“Assumir o cabelo natural é uma forma de resistência”

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Samila (duas fotos da esquerda) e Dhjulia: a transição capilar é também um processo de aceitação da identidade. Foto: Divulgação

Flora Antônia

BigChop, fitagem, no pow e loo pow. Há algum tempo essas palavras vêm sendo ditas nas redes sociais, nossalões, nas lojas de cosméticos. Além de serem estranhas, o que elas possuem em comum? Todas dizem respeito a técnicas e tratamentos utilizados durante a transição capilar, que na prática significa retomar o aspecto original de um cabelo crespo que estava alisado.

E isso é muito mais do que apenas uma opção estética. Trata-se também de aceitação da identidade étnica. É o caso da estudante universitária e moradora de Jardim Carapina.  Samila da Silva Santos, 20 anos.  “Posso dizer que foi a melhor decisão que eu pude tomar. Minha autoestima e confiança passaram por um processo de transição também. Hoje, percebo que assumir o cabelo natural é uma forma de resistência”, salienta.

Samila conta que, desde criança, foi estimulada a ter cabelo liso. ‘’Quando eu era pequena minha mãe passava química no meu cabelo para que ficasse mais fácil de arrumar. Na adolescência, fiquei mais vaidosa. Experimentei tudo quanto é tipo de técnica de alisamento. Carregava sombrinha e óleo para o frizz. Gastava mais de R$ 200 por mês. Quando decidi largar isso e cheguei na escola com o cabelo natural, todos riram. Aquilo me fez mal. Não foi fácil, mas com o tempo fui achando minha identidade”, revela . 

A transição também não foi fácil para a estudante Dhjulia Souza, 18 anos, moradora de Jacaraípe.  ‘’O processo de transição pra mim foi bem longo porque tive que fazer dois. O primeiro foi num salão de química de transformação em cachos. Meu cabelo ficou metade liso e metade cacheado. Fui zoada e só usava cabelo preso.  “A segunda transição, da química de relaxamento dos cachos pro cabelo natural, durou dois anos e foi bem mais tranquilo, porque embora houvesse a diferença de texturas entre os dois cachos, dava para disfarçar melhor” explica.

Foi quando Dhjulia se sentiu mais livre.  “Passei a aceitar em mim tudo o que as pessoas apontavam e diziam que era feio, como o volume do meu cabelo, por exemplo. Empoderamento é a palavra que define a transição, não só para mim, mas para todas as pessoas que fazem. É se libertar, se aceitar como você é’’, define.

A funcionária pública e moradora de Nova Almeida, Helena Margarete do Santos,  45 anos, destaca que o próprio mercado de beleza vem se adequando para atender quem quer ficar com o cabelo natural.

‘’Fiz progressiva pela primeira vez aos 32 anos e assim o mantive por mais dois anos.  Depois busquei salões especializados em cabelos cacheados e crespos, mas não gostei do resultado. Por fim, cortei o cabelo muito curto para tirar aquímica, foi um momento muito sofrido. Agora que o mercado de produtos para cachos está mais desenvolvido, temos mais variedades de creme, está mais fácil de cuidar ‘’, observa.

O bê-a-bá da transição (Box)

 Big Chop: (em tradução livre, grande corte): é o ato de cortar o cabelo, livrando-se dos alisamentos aos poucos ou de uma só vez!

 Fitagem: técnica de finalização que consiste em separar o cabelo em mexas, distribuir o creme de pentear nos fios e ir moldando os cachos.

No pow/Loo pow: técnicas que evitam ou não usam shampoo devido à presença de substâncias que retiram exageradamente óleos naturais do cabelo, que são importantíssimos para os cabelos cacheados e crespos.

 

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Gabriel Almeida

Jornalista há mais de ano anos, Gabriel Almeida é editor-chefe do Portal Tempo Novo. Atua diretamente na produção e curadoria do conteúdo, além de assinar reportagens sobre os principais acontecimentos da cidade da Serra e temas de interesse público estadual.

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