Moradores de Praia de Carapebus que não tem acesso à rede de esgoto foram surpreendidos esta semana com a cobrança do serviço na conta de água, que por isto ficou quase 20% mais cara. A denúncia é do líder comunitário, Anderson Muniz.
Segundo Anderson, o problema acontece nas ruas São Pedro, Pio XII e Yukinit Kashima. Nas duas primeiras, o líder comunitário diz que o problema é que algumas casas ficaram abaixo do nível da rede e a ligação dos imóveis não pode ser feita.
“Quando a obra de esgotamento estava sendo feita os moradores perceberam o problema e acionaram a Cesan. Representantes da empresa estiveram no local e disseram que fariam uma rede no fundo do quintal dessas casas para resolver, mas isso não aconteceu. Já na rua Yukinit Kashima há uma pedra que atrapalha a passagem da rede. Os técnicos viram isso quando a obra estava sendo feita, mas não resolveram. Então parte da rua ficou sem a rede coletora”, explica o presidente da Associação de Moradores.
Segundo Anderson, a cobrança que chegou na conta não é uma tarifa prevista pela lei estadual 10495/16, que prevê o pagamento proporcional ao consumo de água para imóveis que tem rede de esgoto disponível mas não fazem a ligação à mesma num prazo de 90 dias. “O problemas é que essas residências não tem rede disponível, então essa cobrança é abusiva”, critica.
Anderson ressaltou que a Cesan está ciente dos problemas. Segundo ele representantes da empresa estiveram em março no bairro. Mas nada aconteceu de lá para cá.
Veja o vídeo da situação feito e editado por Anderson.
Uma das moradoras receberam a cobrança é Lucileide Marques da Silva. Ela reside na rua São Pedro há mais de 25 anos e quando a rede estava sendo construída, notou que ficava acima do nível de sua casa. Logo, não teria como ligar seu esgoto por conta da força da gravidade. “Reclamei quando estavam fazendo a rede. Então prometeram fazer uma outra rede no fundo dos quintais para coletar, mas não fizeram. Agora, eu e meus vizinhos fomos surpreendidos pela cobrança. Não posso pagar por uma coisa que eu não tenho, isso é abusivo”, frisa.
Na conta de Lucileide, a cobrança da tarifa veio no valor de
R$ 6,41. O que representa quase 20% a mais da conta, uma vez que o consumo de água foi equivalente a R$ 32,44. Vizinho de Lucileide, Ailton Anacleto, consumiu os mesmo R$ 32,44 de água. Mas a tarifa do esgoto ficou ainda mais cara, R$ 7,09.
“Eu uso fossa. Mas tem alguns moradores que não usam e como continuam sem acesso a rede, o esgoto é jogado num valão que passa no fundo dos quintais. É isso, tem esgoto a céu aberto no bairro mas a Cesan cobra pelo serviço”, observa Lucileide.
Demora, responsabilidade e defeitos
Não são só apenas as falhas nas coberturas da rede os problemas como o sistema de esgoto em Praia de Carapebus. Segundo o presidente da Associação de Moradores, Anderson Muniz, a obra demorou muito – começou em 2014 e ainda não ficou totalmente pronta, segundo ele. “As bombas elevatórias (que bombeiam para a estação de tratamento) desarmam com frequência e aí o esgoto vai para a rede de drenagem pluvial”, afirma.
Anderson também reclama que não está claro se gestão do esgoto é só de responsabilidade da Cesan ou se é compartilhada com a Ambiental Serra, que desde janeiro de 2015 assumiu o esgotamento da cidade em Parceria Público Privada (PPP) com a própria Cesan.
“Uma vez a Ambiental Serra convidou as lideranças para conhecer a central em que monitoram, em tempo real, o funcionamento das elevatórias. Por que não detectam os problemas nas bombas de Praia de Carapebus, que ficam muito tempo quebradas? A Cesan começou a fazer a obra aqui antes da PPP, hoje nem sabemos se a gestão do esgoto aqui continua só com a Cesan ou é compartilhada com a Ambiental Serra”, desabafa.
Vale lembrar que o esgoto não coletado no bairro vai parar na lagoa de Carapebus. Esta, por sua vez, está dentro da Área de Proteção Ambiental Estadual de Praia Mole.
Risco de transmissão do coronavírus
Além das doenças comprovadamente transmissíveis pela esgoto, as falhas do sistema de Praia de Carapebus aumenta – e muito – a apreensão da comunidade local nesses tempos de pandemia do novo coronavírus. É que pesquisas em outros países tem apontado que o vírus pode ser transmitido pelas fezes e investiga-se o esgoto pode ser foco de transmissão da covid-19. No Rio de Janeiro, pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) já encontraram o vírus no esgoto da cidade de Niterói.
Na Serra, o tema já tem despertado preocupação. Tanto que o deputado com base eleitoral na cidade e pré-candidato a prefeito, Vandinho Leite (PSDB), disse que solicitou à Cesan estudos sobre o risco de contaminação nos rios e lagoas que recebem esgoto doméstico gerido pela empresa.
A reportagem solicitou, ainda na quarta-feira, um posicionamento da Cesan sobre a situação do sistema de esgotamento da Praia de Carapebus, a cobrança da tarifa a moradores sem o serviço e também a respeito do questionamento do deputado referente ao coronavírus. Mas não obteve retorno até o momento de publicação dessa reportagem.
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