A moradora da Serra, Ercília Stanciany é um exemplo de superação e perseverança. Apesar de todas as dificuldades enfrentadas ao longo de sua vida, ela nunca deixou de lado sua paixão pela arte e conseguiu realizar seu sonho de se formar em uma universidade após trabalhar 15 anos como catadora de recicláveis, graduando-se em artes plásticas na Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), aos 47 anos.
Esse amor pela arte começou aos 5 anos de idade, quando ela não tinha acesso a materiais para desenhar e recolhia pequenos pedaços de lápis por onde passava. Quando saía com sua mãe, ficava atenta a procura de tocos para desenhar no papel de pão, que também eram aproveitados nas idas a padaria, isso em meados de 1975.
A artista conta que o pai não a deixou estudar, alegando que isso era coisa “de homem”, mas apesar da falta de incentivo, ela nunca desistiu do seu sonho e após 15 anos trabalhando como catadora e 25 longe da escola, ela voltou a estudar fazendo EJA (supletivo) e logo após o Enem, passando na UFES e vivendo a melhor época de sua vida.
Foi durante suas jornadas como catadora que Ercília encontrou sua inspiração, reaproveitando e valorizando materiais descartados, transformando-os em arte. “Cada objeto descartado tem uma história e tive a sensibilidade para perceber a beleza nessas coisas simples que eram o ‘resto’ de alguém”, disse Ercília.
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Hoje, a artista plástica tem uma vida totalmente diferente: expõe sua arte e história em diversos lugares. Uma de suas exposições é de xilografura (técnica de gravura na qual se utiliza madeira como ‘tela’) feita em pedaços de móveis achados no lixo e nas ruas.
Entre as obras de destaque estão as artes em mosaico, feitas com materiais com recortes de garrafa pet, coladas em antenas parabólicas descartadas. “Gosto de brincar com quem passa pelas minhas exposições, mostro duas obras feitas nas antenas, uma feita com garrafa pet e a outra com ladrilhos, eles não conseguem distinguir com facilidade um do outro, assim consigo passar a mensagem de que para ser arte não precisa ser feito com material caro”.
Como expositora, sua arte já passou por diversos lugares, não somente no Espírito Santo, no Sesc, como no Rio de Janeiro, no museu Bispo do Rosario Arte Contemporânea.
Não bastasse toda essa trajetória de superação, Ercília ainda palestra e mostra que a arte muda vidas. “Já dei oficinas e palestras na Apae, onde juntos, alunos e professoras, montaram artes com ‘restos’ também, utilizando canetinhas velhas, retalhos, botões e tudo o mais que pudesse ser transformado”, revelou a artista.
Outro público atendido pela artista são os assistidos dos Centros Pop’s, local que atende população em situação de rua, onde ela além de transmitir a arte como linguagem para a vida, mostra que cada um pode mudar sua história com muita determinação, esforço e coragem.