Mesmo tendo apenas a 42ª população do Brasil com 527 mil moradores (IBGE 2020) a Serra está entre os 10 municípios brasileiros que mais emitem gases do efeito estufa, ou seja, entre aqueles que mais contribuem para piorar o aquecimento global e acelerar as mudanças climáticas.
E o principal motivo é a presença da ArcelorMittal Tubarão em seu território, gigante da siderurgia que produz aço a partir do minério de ferro fornecido pela Vale e que usa em seu processo combustíveis como o carvão mineral, um dos maiores vilões da emissão de carbono no ar.
A conclusão é do Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções dos Gases do Efeito Estufa (SEEG) do Observatório do Clima, que publicou levantamento da emissão de gases estufa entre 2000 e 2018 nos 5.570 municípios brasileiros.
O levantamento foi divulgado na última quinta-feira (04) e trouxe outras curiosidades. Sete dos 10 municípios do topo do ranking estão na Amazônia. Neste caso, além de territórios imensos, esses municípios são campeões de desmatamento, queimadas e criação de gado, o que segundo o Observatório do Clima explica tamanha emissão de carbono.
Já os dois maiores municípios em população do país e que levam o nome do respectivos estados em que são as capitais, São Paulo e Rio de Janeiro, também estão entre os maiores emissores e junto com a Serra e as cidades amazônicas fecham o ranking dos 10.
Os números que colocaram a Serra na 10ª posição do ranking são de 2018, os mais recentes disponíveis pelo SEEG/Observatório do Clima. Naquele ano, o município emitiu 11,5 milhões de toneladas de gases estufa. O que chama a atenção na comparação entre a Serra e as duas maiores cidades do país é a diferença de tamanho da população e o volume de gases emitidos no município serrano.
Por exemplo, o Rio de Janeiro emitiu 11,7 milhões de toneladas de gases estufa em 2018. E tinha uma população de 6,7 milhões de pessoas, o que era 12 vezes maior que a da Serra naquele ano. São Paulo emitiu 17,9 milhões de toneladas de gases estufa, mas a cidade tinha 12,3 milhões de moradores – 23 vezes o número de moradores da Serra.
Em outras palavras, a siderurgia faz a emissão per capita (por pessoa) da Serra ser muito superior ao verificado nas duas maiores cidades do país. Em entrevista à Rádio CBN na última quinta-feira (04), o pesquisador do Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema), Fábio Botacin, reforçou que a presença da Serra no top 10 se dá em função das indústrias de ferro gusa e aço, atividades que acontecem na área da ArcelorMittal Tubarão.
Como isso afeta o morador da cidade
Diferente do pó preto siderúrgico, é difícil mensurar os impactos locais pelas emissões de gases estufa na ArcelorMittal Tubarão, uma vez que esses impactos são de alcance global. Mas o Instituto Nacional de Pesquisas Espacial (INPE) diz que a projeção do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU é de que a temperatura média global que já aumentou cerca de 1oC desde meados do século XIX, deva subir de 1,8o C a 4,0o C até o ano 2100 por conta das emissões de carbono das atividades humanas.
São várias e graves as consequências segundo o INPE e o IPCC: secas e chuvas mais severas, tempestades extremas, ondas de frio e calor cada vez mais fortes, extinção de expécies de plantas e animais, perdas na produção agrícola e pecuária, na pesca. Outro conhecido efeito é o do derretimento das geleiras e aumento do nível do mar, ameaçando a população dos litorais.
A Serra viveu dois episódios de chuvas extremas na última década. A de dezembro de 2013 e a de 31 de outubro de 2014. A cidade também passou uma seca severa, o que gerou falta d’água até mesmo para rodízio em 2015 e 2016. E vários pontos do litoral vêm sofrendo com o avanço do mar, sendo trechos de Marbela, Costabela, Jacaraípe e Manguinhos os mais afetados.
Empresa não se pronuncia
A reportagem procurou a ArcelorMittal Tubarão para saber quais medidas adota para redução de gases estufa ou mesmo de compensação. Mas a empresa não se pronunciou.