O escritor Jean Nay Araújo Faria acaba de lançar seu mais novo conto: ‘Nós’. De Jardim Limoeiro, Jean se inspira em grandes nomes da literatura brasileira para escrever suas poesias e contos.
O poeta serrano possui cem contos escritos e 300 poesias. A inspiração vem de temas fundamentais da vida como o amor e a morte. Ele tem 39 anos e conta que sua vontade de escrever surgiu quando ainda era pequeno.
Confira o conto:
NÓS
“América Latina Herança Bastarda de uma Nação Mercenária”; afinal os impérios que nos vendem os sonhos são os primeiros a também cercá-los, com soldados vindos de além-mar e nos condenam antes mesmo de nascermos, nos julgando inaptos para a nós próprios parir a história tola e crua dos homens do sol poente, filhos do porvir, pois este fardo nós tornamos a levar, tornando-nos nós de nossos anseios, somos nós que estávamos de mãos dadas sobre a colina, onde deuses e generais escreviam sua sina, com a cabeça e os chapéus encharcados de chacina, dessa chuva sangrenta que sempre assola a América Andina.
Ou se nos fazemos Águia ou Abutres ou Condores e seguramos a vil espada com o bico ensangüentado da Esperança, nos condena esta vil lembrança, de que um Pueblo se desfaz esmigalhado e massacrados seus totens de poder, calamos a nós agentes e tecedores de um possível e + dourado amanhecer.
Nós; Nesse telhado de cores germinadas
Nós; Calando nossa potente redenção
Nós; De pé fazendo da perda uma estrada,
embriagados de beleza e maldição; Mensurando o amarelo nos umbrais de um chão em chamas, terror nas Capitais, um entreato, caminho de metal, abre uma brecha com as botas nos trigais. O Ecuador é uma seta derretida de ouro e verde que nos abranda e delimita os sinais.
Mas nossa cabana vai suja em sua entrada, um fardo roto, velha bengala de marechais; que nos abatem sem medo e nos traem; e sem lei também já traz, nós no Equador, uma linha torta, que nosso coração comporta do mundo inteiro um globo azul.
Aqui agora nos fazemos nobres mortais, humano, louco, tolo e tudo capaz, bradando à lua com nossos animais. É que nosso coração já não nos cabe +; Não repare nosso choro, ele é uma linguagem não um caixão.
De um povo miscigenado, profeta, artista, poeta e ladrão. O que queremos é ser de nós mesmos o patrão; sem violar o canto da colheita em vão, dessa luz hexágona que nos banha como grãos; mas se você se acha igual a mim venha + perto se aprochegue meu irmão, que desde a Índia ou perdido nesse mundão, mesmo que o demônio corra como um alazão, não há deserto que contenha o amor ou a dança desesperada da Paixão; E se isso é jeito latino de amar de fazer, chegue + perto e nos abraçando sem remorso façamos do planeta uma só Nação.
Pois a tempestade é nosso crivo de loucura e como a guerra branca se aproxima lenta deformada no clarão de um cinza posto sobre o branco como um “NÃO!!!”; em uma sebe onde celebra uma alegria dançarina, soterrada em Solidão. Cortando os pulsos + quebrando sua prisão; de uma deidade que lava as vestes num frio rio platino, se transborda de serena Escravidão.
Essa mulher dança com o demônio todos os dias e por milênios tem sido por ele abusada, vendida como peça de artilharia, toilet, mesa e alcova de patrão; Mas não se rende e mesmo que fraqueje e olhe para o chão, é porque seus pés cheios estão de cinzas pois dança ela dentro de um vulcão. Revestida de listras, mantas e mantras das amarras sociais convenientes, nos arrebata a toda hora, todo dia nos chama à missão; A mulher, negro do mundo, índio sem nação; Cativos do dinheiro, racional condenação.
E se nos resta das armas um espelho, não façamos da guerra nossa índole imperial. Pois para Nosotros não há separação; Nossas lanças são flores e nossa mercadoria + preciosa é o infinito amor e o eterno perdão.