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Mestre Álvaro
Yuri Scardini é autor do livro 'Serra: a história de uma cidade' e escreve sobre política e economia

Aço e rochas: ‘tarifaço’ de Trump atinge setores bilionários da Serra

Imagem: BRENDAN SMIALOWSKI/AFP

Ainda há muitas incertezas sobre os possíveis impactos do tarifaço anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. De modo geral, especialistas ouvidos pelas principais redes de comunicação no Brasil avaliam que alguns setores podem até se beneficiar. No entanto, a ruptura com o multilateralismo e o descumprimento de compromissos assumidos pela maior economia do mundo são vistos como ameaças sérias às relações econômicas internacionais.

O Brasil ficou entre os países que sofreram a menor alíquota extra de importação, fixada em 10%. Outros grandes exportadores foram bem mais penalizados pela caneta trumpista, como Índia (26%), Japão (24%) e União Europeia (20%). A China foi uma das mais afetadas, com tarifas que podem chegar a 54% sobre determinados produtos.

Ou seja, embora os produtos brasileiros tendam a encarecer, os concorrentes internacionais devem ficar ainda mais caros. Isso pode abrir uma brecha para oportunidades no mercado americano, já que, ao menos num primeiro momento, os Estados Unidos devem continuar importando, devido às limitações de seu próprio mercado interno, pois, embora se fale em reindustrialização nos Estados Unidos, trata-se, evidentemente, de um processo complexo e de longo prazo.

Apesar disso, tudo ainda é muito incerto. O cenário é conturbado e os efeitos práticos das novas tarifas só poderão ser avaliados com o tempo. Por ora, o momento é de cautela.

No que diz respeito à Serra, pelo menos dois produtos estão no centro desse processo de taxação: o aço e as rochas ornamentais. Isso porque o município se destaca como um importante polo exportador para os Estados Unidos, com forte presença nesses dois segmentos. O aço é produzido pela maior empresa instalada na cidade, a ArcelorMittal, e as rochas ornamentais — transformadas em placas de mármore e granito — são beneficiadas na Serra e exportadas, sendo os EUA o principal comprador.

Segundo o relatório de exportações de rochas do Sindirochas, as exportações capixabas do setor totalizaram US$ 1,037 bilhão em 2024, com um volume de 1,54 milhão de toneladas — representando expressivos 82,11% das exportações brasileiras em valor. A Serra respondeu por 30,73% dessa receita e por 19,09% do volume exportado. No cenário nacional, a participação serrana é igualmente expressiva: 25,23% do valor total das exportações brasileiras e 14,32% do volume, consolidando a cidade como o principal polo exportador do Brasil. Na prática, um em cada quatro dólares gerados pelas exportações de rochas ornamentais no Brasil vem da Serra.

Os Estados Unidos seguem como o principal destino das rochas ornamentais capixabas, respondendo por 68,7% das exportações do setor em 2024 (dados de dezembro). Na sequência estão China (11,7%) e Itália (5,1%). Diferentemente do Espírito Santo, estados como Minas Gerais, Ceará e Bahia têm uma participação maior do mercado chinês, reduzindo sua vulnerabilidade em relação aos EUA.

Os produtos de aço têm ainda mais peso econômico. O Espírito Santo exportou US$ 1,8 bilhão em aço em 2024, sendo que 63% desse total — cerca de US$ 1,14 bilhão — teve como destino os Estados Unidos. A esmagadora parte desse volume é atribuída à produção da ArcelorMittal, localizada na Serra. Vale lembrar que o aço brasileiro já havia sido impactado anteriormente, já que, em março, entrou em vigor a cobrança de tarifas de 25% sobre todas as importações de aço e alumínio pelos EUA.

A medida atingiu em cheio o setor siderúrgico de grandes parceiros comerciais dos americanos, como Canadá e México. O Brasil, que é o segundo maior fornecedor de aço para os EUA, já havia sentido os efeitos. Ou seja, as tarifas anunciadas recentemente não se sobrepõem às anteriores, mas reforçam o ambiente de tensão.

Na esfera da Prefeitura da Serra, o sentimento é de cautela e observação, com foco em identificar, eventualmente, algum efeito negativo na arrecadação. Embora a exportação não gere ICMS — principal fonte de receita do município —, há toda uma cadeia econômica indireta que pode ou não ser impactada pelas mudanças no comércio exterior.

Ainda é incerto como os mercados irão se comportar e quais alternativas serão adotadas. Mas é, sim, um período de preocupação, especialmente diante da expectativa de mudanças bruscas nas relações comerciais, o que tende a gerar incertezas — ingrediente clássico para retração de investidores.

A Serra vive um bom momento tanto no setor de rochas, que segue em expansão e aumenta sua importância nacional, quanto no setor de aço. Em 2024, foi feito um dos anúncios mais expressivos das últimas décadas: a implantação de um Laminador de Tiras a Frio (LTF), tecnologia que agregará valor ao aço produzido pela ArcelorMittal em Tubarão, voltado para indústrias de eletrodomésticos, setor automotivo e energia solar. O valor do investimento é estimado em R$ 4 bilhões.

Vale acrescentar que além desses produtos, o Espírito Santo também exporta café não torrado, celulose e óleos brutos de petróleo para diversos países, incluindo os Estados Unidos — embora esses mercados tenham pouca ou nenhuma ligação direta com a cidade da Serra.

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