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Amor e morte inspiram escritor serrano

O escritor Jean Nay está se preparando para lançar seu primeiro livro. Foto: Divulgação

James Joyce, Clarice Lispector e Machado de Assis. Estes grandes nomes da literatura brasileira e mundial são a inspiração do escritor serrano Jean Nay Araújo Faria.

O morador de Jardim Limoeiro possui cem contos escritos e 300 poesias. Segundo o poeta, a inspiração vem de temas fundamentais da vida como o amor e a morte. “Li toda a obra de Machado de Assis, sou fã número um dele e me inspiro em cada palavra escrita por ele para escrever meus contos e poesias. Também observo o comportamento das pessoas no dia a dia para aguçar minhas ideias”.

Jean tem 39 anos e conta que sua vontade de escrever surgiu quando ainda era pequeno. Sua mãe é professora de português e foi por meio dela que veio a vontade de escrever. “Eu li todos os livros da biblioteca dela e foi esta leitura que me inspirou a criar meus textos e inclusive investir na confecção do primeiro trabalho”, declara.

O primeiro livro de Jean já está saindo do forno. Deve ser lançado no próximo mês com recursos próprios. O título é Entropia contará com cinquenta poesias.

Confira abaixo um dos contos de Jean:

O PEREGRINO

Adão da Silva era um cara estranho. Um dia, milionário, vendeu tudo o que tinha para se tornar andarilho. Com apenas uma mochila e umas sandálias velhas, ele trotava por uma estrada rodeada por uma floresta. Então, caminhando, absorto em seus pensamentos, ouviu um som baixo, quase imperceptível, de uma flauta, que vinha direto da floresta. Foi investigar. Adentrou a floresta, que se fechava cada vez mais na medida em que ele entrava; chegou enfim numa clareira e viu um ser de sonhos, panaceico, dotado de pés de bode e dois chifres, em cima de uma pedra.

– Quem é você?

– Pode me chamar de O FLAUTISTA.

Disse Adão:

– Eu me perdi nesta floresta e não sei como sair daqui. O flautista diz:

– Vá para a direita.

E Adão foi e saiu da floresta. Chegou então na base de uma montanha e a escalou; com pesares, com dor, com dificuldade. Chegando no topo da montanha, ouviu um som de piano, no pico nevado. “Como pode alguém viver aqui, nesta desolação e ainda por cima tocar piano”? Viu então o pianista, trajando um casaco antigo e agitando as mãos.

– Oi, quem é você? Pode me dizer como sair daqui?

– Sou O PIANISTA e para sair daqui é só seguir o caminho oposto da montanha, para baixo.

Assim fez Adão, desceu a montanha e se achou numa praia, enorme, deserta, e ouviu um som de saxofone. Viu então um barco a remo ancorado entre as rochas. Nele embarcou e remou até o outro lado, quando chegou lá ouviu melhor os acordes do saxofone e perguntou:

– Quem é você? Como faço para sair daqui?

– Pode me chamar de O SAXOFONISTA e para sair daqui basta seguir a sua esquerda.

Seguiu Adão seu caminho e foi dar num deserto interminável. Lá, com sede e com fome, ele ouviu um som estridente vindo de longe; Caminhou mais um pouco e viu um homem com uma guitarra sob a sombra da única árvore daquele deserto, tocando melodias divinas. Adão se aproximou e perguntou:

– Quem é você? Como faço para sair daqui?

– Sou O GUITARRISTA e para sair daqui basta seguir o sol.

E assim Adão fez, seguiu o sol, depois que o guitarrista lhe deu água e comida. Saiu do deserto e adentrou uma cidade. Chegando lá, na esquina da metrópole, com o barulho dos carros e outros ruídos urbanos, chegou numa esquina. Entrou no metrô, e ouviu um som de bateria, sendo tocada bem alta. Ele se aproxima do baterista e pergunta:

– Quem é você? Como faço para sair daqui?

– Sou O BATERISTA e para sair daqui é só pegar o próximo trem.

E assim fez Adão. Tomou o trem e circulou por toda a cidade e depois, quando estava num descampado, desceu do trem e viu que tudo era pasto. Ouviu um som de sanfona e correu para encontrar o músico, que estava no meio do prado.

– Quem é você? Como faço para sair daqui?

– Sou o SANFONISTA e para sair daqui basta seguir as vacas.

E assim Adão fez, e chegou no fim do prado, quando as vacas deram meia volta e sumiram no caminho inverso. Ele viu uma trepadeira, no formato de uma porta e entrou por ali. Passou de novo então por uma floresta, uma montanha, um mar, um deserto, outra cidade e um prado. Quando já se encontrava cansado e queria desistir da viagem, ouviu um cântico, baixo, sutil e melancólico. Se aproximou e viu uma negra gorda entoando cânticos divinais. Antes que Adão pudesse perguntar, a mulher disse:

– Pode entrar, estávamos esperando por você. Só precisa deixar a mochila e as sandálias do lado de fora. Ele entrou por uma porta feita de flores e olhou em volta. Se assustou com o que viu: Riachos cristalinos, grama macia, árvores frutíferas, animais mansos, até leões e tigres não eram perigo. Havia muitas flores e ele deitou e adormeceu. “Acho que encontrei meu destino”. Ouviu então, não sabia se estava sonhando ou acordado, uma voz baixa e delicada, dizendo:

– Querido filho, esperei muito por você. Mas agora que estais aqui, podes desfrutar de todas as belezas da natureza. E quando quiser espiar lá fora, no mundo, é só olhar para o riacho.

– Quem é você?

– EU aquele que é, o intransponível, o insondável, o mistério profundo, o paradoxo indecifrável, o paroxismo do caos e da ordem, o indivisível, o espírito máximo, o senhor do universo, desde o céu até o hades, a pergunta que não quer calar, o absoluto, o infinito, enfim, eu sou DEUS. Bem vindo de volta ADÃO.

Adão então acordou do sonho e viu que continuava na sua casa, na sua cama, e o melhor: continuava milionário. Daquele momento em diante, vendeu metade de tudo que tinha, e com o dinheiro abriu uma instituição, para cuidar de pessoas carentes. Carentes de saúde, de educação, de segurança, de carinho e afeto, enfim de felicidade. Adão então começou a frequentar uma igreja. Nas paredes da igreja havia muitos quadros. Um de uma floresta, um de uma montanha, de um mar, um de uma cidade e um de um prado. E desde aquele dia Adão foi feliz pelo resto da sua vida.

Ana Paula Bonelli

Moradora da Serra, Ana Paula Bonelli é repórter do Tempo Novo há 25 anos. Atualmente, a jornalista escreve para diversas editorias do portal.

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