Por Marta Maria Gomes da Costa Silva, pedagoga e moradora de Serra Dourada III
Por Marta Maria Gomes da Costa Silva
Formou-se um burburinho entre as pessoas, alguém havia gritado:
– O trio elétrico chegou! Uma multidão desde cedo já tomava conta das avenidas Salvador e São Paulo. Serra Dourada se enche de alegria e expectativas quando chega o carnaval, homens vestidos de mulheres para fazer jus ao nome do bloco, respeitosamente, “As Moças de Serra Dourada”. Esbaforida a multidão se acotovela, muitos carros de som com seus auto falantes afinados tocando músicas cada um no estilo de seus donos, sempre há adeptos pra tudo. Mas o momento esperado é a folia, conversas desconexas regadas a muita cerveja, há quem diga que nos dias do desfile do “Moças “ é quando se vendem mais cervejas nos bares da redondeza.
Um grito ao longe se escuta:
Chegou! Chegou! Pedro Paulo chegou!
A multidão enlouquece como se fosse um semideus a pisar na avenida e seus súditos a lhe reverenciar, diga-se de passagem, merecido o respeito e admiração a tão ilustre personalidade naquele lugar, afinal há anos que os moradores locais e muitos de outros bairros se divertem com as grandes composições carnavalescas deste grande compositor, escritor, cronista, e puxador oficial dos sambas do bloco mais animado de toda a Serra.
Refugiado em sua casa o ‘PP’ como alguns o chamam, descansa enquanto espera a hora do desfile, se contendo pra não tomar o primeiro “gole” afinal precisa preservar a garganta que naturalmente apresenta uma leve rouquidão.
– Bora Pedrão! Parece o grito de um aflito.
Enquanto isso, a bateria faz o esquenta final, subindo as escadas do trio lá vai ‘PP’ alguns aplausos e acenos olhos brilhando e a emoção dentro do peito. Quando de repente se houve o grito: “Alô comunidade! Alô Nego Velho! Olha o nosso bloco chegando! Arrebenta Serra Dourada!”
O bloco vai desfilando e arrastando a multidão, a cantoria é animada, o povo aprende rápido a letra e melodia, em meio aos trechos da música ouvimos também, – olha o fio! olha o fio! olha o fio! “Já faz parte da música.
Extasiado o bloco chega a dispersão, Pedro com a sensação do dever cumprido e se sentindo realizado.
Porém, com o passar do tempo já não vemos mais por aqui tanta alegria, a decepção tomou conta do compositor, dizem que é dando que se recebe mas o que se recebeu se a sua doação foi tão grande?
Hoje não há carnaval como antes em Serra Dourada …
Outros tempos virão e quem sabe renasça das cinzas o bloco As Moças de Serra Dourada e o povo volta a folia novamente.
Quem sabe um dia!
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