Clarice Poltronieri
O ultimo local onde há mata Atlântica, vegetação de brejo e lagoa em área urbana do município de Vila Velha está sendo destruído num ritmo acelerado. Trata-se da Área de Preservação Permanente (APP) da Lagoa Encantada, localizada entre o polo empresarial da rodovia Darly Santos e o bairro Vale Encantado.
Só em fevereiro, o morro do Carcará, que fica na APP, sofreu duas agressões. No dia 27, uma queimada. E no dia 14, desmatamento com uso de trator. As duas ações somadas, impactaram uma área de cerca de 11mil hectares que abrigava diversas espécies ameaçadas.
Membro do Fórum de Desenvolvimento Econômico Social e Ambiental do Grande Vale (Desea),WillermanLúcio, lamenta a situação. Segundo ele o local ainda se recuperava de outros dois desmatamentos, um em 2013 e outro em 2015.
“Nosso grupo e outros dois – o Instituto Ecomares e o Fórum Popular em Defesa de Vila Velha – estávamos monitorando a região e ouvimos barulho de madeira queimando. Chegamos a ver o possível incendiário correndo da área e conseguimos apagar alguns pequenos focos, mas sem equipamento, não deu para fazer muita coisa. Acionamos os bombeiros e esperamos por duas horas, mas não chegaram”, explicou.
O ativista explicou que a área da APP é de extrema importância para a região, não só ambiental, por conta da diversidade de espécies que se refugiam ali, mas pelos problemas de enchentes que são recorrentes em Vila Velha.
“A APP possui 1,2 milhão de m2, mas a área de seu entorno chega a ter 3 milhões de m² de areais e alagados, que em tempos de chuva, ajudam a absorver a água e mantê-la retida na região, evitando maiores alagamentos nos bairros do entorno:Vale Encantado, Jardim do Vale, Santa Clara, Rio Marinho,Jardim Marilândia, Rod.Darly Santos e Rod. Carlos Lindemberg”, explica.
Willerman lembra ainda a presença de espécies raras da fauna e flora. “Temos aqui dois tipos de ipê na lista de risco de extinção, o felpudo e o caixeta. Uma orquídea que só aparece no estado, além do parasita de raízes, planta que chegou a ser considerada extinta na década de 70. O morro do Carcará, que fica dentro da APP é pleiteado para virar unidade de conservação desde a década de 80. E ainda temos berçário de garças, jacarés e a nascente do rio Aribiri”, enumera.
Os desmatamentos recorrentes têm sido denunciados pelos grupos à Polícia Ambiental, ao Ministério Público Estadual e à Prefeitura Municipal de Vila Velha. Segundo Willerman, em 2015, o próprio Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal (Idaf) emitiu uma licença para o desmatamento, que seria ilegal e acabou sendo embargado.
A reportagem entrou em contato com a assessoria da Secretaria de Desenvolvimento Sustentável da Prefeitura de Vila Velha, mas não teve retorno.
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