Por Bruno Lyra
O que os moradores da Grande Vitória vêm apontando há tempos foi confirmado pelos Indicadores de Desenvolvimento Sustentável do IBGE: o ar da região metropolitana está mais poluído.
O estudo foi publicado nesta sexta (19) e avaliou a variação da concentração de poluentes entre os anos de 2010 e 2011. Foram avaliados os seguintes poluentes: partículas totais em suspensão (PTS); partículas inaláveis (PM10); dióxido de enxofre (SO2); dióxido de nitrogênio (NO2); ozônio (O3); e monóxido de carbono (CO), medidos em microgramas por metro cúbico (mg/m3).
Embora o documento aponte maior presença dessas substâncias, ele ressalta que as concentrações ainda estão dentro dos padrões exigidos pela lei brasileira, que é bem mais frouxa do que os limites estabelecidos pela Organização Mundial de Saúde (OMS) a partir de 2005.
Tanto no ar da Grande Vitória em 2011, segundo o IBGE, a concentração de partículas inaláveis (poeira que pode ser aspirada pelo ser humano) chegou ao pico de 115 μg/m3 (microgramas por metro cúbico). O limite da OMS é de 50 μg/m3. Significa que o ar daqui esteve 230% mais sujo do que recomenda a principal entidade médica do planeta.
Outro poluente que extrapolou o parâmetro da OMS foi o ozônio (O3), onde a concentração máxima medida na Grande Vitória foi 143 μg/m3. O limite da OMS é de 100 μg/m3.
Pó Preto
O problema da poluição do ar na Grande Vitória é tão grave que, pela segunda vez, a Assembleia Legislativa monta uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar responsabilidades (a primeira CPI aconteceu na década de 1990).
O principal alvo são as atividades da Vale e ArcelorMittal Tubarão no Complexo Industrial de Tubarão, localizado na Serra e em Vitória, de onde há décadas se lança o pó preto e gases sobre os bairros da Grande Vitória.
Além dos incômodos e danos patrimoniais, moradores reclamam das doenças respiratórias provocadas ou agravadas pela poluição. Fatos corroborados por médicos e pesquisadores capixabas, como as médicas da Sociedade Capixaba de Pneumologia, Ciléia Martins e Ana Maria Casati; o médico alergista e imunologista José Carlos Perini e o biólogo André Ruschi.
Augusto Ruschi
André é filho do patrono nacional da ecologia, o cientista capixaba Augusto Ruschi, sendo também o principal herdeiro de seu legado. Antes da instalação do Complexo de Tubarão ainda na década de 1970, Augusto alertou as autoridades para o risco de colocar siderúrgicas no local, onde a predominância do vento nordeste jogaria a poluição para as áreas mais habitadas. E foi que o aconteceu.
Na década de 2000 o governo do Estado concedeu licença ambiental para expansão da ArcelorMittal e para a Vale no Complexo de Tubarão.