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Mestre Álvaro
Yuri Scardini é autor do livro 'Serra: a história de uma cidade' e escreve sobre política e economia

Com os gargalos da Grande Vitória, não é hora de reviver o antigo projeto do Porto da Serra?

Porto Grande Vitória
Área sugerida para implantação de um porto na Serra, conforme consta no Plano de Desenvolvimento do Município da Serra, publicado em 2014. Crédito: Google Earth.

A Grande Vitória enfrenta um problema antigo que se intensificou: os gargalos portuários. As limitações do Porto de Vitória são bem conhecidas e foram, em parte, minimizadas após sua privatização e transferência para a administração da concessionária Vports. No entanto, os entraves logísticos ainda são enormes, especialmente considerando o potencial do Espírito Santo como porta de entrada e saída para o Brasil. Essa situação piorou com o aumento vertiginoso da importação de carros elétricos que impactou diversos outros segmentos.

Recentemente, uma carta assinada por duas poderosas entidades: o Centro do Comércio de Café de Vitória (CCCV) e o Centrorochas (Centro Brasileiro dos Exportadores de Rochas Ornamentais) causou forte repercussão. A carta destacou problemas como filas de navios, escassez de contêineres, dificuldade no controle dos gates, ineficiência nos sistemas de atendimento ao consumidor dos terminais portuários, e falta de espaço para movimentação de carga, entre outros pontos que aumentam os custos e diminuem a competitividade.

Essas reclamações afetam diretamente a Serra, onde o setor de Rochas Ornamentais é estratégico. Dados de 2023 do relatório de exportações de rochas do Sindirochas confirmam essa importância. O Espírito Santo lidera com folga, sendo responsável por 82,24% do valor total exportado no país. Desse montante, a Serra é a líder, responsável por 30% do total do Espírito Santo, o que equivale a 1,33 bilhão de reais. Embora a extração das rochas não ocorra na Serra, é no município que parte expressiva do beneficiamento é realizada e de onde as rochas saem para serem exportadas.

É evidente que o Porto de Vitória não apenas pode, mas deve sofrer melhorias, considerando os anos de sucateamento impostos pelo poder público durante a administração da Codesa, o que resultou em um descompasso nas suas estruturas frente as oportunidades para o estado. Contudo, mesmo com esses investimentos (se acontecerem), a capacidade do porto de atender à vocação capixaba para o comércio exterior é limitada, devido aos entraves geográficos que impedem sua expansão. A baía de Vitória continuará sendo um obstáculo para o trânsito de navios de grande porte, independentemente dos investimentos realizados.

Existem outros projetos em andamento no Espírito Santo, especialmente em Aracruz. Ainda assim, o estado está se destacando no Brasil e no mundo como porta de entrada e saída. O ES é um estado organizado, com estabilidade jurídica, administrativa e política, diferentemente do Rio de Janeiro, por exemplo. Além disso, está estrategicamente posicionado. Esses fatores serão ainda mais relevantes após a implantação da Reforma Tributária, que acabará com a guerra de benefícios fiscais e, em tese, horizontalizará a competitividade. Há espaço para debater a criação de outro porto na Grande Vitória, dado o futuro promissor que está se desenhando.

Nesse contexto, a Serra pode reconsiderar o antigo projeto do porto na região sul da cidade. Trata-se de um projeto apresentado há dez anos no Plano de Desenvolvimento do Município da Serra, que já previa um déficit portuário na Grande Vitória e propôs a criação de um porto offshore na região de Praia de Carapebus, com uma retroárea de 130 mil m², adaptável às demandas atuais e futuras. Na época, o investimento previsto era de R$ 300 milhões, valor que hoje está desatualizado.

O terminal portuário estaria próximo ao Porto de Tubarão, cujas operações atendem à ArcelorMittal. Devido a essa proximidade, foi proposto também que o Terminal de Produtos Siderúrgicos (TPS) operado pela Arcelor fosse adaptado para um porto de contêineres e cargas, atualmente o maior gargalo do Espírito Santo. Este serviço só existe no limitado Porto de Vitória, que abriga o único terminal de contêineres do estado, o Terminal de Vila Velha. Portanto, não se trata de soluções “fora da caixinha”; há projetos de pelo menos 10 anos que visam diminuir as tensões portuárias na Grande Vitória, recolocando a Serra na rota do desenvolvimento portuário capixaba.

É um projeto que poderia, inclusive, ter sinergia com a terceira estrada ligando a Serra a Vitória, que passará exatamente por essa região e pretende interligar o litoral sul da Serra com a zona norte de Vitória. Este novo viário é um projeto estratégico e está avançando burocraticamente, sendo realizado com recursos oriundos da primeira operação internacional de crédito da história da Prefeitura da Serra. É um projeto que mais hora, ou menos hora, vai sair do papel, pois a necessidade de interligar Serra e Vitória por um terceiro viário é mais do que necessária.

Agora, no que diz respeito a este assunto do Porto da Serra, precisa ser tratado com estratégia pelo poder municipal, dada sua complexidade. No entanto, há uma oportunidade, considerando a real demanda por uma solução como essa. Politicamente, trata-se de uma articulação nacional, mas precisa ser discutida primeiramente no âmbito local, uma vez que o cenário há 10 anos era diferente. Grandes projetos saem do papel dessa forma; um exemplo é o Contorno do Mestre Álvaro, que começou a ser debatido há 30 anos e precisou de diversas colaborações para ser concretizado.

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