Por Bruno Lyra
A engenheira civil Denise Cadete Gazinelle assumiu a presidência da Cesan no início de 2015. Ela presidiu a Ceturb na gestão Casagrande, foi gerente no DER, atuou no Sindicato das Empresas do Transcol e na Prefeitura de Vitória. Mineira de Belo Horizonte, Denise está no ES há 25 anos. Nesta entrevista ela fala sobre a situação atual do abastecimento da Serra e os planos para garantir água neste cenário de escassez, além de avaliar a Parceria Público Privada (PPP) para coleta e tratamento de esgoto na Serra.
Passamos por uma seca histórica e agora começou a chover um pouco. Como está a situação de abastecimento da Serra?
Melhorou um pouco em relação a janeiro e fevereiro, mas não está confortável. O rio Santa Maria ainda está abaixo do normal para a época. E vem aí dois meses que tradicionalmente são muito secos, junho e julho. Se não chover nos próximos meses a situação ficará crítica.
Permanece a redução do fornecimento de água ao Complexo de Tubarão (Vale e ArcelorMittal), medida tomada pelo governo no auge da seca?
Quando o rio Santa Maria deu o grito de socorro, as medidas foram mais fortes. A Arcelor saiu de 850 litros por segundo (l/s) para 600 l/s. E hoje deve estar próximo a 570 l/s. A Vale captava por contrato 400l/s, e ficava naquela faixa de 380 l/s, muito próximo do limite permitido. E hoje ela está numa faixa entre 84 e 90 l/s. No caso da Arcelor é água bruta, não tratada.
É possível ArcelorMittal Tubarão e Vale usarem águas das estações de tratamento de esgoto?
Sim. Há um grupo de estudo com a Cesan e técnicos das grandes companhias que estão sendo parceiras, levantando custos. Na prática você tem de fazer toda logística para levar essa água às indústrias, mas não é uma obra tão demorada nem tão complexa. É uma agua que já foi feita análise e serve para fins industriais. Sairá das Estações de Manguinhos e Jardim Camburi.
A barragem da hidrelétrica de Rio Bonito em Santa Maria de Jetibá está reservando água. Ela consegue suprir Serra e zona norte de Vitória por quanto tempo?
Por seis meses com bastante economia e para consumo humano. A previsão é de que com as chuvas que estão caindo agora a situação melhore. Tanto que a usina já voltou a turbinar energia. Em curto prazo a gente tem uma segurança hídrica.
É comum a suspensão do abastecimento da Serra por causa do excesso de barro na água do Santa Maria quando chove….
O problema maior é na bacia do rio Mangaraí, principal afluente do Santa Maria. Quando isso acontece a gente gasta nove horas para normalizar. Estamos tratando a causa apoiando projeto de recuperação do Mangaraí, que inclui e reflorestamento e o cercamento das margens dos córregos para impedir o pisoteamento pelo gado.
Como está o projeto de captação no rio Reis Magos?
Estava previsto para 2020, mas foi antecipado e está em fase de elaboração. A gente acredita que em até um mês seja possível lançar o edital. É um projeto de R$ 80 a R$ 100 milhões. A captação será próxima a Putiri, onde será construída uma Estação de Tratamento. Dali serão 15 km de adutora até o reservatório da Serra em Jardim Limoeiro. É obra para ficar pronta em um ano e meio.
A Serra tem a bacia do rio Jacaraípe com as lagoas Jacuném e Juara. Por que não usá-la?
Avaliações da qualidade da água apontaram uma contaminação muito grande. Para usar essa agua é preciso recuperar a bacia, principalmente a lagoa Jacuném. A gente chegou a estudar o uso dessas águas para as indústrias.
O pó preto na Grande Vitória não faz o cidadão gastar mais água para manter limpa a casa e carro?
Não observamos aumento do consumo por isso. Mas o pó preto é uma coisa triste, minha casa fica sempre suja.
A Grande Vitória terá que ter reservatórios, como São Paulo e Belo Horizonte?
Essa é uma ação necessária, mas de longo prazo. Essa discussão de reservatórios em todo o estado está sendo feita pela Agência Estadual de Recursos Hídricos (Agerh).
Cidades da Grande Vitória deveriam apoiar os municípios que produzem água?
É uma excelente ideia. Mas tem que ter planejamento junto aos comitês de bacias, quando estes estiverem em plena atividade. Essa ajuda também poderia vir por compensações ambientais.
Por que a Parceria Público Privada (PPP) para o serviço de esgoto na Serra?
O Consórcio Serra Ambiental assumiu no início do ano. Esse modelo abre perspectiva de investimentos serem realizados antecipadamente. Hoje 57% da Serra tem rede de esgoto instalada, mas menos da metade dos imóveis, 44%, estão ligados à rede.
Como fazer para identificar quem não está ligado à rede?
A Serra Ambiental identifica e prefeitura multa. A primeira ação neste sentido é em Jardim Carapina, onde hoje metade dos imóveis já estão sendo conectados e o esgoto já está sendo levado. Era um problema sério que a gente tinha e hoje está sendo resolvido.
Há tempos se questiona a qualidade do esgoto tratado na Serra, principalmente nas estações mais antigas do tipo lagoa de estabilização…
Tem todo um cenário sendo estudado pelo Serra Ambiental e eu acho que a gente vai conseguir avançar muito. Até porque o município tem uma área ambiental muito exigente.
Na Serra há uma lei que obriga condomínios instalados depois de 2009 a terem suas próprias estações de tratamento de esgoto. É eficiente?
Esse assunto que você está me trazendo é novidade. Não conhecia essa lei fazendo essa exigência.
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Estamos fazendo muitos investimentos, como o programa Águas e Paisagens que vai investir R$ 1bilhão em saneamento no ES. Precisamos continuar com capacidade para isso. Mas não é uma das tarifas mais caras do Brasil.
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