O produto químico que deixou roxas as águas do rio São Luiz, afluente do rio Santa Maria, manancial responsável por abastecer a maior parte da Serra, será analisado em laboratório para que se saiba qual é a composição e o risco que provoca à saúde. O resultado deve sair em 15 dias.
A análise foi encomendada pela prefeitura de Santa Maria de Jetibá, cidade onde ocorreu aconteceu o descarte do produto na manhã da última quarta-feira (08). Em nota divulgada à imprensa, a prefeitura de Santa Maria disse que a origem da contaminação foi de uma oficina mecânica.
“O proprietário ao lavar um tambor que originalmente armazenava corante para tingimento de papel, e crivos (pentes de papel para colocação de ovos), descartou essa água com o resto do corante no rolo de drenagem do estabelecimento e esse líquido alcançou o Rio São Luis. O proprietário do estabelecimento compareceu voluntariamente à prefeitura para prestar esclarecimentos. Ele será notificado e multado conforme legislação já que o tambor que ele iria reutilizar não poderia ser reaproveitado. A empresa que doou o tambor para o proprietário também será responsabilizada”, diz a nota.
A Prefeitura, no entanto, não informou o nome do estabelecimento e nem da empresa que teria fornecido o tambor ao mesmo. Também não disse qual valor da multa. Por fim, não adiantou quando sai o resultado da análise. Técnicos ambientais da Prefeitura de Santa Maria não notaram mortandade de peixes ou outros organismos que tiveram contato com o rio.
Sob a condição do anonimato, um morador da região estranhou a versão de que um tambor teria provocado a contaminação. “Se fosse um único tambor de 100 ou 200 litros, a coloração sumiria logo, até porque em função das chuvas dos últimos dias, o São Luiz está com fluxo de água maior. Mas o rio ficou roxo por muito tempo, de 6h às 11h da manhã, o que indica que essa contaminação foi muito maior do que a simples lavagem de um tambor”, diz.
Sobre esse questionamento, a Prefeitura de Santa Maria de Jetibá disse, pela assessoria de imprensa, que fiscais ambientais só encontraram um tambor no estabelecimento, cujo chão estava roxo. A oficina não foi embargada porque a contaminação não se deu por atividade fim do estabelecimento, cuja licença é de responsabilidade do Instituto Estadual de Meio Ambiente (Iema). Segundo a assessoria da prefeitura, o Iema será comunicado do fato.
A assessoria acrescentou que, nesta quinta-feira (09), o São Luiz voltou a ficar com a água clara. Mesmo assim, novas coletas foram feitas. Por fim, disse que não foi constatada alteração no rio Santa Maria da Vitória, onde o São Luiz deságua.
O rio São Luiz atravessa a área urbana da sede de Santa Maria de Jetibá. Dali, a menos de 1km, deságua no rio Santa Maria de Vitória. Por sua vez, o Santa Maria da Vitória abastece parte da Serra – cerca de 350 mil moradores (exceto as regiões da Serra Sede e Civit I, atualmente abastecidos pelo rio Reis Magos), a porção continental de Vitória, Praia Grande em Fundão, e bairros de Cariacica ao longo da Rodovia do Contorno.
O rio Santa Maria da Vitória também é o principal fornecedor de água para o complexo industrial de Tubarão (Vale e ArcelorMittal Tubarão). A captação de água no rio Santa Maria para atender a Grande Vitória fica no distrito do Queimado, na Serra.
Cesan não se manifesta
Questionada se a contaminação no rio São Luiz em Santa Maria de Jetibá poderia afetar a qualidade da água captada no Queimado para atender a Serra e cidades vizinhas, a Cesan não se manifestou.
Outro descarte sinistro no rio Santa Maria da Vitória aconteceu na cidade de Santa Maria de Jetibá. Foi em junho de 2018, quando sangue humano em tubos de vidro de um laboratório foi jogado na represa de Rio Bonito, localizada às margens da rodovia ES 264, que liga Santa Leopoldina a Santa Maria de Jetibá.