A poluidora Ambiental Serra, que é parceira público-privada da Cesan, está lançando esgoto residencial sem nenhum tipo de tratamento em córrego da cidade, e consequentemente, afetando as praias de Bicanga e Manguinhos – dois importantes balneários. O mais recente crime ambiental foi descoberto, nesta sexta-feira (5), através de denúncia feita à fiscalização do Município em Novo Horizonte. No bairro, toda rede de esgoto de uma rua está caindo diretamente no manancial Guaxindiba, que deságua nas praias.
De acordo com moradores do bairro, a situação ocorre há mais de três anos e a Cesan foi informada diversas vezes sobre o problema. Por conta das denúncias, a Fiscalização Ambiental da Serra foi até o local que fica na rua Canário, em Novo Horizonte, na manhã desta sexta-feira, e confirmou o lançamento irregular, que afirmam ser de responsabilidade da Ambiental Serra.
Em conversa com o TEMPO NOVO, o Auditor Fiscal de Atividades Urbanas de Meio Ambiente, Ronaldo Freire, disse que a empresa será multada pelo crime. “Toda a rede de esgoto está descendo por essa rua e constatamos que é da Ambiental Serra e que está caindo direto no córrego Guaxindiba, que deságua entre Bicanga e Manguinhos. Vamos fazer o auto de infração para a concessionária”, explicou.
O líder comunitário de Novo Horizonte, Emanuel Miranda Neto, afirmou que já fez centenas de denúncias para a Ambiental Serra/Cesan. “Eles sabem, tanto que já vieram aqui diversas vezes e não resolveram nada. Os moradores pagam taxas de esgoto altíssimas para ter esse tipo de tratamento. Fora que esse esgoto que tá sendo lançado sem tratamento vai pra praia, porque este córrego deságua entre Manguinhos e Bicanga e o povo toma banho. Alguém precisa tomar uma providência”, denunciou.
Não é de agora que as praias de Bicanga e Manguinhos recebem milhões de litros de esgoto semanalmente. No entanto, o lançamento ilegal feito pela Ambiental Serra e descoberto pelo Município agrava ainda mais a situação do córrego Guaxindiba – também conhecido como Laranjeiras – e põe em risco a saúde de quem frequenta os balneários.
O manancial, além do esgoto vindo de Novo Horizonte, recebe resíduos com e sem tratamento dos bairros São Diogo, Jardim Limoeiro e Cidade Continental. Na sua bacia há, também, os hospitais Jayme Santos, Dório Silva, além de oficinas e empresas que mexem com equipamentos pesados.
Ainda atravessa brejos situados na região do antigo parque aquático Yahoo. Por lá, a vegetação funciona como filtro para o excesso de sujeira que recebe antes de chegar ali, mas não é capaz de ‘purificar’ a água. Próximo a este ponto que faz parte do Parque Natural Municipal de Bicanga, o riacho recebe também águas da Estação de Tratamento de Manguinhos (ETE), antes de seguir para a praia, onde forma uma pequena lagoa que atrai banhistas.
Lagoa esta que, inclusive, foi palco para uma cena preocupante em fevereiro de 2019. Um grupo de 20 moradores de Nova Carapina passou mal e foi parar na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Serra Sede após tomar banho no Guaxindiba, entre Bicanga e Manguinhos.
A reportagem conversou com Guilherme Lima, que é líder comunitário de Manguinhos – um dos balneários afetados. De acordo com ele, os moradores estão pedindo socorro e o turismo está sendo drasticamente afetado por conta do esgoto que cai na praia. Nas últimas semanas, por exemplo, a areia da praia ficou tomada por espuma, que segundo especialistas é gerada por poluição.
“Nós estamos sofrendo muito com essa situação e pedimos socorro. É esgoto no córrego, jorrando em canos diretos para a praia e muitas pessoas passando mal após ter contato com a água do mar. Além disso, temos as espumas que surgem na areia, que assustam os moradores e afeta o turismo”, disse a liderança.
Guilherme ainda afirmou que se não fosse a Fiscalização da Prefeitura da Serra a situação será ainda pior. “O Município sempre nos atende e se não fosse pela Secretaria de Meio Ambiente seria uma catástrofe”.
Desde 2015, a Ambiental Serra é a responsável pelos serviços de coleta, tratamento e descarte de esgoto na cidade. Mesmo assim, os mananciais da Serra seguem poluídos. Segundo matéria publicada pelo TEMPO NOVO, ao todo, a empresa já recebeu 103 multas por crimes ambientais, que totalizam R$ 12.992.906,00.
Destas multas, a empresa já conseguiu suspender ou cancelar 57 delas, que totalizam R$ 8.835.066,00 a menos. Ao todo, 46 autos estão ativos totalizando R$ 4.087.840,00 a pagar.
A reportagem tentou contato, mais uma vez, com a Cesan – que responde as demandas jornalísticas relacionadas à Ambiental Serra. Entretanto, a empresa geralmente se nega a responder as dúvidas cobradas pelos próprios contribuintes – que pagam 80% a mais na conta de água pelo tratamento do esgoto.
Caso a empresa se manifeste, essa matéria poderá ser atualizada. A Prefeitura da Serra também foi acionada, mas a demanda ainda está no prazo de retorno. Assim que for respondida, a nota será acrescentada neste espaço.
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