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Capital especulativo e trabalho

No final de 2016 foi publicada uma notícia que revela bem a forma como o capitalismo contemporâneo se apresenta. Bono Vox, líder da banda de rock irlandesa U2, fez investimentos no Facebook (comprou ações em 2009) e estas lhe renderam, em 6 anos, mais do que o dobro do que ele e sua banda ganharam em décadas de trabalho musical. Vale ressaltar que os caras faturam muito alto com seus shows: segundo a revista Forbes, cada noite de trabalho dos irlandeses rendem US$ 10 milhões, ou seja, não estamos falando de qualquer banda…

Os ganhos de capital, em mercados integrados e voláteis apontam para um caminho: a produção de riqueza sem o esforço do trabalho produtivo. No cenário atual se torna bastante atraente apostar em estratégias de aportes financeiros para ganhar com especulação, em detrimento de efetivamente empregar tempo e dedicação na produção de bens e serviços. É claro que isso vale para quem tem muito dinheiro para investir. Para o trabalhador só resta o trabalho.

As consequências desse modelo econômico, como exemplifiquei acima, é estimular a especulação em detrimento da produção de riquezas por intermédio do trabalho produtivo. Contudo, geralmente o trabalhador é comumente diagnosticado como “o” problema do sistema produtivo. Justamente o elo imprescindível na cadeia de produção – sem trabalhadores não haveria produção de bens e serviços, diferentemente do juros compostos cobrados, do qual viveríamos tranquilamente sem – é o mais pressionado por leis e pelo mercado.

Não raro, o trabalhador brasileiro tem sido satanizado injustamente na atual conjuntura. Estudo elaborado em 2013 aponta que um dado modelo de veículo era produzido no Brasil ao custo médio de R$ 75.000,00. O mesmo modelo de automóvel na Alemanha era produzido ao equivalente a aproximadamente R$ 50.000,00. Diante desse dado, apresento duas perguntas: será que a remuneração dos germânicos é menor que a paga aos brasileiros? Será que as leis trabalhistas da Alemanha são menos rígidas que as do Brasil?

É mais fácil culpar os pobres e os trabalhadores, pois estes possuem menos artifícios de defesa. Gostaria de ver o Congresso Nacional ter a coragem de realizar uma revisão na legislação financeira brasileira, a partir de uma conduta contra-hegemônica.

 

Ana Paula Bonelli

Moradora da Serra, Ana Paula Bonelli é repórter do Tempo Novo há 25 anos. Atualmente, a jornalista escreve para diversas editorias do portal.

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