Situado nas proximidades de uma imensa área de preservação ambiental, o condomínio Boulevard Lagoa, na Serra, tem sido alvo de constantes visitas inesperadas de animais silvestres. E isso tem preocupado moradores do residencial. Prova disso é que, nesta semana, a administração emitiu um comunicado de ‘alerta’ sobre a presença de um bicho de porte grande que assustou uma empregada doméstica. Trata-se de uma capivara (Hudrochoerus hydrochaeris), que anda em grupo com mais duas de sua espécie.
Sem querer, o trio de capivaras está causando alvoroço entre residentes do Boulevard e, inclusive, deixando alguns em pânico. No aviso publicado pelo condomínio de luxo, o espaço onde os bichos foram vistos é chamado de ‘setor verde’, devido à mata em seu entorno. Por conta do ocorrido, o Boulevard pede que seus moradores tomem cuidado ao se aproximar desta localidade.
No comunicado, a administração também afirma que sua equipe de segurança está atenta para possíveis rastreamentos dos animais por meio das câmeras de segurança. O trecho que cita a segurança privativa induz que estes agentes poderão tomar medidas para evitar transtornos, mas não são explicadas quais ações seriam tomadas.
Em conversa com moradores do residencial, o TEMPO NOVO recebeu relatos de que este tipo de contato com animais silvestres é comum. Ainda mais por conta do condomínio ficar situado nas margens da Lagoa Jacunem e ter, em todo seu entorno, uma extensa e importante área verde de preservação da Serra.
Um dos populares afirmou que apenas moradores ou funcionários que não são acostumados levam sustos. “Quem mora perto encontra muitos animais por aqui. Já apareceram jacarés, cobras e capivaras. Hoje em dia, eu já tenho costume e são como ‘vizinhas’, mas realmente é um baita susto para quem nunca tinha visto antes”, afirmou.
Outro morador demonstrou preocupação com transmissão de doenças para animais domésticos e seres humanos. “Providências legais e com respeito ao meio ambiente precisam ser tomadas para evitar doenças em nosso meio, principalmente em nossos pets que podem ser alvos de carrapatos com doença grave”, explicou.
Biólogo defende capivaras: “estão no ambiente delas”
A reportagem conversou com o biólogo Cláudio Santiago para entender um pouco mais sobre a aparição destes animais no Boulevard Lagoa. De acordo com ele, as capivaras estão, simplesmente, no ambiente delas. Ele lembrou ainda que nesta região, existem muitas lagoas, que são ambientes naturais do Espírito Santo.
“A especulação imobiliária infelizmente acaba colocando em contato as pessoas e estes animais. Não que seja uma infelicidade este tipo de contato, mas a infelicidade é a capivara ter cerceado a área de vida dela por acomodações humanas, lixo, barulho, luminosidade e oferta de alimentos equivocados, além da falta do alimento original dela. Isso sem contar o descarte de esgoto que ocorre certamente”, salientou o biólogo.
Santiago também disse que não é necessário ter medo das capivaras, mas o melhor é não tentar muito contato. “Elas são animais dóceis e circulam perto das pessoas se não se sentirem ameaçadas. Elas não vão atacar nenhuma pessoa ou outro animal se elas não forem intimidadas. Naturalmente, os animais atacam para se defenderem, em último caso. Mas é raríssimo encontrar, na literatura, uma capivara que atacou uma pessoa sem ser motivada a esta ação.”
E continuou: “a capivara é o maior roedor do mundo, mas é nativa da América do Sul. O tipo de ambiente é aqueles que já sabemos: alagados. Elas preferem passar boa parte da vida na água e nas margens de lagoas e rios”, ressaltou o biólogo.
Risco à saúde humana
Apesar de o animal ser dócil, existe um perigo para a saúde humana e de animais domésticos. Acontece que as capivaras possuem o carrapato-estrela (Amblyomma cajennense) como parasita – que é reservatório da bactéria Rickettsia rickettsii, causadora da febre maculosa. O homem, ao ser picado por um carrapato contaminado, pode desenvolver a doença.
Cláudio Manga alertou para os riscos, mas também destacou a importância e obrigação de respeitar essa espécie de animal.
“Um problema que pode acontecer do contato destes animais com seres humanos é que eles são animais que tem o carrapato estrela como parasita. Eles ajudam na disseminação dos carrapatos por onde elas circulam. E este parasita pode ser um potencial risco a saúde humana por conta da febre maculosa que pode até levar a morte. Fora isso, esses animais, como qualquer outro da fauna brasileira, é protegido e qualquer tipo de contato de agressão ou manejo não autorizado é passível da legislação vigente”, finalizou.
Veja comunicado do Boulevard Lagoa: