Salobra e com cheiro semelhante ao de amônia. Assim tem chegado às casas a água fornecida pela Cesan aos bairros da região da Serra – Sede, de acordo com moradores. A situação estaria acontecendo há mais de um mês e teria se agravado na última semana. A região é atendida por um sistema novo da Cesan, inaugurado no final de 2017, que usa água do rio Reis Magos.
“Como contribuinte e consumidor venho aqui publicamente registrar esta manifestação em relação aos serviços prestados pela Cesan. Nos últimos meses o nível de sal na água tratada está (…) além do tradicionalmente recomendado para consumo humano, alterando a qualidade da mesma e interferindo diretamente no PH da água”, postou na última quinta-feira (27) em sua conta no Facebook o morador da Serra Sede, Welinton Nanall.
Na mesma publicação, Welinton disse que além de salobro, o líquido também está com cheiro semelhante ao de amônia. Afirmou ainda que consumidores da região já acionaram a Cesan pelo número 115, mas que até a data da publicação os problemas não haviam sido sanados.
O morador de outro bairro da região da Sede – Jardim Bela Vista – Edson Reis, confirmou. “Uso filtro de barro e não senti diferença por enquanto, mas tenho vários vizinhos que estão reclamando desde sexta – feira (28) de que a água está salobra. Inclusive o dono de um supermercado do bairro até me procurou pedindo ajuda para denunciar isso”, pontua.
Do bairro Palmeira, também da região da Serra Sede, Gemilson Conceição é outro que notou o fato. Em tom de desabafo, ele publicou um vídeo na última sexta em sua conta no Facebook reclamando do gosto de sal na água da Cesan.
“Cesan, essa água não está servindo nem para cachorro beber, que dirá um ser humano, que dirá uma criança. Está salobra, está ruim. Trata de mexer aí, fazer um tratamento porque não presta. Não vou dar essa água para o meu filho porque ele corre risco de adoecer”, diz Gemerson no vídeo.
Seca e salinização do rio Reis Magos em Putiri
Previsto apenas para 2020, o sistema de captação e tratamento de água do rio Reis Magos foi antecipado em três anos pela Cesan/Governo do ES por conta da superseca que atingiu o Espírito Santo entre 2014 e 2016, que sobrecarregou o principal manancial que abastece a Serra, o rio Santa Maria.
Ao custo de R$ 70 milhões para atender 150 mil pessoas na Serra, o sistema Reis Magos entrou em operação no final de 2017. Porém, em julho de 2016, por sugestão de produtores rurais de Putiri – região onde a Cesan capta o líquido do Reis Magos – a reportagem esteve no local para checar a denúncia de que o rio estava com a água salobra. E de fato, a água do rio estava com esse sabor. Tanto que até parte da vegetação das margens estava morta, o que segundo produtores rurais indicava a presença de sal no rio.
Na ocasião, o então presidente da Associação dos Produtores Rurais da Serra explicou que a água do mar estava invadindo o rio além do normal, chegando até o ponto em que a Cesan pretendia fazer a captação (a obra ainda não estava pronta). Isto porque, devido à longa estiagem, na época o Reis Magos estava com volume muito baixo e perdeu força, permitindo a invasão da cunha salina vinda do mar em Nova Almeida.
Cenário semelhante acontece agora neste fim de inverno/início de primavera de 2019. Tanto que a sede do município de Santa Teresa, abastecida também pelo Reis Magos, está em rodízio no abastecimento de água desde o último dia 21 de setembro. O motivo é a baixa vazão do manancial, que nasce nas montanhas daquela cidade.
Sobre as reclamações dos moradores da Serra Sede, a reportagem acionou a Cesan e a Prefeitura, que mantém serviço de monitoramento da água que chega às torneiras através do programa Vigiágua, seguindo orientação do Ministério da Saúde.
E assim que tiver o posicionamento da Cesan e Prefeitura da Serra, publicará neste espaço.
Atualização
No final da tarde da quarta -feira (02), um dia após a publicação da matéria, a Secretaria de Saúde da Serra disse, por nota, que a Cesan já foi notificada para prestar esclarecimentos. Paralelamente a isso, a equipe do Vigiágua já está realizando análises.
Já a Cesan ainda não havia se manifestado até às 19h da quarta-feira (02).