Artigo de Opinião
O camaleão é reconhecido por mudar de cor para se adaptar ao ambiente. Na política da Serra, quem se parece com esse réptil é o deputado federal Sérgio Vidigal (PDT). O político veterano se adapta a qualquer situação para continuar vivo no tabuleiro do poder.
Vidigal perdeu muita capilaridade eleitoral entre 2014 e 2018, mas, agora, precisa correr atrás para reconquistar o eleitor. Ele faz movimentos difusos e eventualmente confrontantes, mas tudo com um único objetivo: voltar a ser prefeito da Serra.
Vidigal e PT
A relação com o PT explicita bem o jogo de conveniência do deputado. O ex-prefeito e o partido do ex-presidente Lula tem um grande histórico de aliança na Serra. O PT participou de todos os governos vidigalistas à frente da Prefeitura; no entanto, quando a sigla mais precisou de Vidigal, traiu e os descartou como papel higiênico usado.
Foi em 2016, ano em que Vidigal tentou voltar a ser prefeito. Naquele momento, vivia-se o cume do antipetismo, que degringolou para o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Em um discurso acalorado e incoerente com sua própria história, Vidigal foi um dos 367 deputados que deram o voto ‘sim’ para a abertura do processo que foi a porta de entrada para a cassação de Dilma.
Agora, três anos depois, paradoxalmente, o pedetista interferiu pessoalmente na eleição interna do PT da Serra para reeleger seus aliados à frente do diretório municipal e, com isso, manter sua influência no partido visando à eleição de 2020.
Vidigal e Casagrande
Outra parte da história recente remete à eleição de 2018. Vidigal foi um dos maiores aliados durante todo o mandato do ex-governador Paulo Hartung (2014-2018). O PDT desfrutava de uma posição privilegiada no rateio de cargos, e o deputado, inclusive, foi cotado em vários momentos para ser o vice de Hartung na eleição daquele ano.
No entanto, diante da decisão de Hartung em não ser candidato, qual foi a solução encontrada pelo ex-prefeito? Incorporar novamente o camaleão e, convenientemente, pular para o barco do adversário de Hartung: Renato Casagrande (PSB), do qual, curiosamente, também era desafeto do próprio Vidigal.
Casagrande venceria aquela disputa de governador em 1º turno, e como prêmio pessoal para Vidigal, deu a Secretária Estadual de Esportes para o PDT. Todo esse roteiro apresentado não é opinião; trata-se de história documentada.
Vidigal e Bolsonaro
Olhando em perspectiva presente, o ex-prefeito segue a cartilha do passado recente. Quando lhe é conveniente, Vidigal é Bolsonaro, especialmente para se autopromover com pirotecnias. Todavia, quando o assunto não lhe cabe mais, Vidigal é o ‘autêntico’ antibolsonarista.
Para exemplificar: deputado adora sair na foto com os ministros de Bolsonaro, especialmente quando o assunto é Contorno do Mestre Álvaro e Hospital Materno Infantil. Duas obras que têm grande potencial eleitoral e que ele diz ser o idealizador.
Quando o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Freitas, deu a ordem de serviço para o início das obras do Contorno, Vidigal encheu a cidade de outdoor com uma fato ao lado de Tarcísio. Recentemente, fez até audiência pública sobre o tema.
O Hospital Infantil é tratado da mesma forma. Na última segunda-feira (16), o ministro da Saúde, Henrique Mandetta, esteve na Serra e liberou mais R$ 2,8 milhões para compra de equipamento. Vidigal publicou links patrocinados em todas as suas redes sociais puxando o mérito para si. Tudo que tange a essa obra vira pirotecnia na boca do ex-prefeito.
Ocorre que, enquanto ele sai bonito na foto, Vidigal continua no blocão de oposição na Câmara e vota contra o Governo nas matérias mais sensíveis ao mesmo. Foi assim na Reforma da Previdência (que o deputado defendeu até a inconstitucionalidade) e o decreto das armas, só para citar.
É tudo por 2020
O deputado quer ser prefeito de novo; por isso, faz tais movimentos, hora para um lado, hora para outro, dependendo da onde a maré puxar. Ele tem recall, mas devido à alta quilometragem política, tem alta rejeição também. Atualmente, está no arco de aliança do governador Casagrande e luta por poder interno para suplantar uma candidatura do secretário Bruno Lamas (PSB).
O problema do famoso jogo duplo político é que ele é insustentável a longo prazo (guardada algumas exceções), e ainda tem muito jogo pela frente. Até quando o ex-prefeito vai conseguir manter as aparências?
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