Bruno Lyra
A água que chega às torneiras é transparente, sem cor e sem cheiro. Depois de filtrar ou ferver – essa é a recomendação – a água fornecida pela Cesan pode ser consumida. Mas um estudo feito pela engenheira química e professora da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Sonia Corina Hess, ligou alerta sobre o risco de que mesmo tratado, o líquido que chega às torneiras esteja com metais pesados, hormônios e agrotóxicos em todos os sistemas públicos de abastecimento do país, incluindo os da Cesan que atendem a Serra.
Isto porque, segundo a pesquisadora, as estações de tratamento do país adotam processos antiquados, que seguem protocolos defasados e parâmetros científicos superados, que excluem da lista de produtos tóxicos os contaminantes perigosos que acabam ingeridos pelas pessoas. E quanto maior o avanço da urbanização, da indústria e da agropecuária, sem que haja tratamento de esgoto em quantidade e qualidade, pior o problema.
Sonia coordenou trabalho de coleta e análise na água distribuída à população nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina e Ceará. E encontrou metais pesados como cádmio, chumbo, urânio e alumínio, além do agrotóxico glifosato e derivados. Também achou hormônios sintéticos como 17α-etinilestradiol, levonorgestrel, 17β-estradiol e progesterona, além de substâncias usadas na indústria plástica, como o bisfenol A e o dibutilftalato. Ou seja, todos esses agentes tóxicos passaram pelos processos de tratamento que seguem o protocolo da Portaria 2.914/11 do Ministério da Saúde.
Ainda há outro alerta da pesquisadora. O uso de cloro (para desinfecção) e de sulfato de alumínio (para tirar o barro), aplicados pelas empresas de saneamento, também representam risco à saúde. Em seu trabalho, a professora reúne dados de suas pesquisas e de outros cientistas nacionais e estrangeiros que apontam para a necessidade de priorizar políticas de tratamento de esgoto e adoção de tecnologias mais avançadas no tratamento de água.
Aumento de casos de câncer
Sônia sugere ainda que o aumento da incidência de câncer no país pode ter na água de abastecimento uma das explicações. Na Serra, duas estações de tratamento atendem a população: a de Carapina, que capta no rio Santa Maria, e a de Putiri, que usa água do rio Reis Magos. Ambos os mananciais tem problemas com contaminação por agrotóxico, hormônios de criadouros de animais e esgoto doméstico sem tratamento em trechos anteriores à captação.
Em nota, a Cesan informou que cumpre rigorosamente o que é determinado pela Portaria 2.914/11 do Ministério da Saúde. E que colhe 1,4 mil amostras em 300 pontos de distribuição na Grande Vitória para monitorar a qualidade, adotando o mesmo procedimento nas cidades do interior que atende. Disse ainda que esse controle é feito diariamente em Laboratório acreditado pelo Inmetro e são avaliados aspectos microbiológicos relacionados à saúde pública e aspectos de aceitação do cliente, como coloração e turbidez.
No entanto a empresa não comentou as críticas da professora Sônia Hess quanto à obsolescência dos parâmetros legais dos sistemas de tratamento no país.