Meio Ambiente

Cesan nega que tenha mandado água com produtos cancerígenos para Serra e diz que corrigiu excesso de cloro

Por Bruno Lyra
Escritório de atendimento da Cesan em Parque Residencial Laranjeiras, na Serra. Foto: Divulgação

Em meio a problemas seguidos de abastecimento na Grande Vitória, ganhou repercussão esta semana a informação que a água tratada e distribuída pela Cesan na Serra entre 2018 e 2020 estava com excesso de chumbo e arsênio, metais pesados com alto potencial cancerígeno e também causadores de outros problemas graves de saúde.

O levantamento feito pela agência Repórter Brasil com dados enviados pela própria empresa aos órgãos de saúde – as companhias de saneamentos são obrigadas por lei a fazer isso – também revelou que no mesmo período a água que chegou à torneira dos serranos com excesso de ácidos haloacéticos e trihalometanos, subprodutos do cloro que também podem causar câncer.

Em entrevista ao Jornal Tempo Novo, nesta quinta-feira (10), o gerente operacional da Cesan, André Luiz de Oliveira Lima, admitiu o problema com os derivados de cloro. Mas negou que a água estivesse com chumbo e arsênio acima dos limites legais.

André disse que a empresa já corrigiu o problema do derivado de cloro com adoção de nova tecnologia nas estações de tratamento de água que atendem a cidade. Acrescentou que os ácidos haloacéticos e trihalometanos se formam no contato do cloro com a matéria orgânica que desce dos rios.

O gerente explicou que em período de seca, aumenta a concentração de matéria orgânica nos rios, o que agrava a presença dos subprodutos do cloro quando este é adicionado durante o tratamento da água.

A maior parte da Serra é atendida pelo rio Santa Maria da Vitória. E desde o final de 2017, a região da Sede do município também passou a receber o líquido captado no rio Reis Magos. Andre admitiu que o problema com os ácidos ocorreu em ambos sistemas de tratamento.

Questionado se o aumento da poluição e degradação ambiental dos dois rios tiveram influência no resultado, André disse que sim, uma vez que os ácidos se formam com a interação do cloro adicionado para o tratamento da água com a matéria orgânica presente nela.

Natureza e degradação ambiental

Rio Santa Maria, em 2015, quase sem água para captação da Cesan. Foto: Arquivo Tempo Novo

Matéria orgânica existe naturalmente em qualquer curso d’água. Folhas, galhos, frutos e dejetos de animais da fauna silvestre provocam isso. Mas o nível da matéria orgânica na água sobe expressivamente com os impactos ambientais provocados pelas atividades humanas.

No caso dos rios Santa Maria e Reis Magos, recebem esgoto doméstico tratado ou não de áreas urbanas de Santa Maria de Jetibá, Santa Leropoldina, Santa Teresa e Fundão. Também sofrem com desmatamento, assoreamento, carreamento de fertilizantes usado na agricultura, agrotóxicos, rejeitos de granjas, pastagens, sujeira de rodovias e estradas vicinais.

Velho conhecido dos serranos

O excesso de derivados de cloro na água distribuída pela Cesan na Serra já era conhecido pela cidade. Em fevereiro de 2021, o Tempo Novo noticiou, com exclusividade, que amostras de água referentes ao período entre 2016 e 2020 apresentaram níveis de contaminação acima do permitido. Foi a própria prefeitura da Serra que decidiu tonar pública a situação.

Metais pesados altamente cancerígenos

Já no caso do arsênio e do chumbo, André disse que houve um problema de interpretação dos dados enviados ao Ministério da Saúde. Segundo o gerente nem na água distribuída na Serra, nem na distribuída em outras cidades do ES que a companhia atende, houve níveis de metais pesados acima do que permite a legislação.

ES na vice-liderança da contaminação química do líquido que chega pelas torneiras

O levantamento feito pela agência Repórter Brasil e divulgado na última segunda-feira (07) abrangeu os 20 estados que disponibilizaram os dados entre 2018 e 2020 para o Siságua (Sistema de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano) do Ministério da Saúde. O Espírito Santo ficou em 2º lugar no ranking da contaminação química da água que chega às torneiras, com 27, 51 incorformidades a cada 1000 amostras analisadas. Só perdeu para o estado do Ceará, que chegou à 51,08.

Mas ficou muito à frente da média entre os estados analisados, que foi de 2,06. Chama a atenção ocorrência de contaminação nas águas dos capixabas quando se comparados a dois gigantes da economia nacional, São Paulo e Minas Gerais.

O primeiro, que é altamente industrializado e por isso tem muitas fontes de contaminação química em seu território, só teve 1,7 amostras problemáticas a cada mil analisadas. Já Minas Gerais, que tem boa parte da sua área impactada pela mineração – outra fonte de contaminação química expressiva – registrou 2,49 amostras desconformes.

Maioria dos municípios capixabas 

Canal da Cesan para retirada da água do rio Santa Maria na região do Queimado, zona rural da Serra: mistura da poluição com escassez durante a superseca de 2016 deixou o canal com baixa vazão e proliferação excessiva de gigogas. Foto: Arquivo TN

O Espírito Santo tem 78 municípios. Destes, incluindo a Serra, 46 apresentaram contaminação da água entre 2018 e 2020, segundo o levantamento. E o problema pode ser ainda mais grave, uma vez que 16 municípios não cumpriram a lei e sequer enviaram os dados para o Siságua.

Outras 16 cidades enviaram os dados e não registraram contaminação acima do limite previsto. Vale lembrar que a Cesan – empresa de propriedade do Governo Estadual – atua em 53 municípios capixabas, sendo que nos demais a gestão do sanemanento ou é feito por Serviços Autônomos de Água e Esgoto (SAEE), neste caso autarquias municipais.

E a contaminação apontada no levantamento ocorreu tanto em cidades com a água tratada pela Cesan, quanto SAAE.

Entidades e instituições reagem

Diretor da Ong Juntos SOS ES Ambiental, Eraylton Moreschi, disse que desde que vieram a público os problemas com a água da Cesan na Serra, ainda em 2021, a entidade passou a cobrar dos órgãos de fiscalização do Estado, através da formalização de denúncias, maior rigor para que a empresa adequasse o tratamento.

Eraylton lembra que, em 25 de agosto de 2021, a Associação Nacional das Donas de Casa e Defesa dos Consumidores do Brasil ingressou com Ação Civil Pública contra a Cesan, pedindo que a Justiça obrigue a empresa a melhorar o tratamento de água e indenissasse consumidores afetados pelo consumo do líquido contaminado.

A situação também já havia repercutido na Assembleia Legislativa, com o presidente da Comissão de Saúde e Sanemento, o deputado Hércules da Silveira (MDB), formalizando denúncia em abril de 2021 ao Ministério Público Estadual.

“Veja que esse é um problema antigo, anterior a 2018. E o que a Cesan informa agora, sem comprovação, é de que cessou o fornecimento de águas cancerígenas. Porém o problema continua latente nos consumidores da água fornecida com produtos cancerígenos”, pontua Eraylton.

Redação Jornal Tempo Novo

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