O prognóstico feito por pesquisadores e ambientalistas à época do rompimento da barragem da Samarco (Vale + BHP Billiton) de que o desastre/crime ambiental teria efeitos prolongados sobre o rio Doce está confirmado. Prova disso é o estudo divulgado pela ONG SOS Mata Atlântica que aponta piora nas condições das águas do rio e seus afluentes quase dois anos após o desastre em Mariana – MG, ocorrido em 05 de novembro de 2015. Igualmente grave é o fato de que o rio Doce segue lançando a sujeira da mineração de ferro no mar no Espírito Santo.
Segundo a assessoria de imprensa da ONG, de 18 pontos do rio monitorados em municípios mineiros e capixabas, 16 tem as águas com qualidade ruim ou péssima. Foram constatadas concentrações elevadas de material em suspensão e metais pesados, como manganês, cobre, alumínio e ferro. Substâncias cuja ingestão pode levar a graves problemas de saúde.
Em todos os 18 pontos a água está imprópria para consumo humano, pesca, irrigação e produção de alimentos. E em sete pontos, não havia sequer vida aquática como peixes, sapos e girinos.
“Nesses locais, o espelho d’água estava repleto de insetos e pernilongos, vetor de graves problemas de saúde pública, como a dengue, zika, chikungunya e febre amarela”, observa Malu Ribeiro, especialista em Água da Fundação SOS Mata Atlântica. A coleta das amostras aconteceu entre os últimos dias 11 e 20 de outubro.
A equipe da Fundação percorreu o rastro da lama por 733 km ao longo de todo o rio Doce, desde os seus formadores – os rios Gualaxo do Norte, Piranga e Carmo em Minas até a foz em Regência, no ES. “A seca extrema e o baixo volume das águas causaram uma concentração dos poluentes, o que fez com que a poluição, apesar de imperceptível a olho nu, esteja em concentração bem maior do que no ano passado”, disse Malu.
Colatina
Apesar das condições ruins, o rio Doce segue sendo a única fonte de abastecimento para a população de Colatina, cidade do noroeste capixaba com
cerca de 120 mil habitantes. A Samarco até construiu duas adutoras, uma no rio Pancas (na margem esquerda do Doce), outra no rio Santa Maria (na margem direita do Doce). Mas os dois afluentes do rio Doce estão sem água por conta da seca extrema que castiga o ES há três anos.
Por isso muitos moradores de Colatina que tem condições econômicas compram água mineral ou buscam o líquido em poços e nascentes distantes do rio Doce para beber e cozinhar. Aos mais pobres, resta usar a água do rio Doce para beber e cozinhar.
Samarco diz que monitora rio e que fez melhorias no abastecimento
Quem respondeu os questionamentos feitos pela reportagem foi a Fundação Renova, criada e mantida pela Samarco para gerir as reparações ambientais e indenizações aos atingidos. Através da assessoria de imprensa a Renova disse que monitora a bacia do rio Doce sob a supervisão dos órgãos ambientais.
Os dados são repassados em tempo real e em relatórios trimestrais a Agência Nacional de Águas (ANA), o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Espírito Santo (IEMA), Agência Estadual de Recursos Hídricos (AGERH), Instituto Mineiro de Gestão de Águas (IGAM) e Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
A Renova disse também que o último relatório feito em setembro o índice de turbidez se manteve, na maioria dos pontos, abaixo do limite legal. E que em Colatina a água está própria para consumo humano, desde que tratada pela concessionária de saneamento que atende a cidade.
A assessoria da Renova citou também as adutoras de água nos rio Santa Maria e Pancas, além de construir poços artesianos e bancar melhorias na estação de tratamento de água de Colatina. E que também está investindo em captação alternativa em Linhares e reformando a estação de tratamento de água em Regência.
No entanto a assessoria da Renova não comentou o problema dos metais pesados citados pela fundação SOS Mata Atlântica.
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