Era apenas mais um dia comum para a professora de Sociologia Fabíola Cerqueira, ao entrar na sala de aula, a profissional não imaginava que passaria por um trauma que a marcaria pelo resto da sua vida, levando a um afastamento das atividades. Durante a aula, ela se viu numa situação desesperadora: um aluno começou a ofendê-la com palavras de baixo calão e chegou a agredi-la fisicamente. Casos como o de Fabíola são corriqueiros nas escolas, mas poucos chegam ao conhecimento público.
O Tempo Novo conversou com alguns professores que alertam que a violência está cada dia mais presente dentro das salas de aulas. Os profissionais da educação que já enfrentam diversos problemas diários, como falta de estrutura e valorização, também estão tendo que lidar com agressões, ameaças e ofensas vinda por parte de alguns alunos.
Fabíola, que leciona para o Ensino Médio, já teve que lidar com duas situações de violência vinda por parte de estudantes, a mais recente foi de um aluno que a empurrou e a agrediu com palavras. “Essas situações nos abalam muito psicologicamente. Não basta todo o descaso do governo e ainda temos que lidar com esses tipos de situação. Foi uma agressão verbal, mas o estudante chegou a encostar em mim, me empurrando. Não machucou fisicamente, mas emocionalmente”, desabafa.
Fabíola teve que se afastar por um período, pois ficou muito abalada emocionalmente com a situação. “Em ambas as situações me senti só. Fui orientada a registrar boletim de ocorrência e a me afastar da escola. Precisei de uma licença médica porque estava emocionalmente abalada”, detalha.
O professor de História, Leonardo Rocha também já teve que lidar com situações de violência. “Essa questão é recorrente e essa é nossa rotina. Eu, por exemplo, já sofri ameaças duas vezes e olha que eu sou um professor de história, gente boa e que os alunos gostam. Mas também a gente não pode ficar deixando a questão da indisciplina tão solta ao ponto de prejudicar os demais alunos. Uma vez, ao confiscar a mochila de um aluno que queria matar aula, ele veio me hostilizando e disse que estava respondendo a dois processos”, conta.
Em outro caso, outro estudante chegou a agredi-lo verbalmente, após Leonardo dizer que não podia utilizar o celular na sala de aula. Quando o jovem que ofendeu o profissional saiu da sala de aula, os outros alunos alertaram o professor sobre o histórico do estudante dizendo que “agora você está ferrado professor”. Leonardo explicou que essa situação, felizmente, se resolveu antes que piorasse. “Conversei com o estudante e depois tudo ficou resolvido”, disse.
Arquivado em 2018, o projeto de lei “Escola Sem Partido” foi novamente apresentando na Câmara dos Deputados este ano. Recheado de polêmica e controversas, o projeto preocupa professores, que afirmam que esse tipo de projeto pode aumentar a violência e criar uma possível perseguição aos profissionais de educação, já que nas redes sociais o projeto ganhou força por uma parte de pessoas que classificam os professores como “doutrinadores”.
Para Fabíola Cerqueira, esse discurso está mais nas redes sociais, mas já pode ser visto dentro das salas de aula. “Nas redes sociais sim, mas ainda não percebi isso chegar até o cotidiano escolar. Ano passado ocorreu uma situação pontual com um estudante. Não me vejo como doutrinadora, aliás, quem diz isso, se passou por uma escola, foi dormindo um sono bem pesado daqueles de roncar e babar”, afirma.
Fabíola ainda diz que existe uma preocupação entre os professores. “No entanto, entre nós, professores, há sempre uma preocupação a respeito do que e do como ensinar, sobretudo, em tempos em que se grava e filma tudo e é exposto de forma fragmentada e descontextualizada nas redes sociais”, disse.
Na Assembleia Legislativa do Espírito Santo, também tramita um projeto parecido. Trata-se do “Escola Sem Doutrinação”. Esse também preocupa os professores do Estado. O projeto foi criticado pelo professor Leonardo Rocha que afirma que esse tipo de pensamento pode trazer mais violência para o ambiente escolar. “Com certeza projetos como o Escola sem Partido e Escola Sem Doutrinação vão trazer conflito para a sala de aula. Nessa sociedade violenta, trazer mais violência para dentro das escolas por causa dessa questão ideológica é um problema, uma tristeza”.
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