A expectativa de anunciar a reabertura do Pronto Socorro do Hospital Jayme Santos Neves, de porta-aberta 24h, foi frustrada na reunião ocorrida nesta terça-feira (07) na Assembleia Legislativa (Ales). Blindado por deputados aliados, o secretário de saúde do Estado, Miguel Paulo Duarte Neto pediu 45 dias para fazer um estudo; manobra tida por líderes políticos da Serra como uma forma de ganhar tempo e deixar a poeira baixar. Além disso, jogou a responsabilidade para a Prefeitura da Serra.
Lideranças políticas da Serra estiveram em peso na reunião, entre os quais o deputado Alexandre Xambinho, que cobrou e defendeu a reabertura do local; e o governista Pablo Muribeca, que para a surpresa de algumas pessoas não se utilizou da mesma virulência pela qual age nas pautas que tange as UPA’s da Serra.
A presidente da Federação das Associações de Moradores da Serra (Fams), Mara Almeida, disse que a reunião era importante para o movimento popular da Serra. A líder da Fams pediu a reabertura do pronto-socorro (PS) do Jayme e justificou que, além de ser um dos únicos municípios que não possui um PS aberto à população, a Serra é territorialmente grande e possui milhares de habitantes. “A gente sabe que é um município enorme. A Serra tem mais de 500 mil habitantes, é necessário que o pronto-socorro volte a funcionar”, defendeu. É importante ressaltar que a Serra, na verdade possui 550 mil habitantes segundo o Censo do IBGE recém-divulgado pelo Governo Federal, portanto, dando ainda mais ênfase na importância do OS de Jayme de porta-aberta 24h.
Ela solicitou urgência na reabertura da unidade e união para a resolução do empasse. “Nós queremos que o Estado e o município se unam. Não adianta um jogar a culpa no outro, isso não resolve nosso problema”, acrescentou.
O deputado Alexandre Xambinho (PSC) destacou o aumento da procura por atendimento nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) do município após o fechamento do PS do hospital. Inclusive a assessoria de imprensa de Xambinho encaminhou material para a redação do Tempo Novo, na qual Xambinho alega que Pablo Muribeca teria desmerecido a reunião ao classificá-la como “vazia”, já que “não puderam participar os representantes da Prefeitura Municipal da Serra”. Sobre o assunto, Xambinho respondeu a Pablo:
“Nós não dependemos de secretária municipal e nem de prefeito para abrir o Hospital Jayme. Você é deputado eleito e nós somos responsáveis por nossos atos e toda conquista é através de uma grande luta, por isso estamos a várias mãos trabalhando para conquistar a reabertura do Jayme. Essa reunião não caiu por terra por não ter o prefeito e secretária de saúde aqui”, declarou Xambinho.
E finalizou o deputado: “nós precisamos buscar uma solução para o problema de saúde da cidade hoje, porque a população está sofrendo. Não adianta buscar um culpado”.
Já o presidente da Comissão de Saúde da Assembleia, deputado Dr. Bruno Resende (União), ponderou que a reabertura do pronto-socorro deve ser estudada e feita com responsabilidade, pensando na vida e no acesso qualificado à saúde. “Neste cenário, é importante que nós tenhamos a responsabilidade de cada poder, até porque, nós vivemos um modelo tripartite de financiamento da saúde”, lembrou o parlamentar. Entretanto o quê o deputado – que não tem domicílio eleitoral na Serra – não lembrou, é que o PS do Jayme funcionou desde a sua inauguração e nunca se debateu o seu fechamento. Além disso, várias especialidades médicas têm sido oferecidas pela rede municipal da Serra, que são de responsabilidade constitucional do Estado, porém não as cumpre.
Dr. Bruno afirmou ainda que o Jayme é referência em atendimento de média e alta complexidade, e por isso, sobrecarregar seu pronto-socorro é sobrecarregar esse atendimento, mas não apresentou nenhuma proposta para que a Serra seja melhor assistida pela Estado, já que as UPA’s da cidade estão superlotadas, inclusive por moradores de fora da Serra.
Ao final da reunião, o secretário estadual de Saúde, Miguel Paulo Duarte Neto, blindado por deputados aliados do Governo, ressaltou a importância do amplo debate. “Só se constrói Sistema Único de Saúde com o envolvimento dos entes do Sistema Único de Saúde. São eles municipais, estaduais e federais”, pontuou, sem considerar que a estrutura de Saúde da Serra tem carregado a saúde de urgência e emergências nas costas, conforme dados já divulgados pelo Tempo Novo.
Miguel Neto destacou ainda que 70% dos atendimentos que iam para o Jayme anteriormente eram de pacientes de baixa complexidade, que deveriam ser atendidos nas unidades básicas de saúde. Mas não justificou a ausência de atendimento de especialidades medicas na Serra e porque que desde o sua inauguração, o PS do Jayme foi motivo de orgulho para o Governo, assim como se observa em uma gama de publicações de autoria do próprio Governo, e desde o seu fechamento passou a ser uma ‘peso’ para o Estado.
Para estudo e solução da demanda, o secretário de Saúde sugeriu a criação de uma comissão, com representantes do Executivo, Legislativo e munícipes da Serra, para análise de dados e estudo da viabilidade de reabertura do pronto-socorro do hospital. Líderes da Serra entenderam a proposta como uma forma de ganhar tempo e deixar a poeira baixar. A comissão terá um prazo de 45 dias para apresentar os resultados dos estudos. A próxima reunião para debater o assunto será realizada no dia 18 de abril.
Também participaram da reunião o presidente da Câmara de Vereadores da Serra, Saulinho da Academia (Patriota); o subsecretário estadual de Regulação do Acesso em Saúde, Gleikson Barbosa dos Santos; o subsecretário estadual de Atenção à Saúde, José Tadeu Marino; o subsecretário estadual de Contratualização em Saúde, Alexandre Aquino Cunha; e o promotor de Justiça Pablo Drews Bittencourt.