Nas últimas semanas, ganhou força nas redes sociais a discussão sobre a presença de agrotóxico nas águas que chegam às torneiras das casas. Isso por conta da liberação do governo federal para mais pesticidas no país. Mas também por conta do levantamento de dados pela Agência Pública e Repórter Brasil, em parceria com a Ong suíça Public Eye, que constataram “coquetel” de 27 venenos agrícolas na água que chega às torneiras de um município em cada quatro no país, em amostras recolhidas entre 2014 e 2017.
Na Serra, a Cesan garante que a água das torneiras está livre de agrotóxicos. Mas a Secretaria de Saúde do município diz que não é bem assim: admite que há traços dessas substâncias; porém, em níveis inferiores ao tolerável por lei.
Em entrevista dada à Rádio Universidade de São Paulo (USP) nesta semana, a pesquisadora da Faculdade de Saúde Pública da instituição, Denise Piccirilo Barbosa, explica que os limites tolerados por lei no Brasil são mais brandos que, por exemplo, da União Europeia.
“É o momento de a gente pressionar por uma legislação mais restritiva. Conforme a União Europeia se mantém mais restritiva, a venda de agrotóxico aumenta no Brasil e Sudeste Asiático, que são regiões mais receptoras. Temos agrotóxicos permitidos aqui que são comprovadamente carcinogênicos, mutagênicos. É uma preocupação. Lembrando que os agrotóxicos são isentos de impostos”, frisa a pesquisadora, que em 2017 concluiu mestrado sobre o tema.
Outra preocupação dos especialistas é o efeito conjunto dessas substâncias na saúde, uma vez que os estudos que avaliam tal impacto consideram a consequência isoladamente de cada veneno. E há dúvidas se as tecnologias usadas nos sistemas de tratamento de água no país são suficientes para remover os agrotóxicos.
Responsável pela captação, tratamento, distribuição e venda do serviço de fornecimento de água para a população da Serra, a Cesan garante que o líquido que chega à casa do morador não tem qualquer traço de agrotóxico, segundo a assessoria de imprensa da empresa.
Apesar de o Ministério da Saúde orientar para que as vigilâncias Estadual e Municipal de Saúde façam o monitoramento dos agrotóxicos na água que vai para a população, na Serra é apenas a própria Cesan quem monitora a água tratada por ela mesma.
A maior parte da cidade é atendida pelo rio Santa Maria da Vitória. Já a região da Serra Sede, desde o final de 2017, passou a ter água fornecida pelo rio Reis Magos. Ambos atravessam áreas agrícolas onde há uso de agrotóxico em lavouras. O rio Santa Maria nasce em Santa Maria de Jetibá, município de intensa produção hortigranjeira – parte dela consumidora de herbicidas, inseticidas e fungicidas.
O Reis Magos nasce em Santa Teresa e Fundão, municípios também de economias agrícolas e onde há propriedades que lançam mão dos agrotóxicos para controle de pragas e aumento da produtividade.
Município aponta presença das substâncias abaixo do limite legal
Diferente da Cesan, que afirmou não ter detectado qualquer traço de agrotóxicos, a Secretaria de Saúde da Serra informou que dados dos últimos cinco anos produzidos e repassados pela própria concessionária apontam a presença das substâncias em níveis abaixo do recomendado.
Mas não informou quais substâncias nem as concentrações. Já a Secretaria Estadual de Saúde diz que monitora a presença de agrotóxico na água de abastecimento dos municípios capixabas desde 2014 por meio do Plano de Monitoramento da Qualidade da Água para Consumo Humano. Mas não o faz na Serra, tarefa exclusivamente da Cesan. A Secretaria Estadual não explicou o porquê disso.
E acrescenta que nos locais onde monitora há traços de venenos agrícolas na água, mas em valores menores do que prevê a lei. Da mesma forma que a Secretaria Municipal de Saúde, a Estadual não detalha as substâncias nem os níveis detectados.
Nem a Cesan e nem os órgãos estadual e municipal explicaram por que os dados sobre a Serra não estão no Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano.
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