Na semana passada, uma reunião a portas fechadas no Palácio Anchieta pode ter sido o pontapé de uma tentativa de união até então improvável. Trata-se de um arranjo tutelado pelo governador Renato Casagrande (PSB) visando lançar o deputado federal Amaro Neto (PRB) para ser candidato a prefeito da Serra. Também estariam na reunião o presidente da Assembleia, Erick Musso (PRB), e Roberto Carneiro (PRB), reconhecido como um dos articuladores políticos mais habilidosos do estado.
O objetivo do governador seria desobstruir a eleição em Vitória para atender ao aliado PPS e encurralar o prefeito da Serra, Audifax Barcelos (Rede), no tabuleiro político-eleitoral.
A informação sobre a reunião vazou ao TEMPO NOVO por meio de uma fonte em off. O jornal buscou confirmar junto a políticos e a outras fontes que possuem trânsito pelos bastidores do Palácio Anchieta e da Assembleia Legislativa. Informações estas que foram confirmados sob a condição de anonimato das fontes e que acrescentaram outros detalhes, como a oferta de “ao menos duas secretarias estaduais” para concretizar a aliança política e que mesmo com a investida de Casagrande, a “reunião teria terminado sem ninguém bater o martelo”.
Vale lembrar que esse trio formado por Amaro, Musso e Roberto Carneiro é remanescente do grupo político do ex-governador Paulo Hartung (sem partido) e vem articulando um novo coletivo político no Espírito Santo no vácuo deixado pelo ex-governador. A estratégia seria se aproximar de políticos fora do polo casagrandista, como o prefeito da Serra, Audifax Barcelos, que tem se reunido com frequência com o trio. Além disso, Musso exerce liderança direta em pelo menos 11 deputados estaduais, os quais têm demonstrado insatisfação crescente com o governador.
Amaro é cotado para ser candidato a prefeito de Vitória em 2020 e representa forte ameaça aos planos de sucessão do atual prefeito, Luciano Rezende (PPS), que tenta viabilizar a candidatura do aliado Fabrício Gandini (PPS), atual deputado estadual. Rezende teria um compromisso firmado com Casagrande para ajudar a eleger Gandini em Vitória, ou mesmo outro nome que pertença ao núcleo da aliança PSB-PPS. Segundo informações, para sacar Amaro da disputa na capital, estaria na mesa para Amaro candidatura majoritária na Serra ou em Vila Velha, com apoio de Casagrande.
Na Serra, que tem forte apelo de eleitorado para Amaro Neto, Casagrande ainda se encarregaria de isolar o prefeito Audifax Barcelos, que há muito já articula uma “subida” política ao Palácio Anchieta e tem se aproximado fortemente de Amaro e Musso visando esse objetivo.
O empecilho para isso seria o deputado licenciado e atual secretário estadual Bruno Lamas (PSB), que pretende ser candidato. A reportagem procurou o secretário, que não respondeu aos questionamentos. Entretanto, pessoas muito próximas a Bruno desacreditam que um arranjo entre Casagrande e Amaro possa fritar a candidatura de Bruno na Serra; mas, ao mesmo tempo, desconhecem a recente reunião entre o governador e o trio do PRB que leva a entender que a articulação do PSB com Amaro estaria rolando à revelia de Bruno.
A reportagem encaminhou perguntas sobre o tema para a assessoria direta do governador, que, curiosamente, negou a existência da reunião. Já Amaro Neto encaminhou nota oficial para a reportagem e, diferente de Casagrande, não negou que tenha havido o encontro; entretanto, furtou-se em se pronunciar sobre o ocorrido: “O deputado federal Amaro Neto preferiu não comentar o assunto. Está focado nas atividades parlamentares em Brasília, sobretudo a discussão da Reforma e agendas da bancada capixaba em favor do Espírito Santo”, disse a nota.