Por Yuri Scardini
Ao se negar a devolver os recursos dos convênios para o Estado e publicar um vídeo deslegitimando o decreto que determinou a devolução, classificando a medida como de caráter “meramente político”, o prefeito da Serra Audifax Barcelos (Rede) empunhou a espada e partiu para o confronto com o governador do Estado, Renato Casagrande (PSB).
Essa é uma das grandes novidades na política da Serra. Um ato de insurgência de um prefeito contra um governador. Historicamente, sempre houve uma espécie de alinhamento. Alguns podem citar o ano de 2006 quando o ex-prefeito Sérgio Vidigal (PDT) foi candidato ao Anchieta contra o ex-governador Paulo Hartung (sem partido), mas aquele evento ficou mais para uma disputa de compadres.
Audifax tem perfil de ‘partir para cima’ e quando acuado, ele ataca. E é assim que ele vem tratando esse tema dos convênios que deve ser o marco zero do levante político de Audifax contra Casagrande, visando o Palácio Anchieta em 2022. Nos bastidores, aliados do governador tratam Audifax como “o maior opositor ao nosso governo”. Isso não é pouco.
Audifax começou a dar sinais disso ao se afastar politicamente de Casagrande em meados de 2017, e em 2018 ao menos três fatos já desenhavam esse cenário bélico entre o prefeito e governador: 1) a decisão de manter a Rede no palanque de Rose. 2) a aproximação umbilical com o ex-governador Paulo Hartung. 3) o escanteamento do deputado Bruno Lamas (PSB) da sua sucessão na prefeitura.
Neste caso específico dos convênios, Audifax é franco atirador. Além de ser um assunto que gera muito interesse (tem sido um dos temas com mais audiência nos canais de comunicação do Tempo Novo, só para citar) a opinião pública parece estar simpática ao prefeito. Uma forma contemporânea de medir isso é o tamanho das críticas à Casagrande nas redes sociais.
Parece óbvio: um prefeito sozinho brigando contra o todo poderoso governador, “que quer tirar dinheiro da Serra”. Mas objetivamente, apesar de ser um montante de dinheiro expressivo, R$ 24 milhões em convênios, no bojo de um orçamento de R$ 1.7 bilhão, passa despercebido. A curto prazo, Audifax encorpa politicamente com essa insurgência, e se estabelece como polo oposto à Casagrande, e vai com isso liderando uma oposição que tende a crescer no próximos anos.
A longo prazo, é uma briga de Davi contra Golias. Casagrande tem muita condição de retaliar, especialmente na eleição de 2020. Mas assim como na bíblia, mesmo com poucas chances e desacreditado, foi Davi quem levou a briga. Audifax é religioso e na política, é brigão. Talvez esteja ele se inspirando em Davi.