Chuva eleva rio que abastece a Serra e ameaça bairros das baixadas do Mestre Álvaro

O rio Santa Maria da Vitória, responsável pelo abastecimento da Serra, é um dos que mais recebeu volume de água com as recentes chuvas no Espírito Santo. Os municípios próximos às suas cabeceiras — Santa Maria de Jetibá e Santa Leopoldina — estão em alerta devido ao risco de transbordamento, com possibilidade de evacuação das áreas mais vulneráveis. Todo esse volume de água deságua na Serra, já que o curso do rio atravessa a região oeste da cidade e se conecta ao Lameirão, permitindo que a água escoe pelo Canal dos Escravos e atinja as comunidades situadas nas zonas de baixada do Mestre Álvaro.

A situação segue preocupando as autoridades, já que as previsões meteorológicas indicam a continuidade do período chuvoso. Aliás, a Serra foi a cidade capixaba que registrou o maior volume de chuva nas últimas 24 horas. Segundo o Boletim de Acompanhamento Hidrológico mais recente da Agência Estadual de Recursos Hídricos (Agerh), emitido em 7 de janeiro, o rio Santa Maria da Vitória estava com uma vazão de 80 mil litros por segundo. Para efeito de comparação, a vazão de referência para essa época do ano seria de 5.790 litros por segundo.

O Canal dos Escravos, construído no século 19 por negros escravizados das antigas fazendas agrícolas da Serra, foi um canal fluvial criado para interligar as baixadas do Mestre Álvaro ao Lameirão, possibilitando o acesso à baía de Vitória para comercialização da produção agrícola. No entanto, com o processo de ocupação urbana desenfreada da Serra após 1960, muitas habitações irregulares foram erguidas próximas ao canal, posteriormente formando bairros independentes como Cantinho do Céu, as partes baixas de José de Anchieta e Jardim Tropical, além de Central Carapina.

Atualmente, toda essa região possui suas galerias pluviais conectadas ao Canal dos Escravos. Contudo, com a cheia do rio Santa Maria, a água do rio alimenta o canal, aumentando o risco de alagamentos que podem atingir esses bairros caso as chuvas se intensifiquem. De acordo com informações da Prefeitura da Serra, até o momento foram registrados alagamentos de baixo impacto, e a água tem sido drenada para as áreas de turfa, infiltrando-se no lençol freático. Entretanto, essas áreas funcionam como uma espécie de ‘esponja’ e, se atingirem sua capacidade máxima, não conseguem absorver o excedente, fazendo com que a água avance para as residências.

Segundo o secretário de Serviços, Enivaldo Dias, a Prefeitura está acompanhando a situação e realizando a limpeza do Canal dos Escravos e das galerias para permitir que a água escoe adequadamente. Foram observados pequenos alagamentos, que recuaram assim que as chuvas diminuíram de intensidade. De maneira geral, a Serra tem enfrentado menos problemas nesse período do que cidades vizinhas. Contudo, o aumento da vazão do rio Santa Maria e sua penetração pelo Canal dos Escravos são pontos de atenção que estão sendo monitorados pelo município.

A Bacia Hidrográfica do Rio Santa Maria da Vitória está localizada na região central do Estado do Espírito Santo, com uma área de drenagem de aproximadamente 1.876 km². Ela abrange cinco municípios capixabas: Santa Maria de Jetibá, além de partes dos municípios de Cariacica, Santa Leopoldina, Serra e Vitória. Juntamente com o Rio Jucu, o Santa Maria é o principal manancial utilizado para o abastecimento da Região Metropolitana da Grande Vitória (RMGV) e de alguns municípios da região serrana do Estado.

Além das cheias, é esperado um período de dificuldade no abastecimento, pois as chuvas transportam grande quantidade de sedimentos para o rio, dificultando o processo de tratamento da água realizado pela Cesan.