ANA BOTTALLO
Uma disputa científica de mais de 40 anos foi encerrada por pesquisadores da Unesp (Universidade Estadual Paulista) campus do Litoral Paulista (São Vicente) no último ano. A descoberta é que, sim, os brasileiros têm uma espécie de corrupto para chamar de seu.
Conhecidos pela alcunha nada elogiosa, os camarões-fantasma (Callichirus major), popularmente chamados no Brasil de corruptos, são um grupo de crustáceos da mesma ordem que os camarões e que se enterram na areia, sendo indicadores da qualidade das praias.
Só que por anos as pesquisas com o grupo acreditavam que existia uma única espécie do invertebrado encontrado das praias da América do Norte (na Flórida) até a América do Sul.
A hipótese de que o corrupto das praias brasileiras constituía uma espécie diferente já havia sido levantada pelo biólogo e professor da USP Sergio de Almeida Rodrigues, mas foi só agora, com uso de técnicas mais modernas de identificação, que o veredito foi dado: Callichirus corruptus, o corrupto do Brasil, é distinto do encontrado no hemisfério Norte. E, considerando ainda a diversidade das populações no litoral brasileiro, é possível que pelo menos quatro espécies distintas ocorram por aqui.
O achado foi publicado na revista científica Journal of Natural History e foi parte da pesquisa de pós-doutorado do biólogo chileno Patrício Hernáez, coordenada pelo professor Marcelo Pinheiro, do Grupo de Pesquisa em Biologia de Crustáceos do Instituto de Biociências da Unesp do Litoral Paulista. Outros dois alunos do laboratório, Marcel Miranda e Juliana Rio, participaram do estudo.
Para avaliar se a espécie de corrupto presente nas areias do litoral brasileiro difere daquela encontrada no continente norte-americano, os cientistas coletaram 1.166 indivíduos de Callichirus de 61 praias de Norte a Sul do Brasil entre 2015 e 2018.
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Os pesquisadores compararam características morfológicas na estrutura conhecida como pedúnculo ocular (onde fica o olho do crustáceo) e na pinça dos machos (chamada quelípodo) com a de indivíduos coletados em outras praias ao longo do estado da Flórida, nos EUA, do Caribe e do Golfo do México.
A comparação identificou diferenças importantes entre a espécie brasileira e C. major, que ocorre na América do Norte e Caribe.
Além disso, análise do material genético das espécies do gênero Callichirus apontou ainda a presença de outros três grupos distintos no Brasil, ainda não nomeados, que podem indicar possíveis novas espécies. Até o momento, C. corruptus habita as praias desde o Pará (Praia do Crispim) até Balneário Camboriú, em Santa Catarina.
Para Patrício Hernáez, o achado é importante para delinear planos de manejo e conservação do animal.
“A espécie C. corruptus é considerada chave nos ecossistemas de praias de grande parte da costa do Brasil. A identificação de uma nova espécie nas populações de corruptos pode ajudar na proposta de planos e de manejo dos ecossistemas costais brasileiros”, afirma.
Os corruptos, apesar de serem animais com uma distribuição cosmopolita, têm maior concentração em praias mais urbanizadas do que em áreas consideradas “pristinas”, explica Hernáez.
Como eles possuem um hábito escavador, revolvendo os sedimentos marinhos, ajudam na recomposição da matéria orgânica nas praias e na reciclagem de nutrientes. Mas enquanto a poluição não parece impactar negativamente a presença deles em diversas praias do Brasil, a diminuição das faixas de areia e a perturbação dos ambientes costais podem prejudicar outros animais e trazer desequilíbrio.
“Esta espécie se concentra mais em faixas de areia poluídas por matéria orgânica que em praias de areias não contaminadas por matéria fecal. Essa seria a razão pela qual vimos que C. corruptus formava populações mais densas em praias urbanizadas, como Balneário Camboriú e Santos, do que em praias não urbanizadas”, explica.
Mas por que no Brasil o camarão-fantasma é chamado de corrupto?
Os camarões-fantasma são muito utilizados como isca para pesca e vivem em galerias na areia. Para conseguir “caçar” esses crustáceos, os pescadores utilizam tubos de PVC com uma bomba manual acoplada para fazer a sucção do animal na areia.
Durante a ditadura militar, o apelido ficou popular com a ideia de que, assim como a corrupção acontecia amplamente, mas era mantida em segredo, também os “corruptos” estavam presentes em grande quantidade nas praias, mas viviam escondidos na areia.
Como é difícil capturar os corruptos, sejam eles crustáceos ou humanos, a alcunha pegou e o nome “corrupto de praia” passou a ser utilizado para definir o grupo.
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