingir a vida marinha e prejudicar o surf. Tanto que está sendo feito abaixo assinado e preparado protesto para o próximo domingo (27) contra a obra.
Morador, surfista e ativista ambiental, o geógrafo Pablo Torres é um dos articuladores das ações . De acordo com ele, caso haja a adição de areia no litoral, haverá soterramento dos corais, o que pode afetar a vida marinha do balneário.
“Temos vários motivos para não aceitar essas mudanças. Um deles é o ambiental e, com essa obra, haverá soterramento dos corais que ficam na região. Isso vai afetar em cheio a vida marinha do balneário e também os pescadores. A Serra não precisa de engordamento de areia agora. Temos outras formas de evitar erosões”, explicou Pablo.
O geógrafo ainda disse que o outro motivo para ser contra o aumento das faixas de areia é a prática de surf, esporte muito forte em Jacaraípe. Segundo ele, a ‘engorda’ da praia vai fazer com que as ondas diminuam e, com isso, ficará impossível surfar na região.
“Isso vai acabar com o surf de Jacaraípe. Pessoas de outras cidades vêm para a Serra atrás de ondas altas para praticar o esporte. A partir do momento em que o Município adicionar mais areia na praia, as ondas irão diminuir e ficar mais fracas. Dessa forma, nenhum turista vai querer vir para cá e a economia da região será afetada, pois eles movimentam o comércio”, afirmou.
Outro organizador do abaixo-assinado e da manifestação prevista para acontecer no domingo é Flávio Minotauro. Ele afirmou ao TEMPO NOVO que o objetivo é impedir que a Prefeitura cause danos ambientais nas praias da cidade.
Assim como Pablo, ele afirma que a faixa de areia vai cobrir os corais, e, dessa forma, tartarugas e crustáceos que vivem nesses locais serão afetados. “Além de aterrar os corais e afetar a vida marinha de tartarugas e crustáceos, esse aumento da faixa de areia vai diminuir as ondas da praia, o que afetará quem usa Jacaraípe para surfar”, disse Flávio.
Restinga preservada é solução contra erosão, diz ativista
Flávio disse, ainda, que existem outras formas de impedir erosões nos balneários. “Já foi comprovado que os trabalhos de recuperação da vegetação de restinga tiveram total eficácia e foram suficientes para conter esse processo de erosão e avanço da maré; assim, não teve nenhum impacto sobre o meio ambiente. Esse novo projeto lançado pela Prefeitura, ao contrário do primeiro, terá vários impactos ambientais no que se refere às ondas e, principalmente, à vida marinha local”, destacou.
Manifestação deve acontecer neste final de semana
Os organizadores do abaixo-assinado prometeram uma manifestação para o próximo domingo (27). O ato vai acontecer na Praia do Barrote, às 10h. Qualquer pessoa pode participar da manifestação.
Prefeitura rebate e diz que aumento de faixa de areia é a “opção mais viável”
Em nota enviada à reportagem na última quarta-feira (23), a Prefeitura da Serra disse que a engorda da faixa de areia é a “opção mais viável”. Disse, ainda, que todas as intervenções serão realizadas com base num estudo morfodinâmico feito pelo Município. “Todas as intervenções serão realizadas na faixa de praia, sem qualquer prejuízo para a zona de arrebentação das ondas. Será preservado o alinhamento inicial da praia, o que manterá o padrão de ondas da região”, disse, por meio de nota.
O Município ainda disse que o engordamento da faixa de areia permite a restauração da vegetação nativa de restinga e, também, restabelece a usabilidade da praia. “A opção é mais viável, já que outras obras realizadas diretamente no mar iriam interferir na dinâmica da praia (padrão de ondas e correntes), transferindo o problema de erosão para outras áreas”, explicou.
Leia na íntegra a nota enviada pela Prefeitura da Serra:
“A Prefeitura da Serra, por meio da Secretaria de Meio Ambiente (Semma), realizou um estudo morfodinâmico em todo o litoral para evitar processos erosivos na costa. É importante destacar que todas as intervenções que serão realizadas foram baseadas neste estudo morfodinâmico, considerando as estações do ano, mares e fatores naturais e externos.
Todas as intervenções serão realizadas na faixa de praia, sem qualquer prejuízo para a zona de arrebentação das ondas. Será preservado o alinhamento inicial da praia, o que manterá o padrão de ondas da região.
O engordamento da faixa de areia permite a restauração da vegetação nativa de restinga e ainda restabelece a usabilidade da praia. A opção é mais viável, já que outras obras realizadas diretamente no mar iriam interferir na dinâmica da praia (padrão de ondas e correntes) transferindo o problema de erosão para outras áreas.
É importante lembrar que vamos utilizar jazidas terrestres e não marinhas. Os estudos identificaram grande potencial de acúmulo sedimentar nessas regiões. Assim, os sedimentos retirados para a obra serão gradativamente recompostos pelas condições locais.
Para a definição dos limites de retirada de sedimentos da jazida foram avaliados os históricos de posicionamento da linha de costa, os processos deposicionais/erosivos atuantes e a necessidade de manutenção de uma determinada faixa de areia”.