Por Bruno Lyra
Tão emblemática quanto às manifestações que tomaram as ruas do país entre 2013 e 2016 e que culminaram com o impeachment da então presidente Dilma Rousseff (PT) é a ausência de protestos populares contra o governo Michel Temer (PMDB).
Temer é ainda mais rejeitado pela população do que Dilma. O peemedebista é o primeiro presidente da história do país a ter contra si a abertura de processo por crime de corrupção durante o exercício do mandato. Há até uma segunda denúncia em curso contra Temer e seus aliados mais próximos são investigados na Lava Jato, alguns deles já estão presos como Eduardo Cunha, Rodrigo Rocha Loures e Geddel Vieira Lima.
E mais: o governo vem aumentando impostos, inclusive o da ‘sagrada’ gasolina, cortando radicalmente os programas sociais, mexendo em direitos trabalhistas. Medidas para lá de impopulares. Mas o que explica tamanho silêncio das ruas?
O medo da violência policial é um deles, aponta o cientista social da UFMG, Dawisson Lopes. A crença de que se manifestar muda pouca coisa seria outra razão, apontada pelo cientista social da UFRJ, Paulo Baía. Existe também a tese de que novos protestos podem piorar ainda mais a situação, haja vista que as manifestações anteriores redundaram numa troca de governo que prejudicou a parcela mais pobre da população, como defende o professor da USP, Cícero Romão.
Ele ainda acrescenta que a classe média, motor de várias das manifestações de 2013 para cá, tende a ser muito mais intolerante com o PT. O fato é que uma onda conservadora varre não só o país, mas o mundo neste momento. Da mesma forma, o recrudescimento da polarização ideológica na sociedade dificulta diálogos e agendas comuns.
Nem mesmo temas tão escancarados como o da Eco 101, que se recusa a cumprir contrato para a duplicação da BR mas sem abrir mão do pedágio, foi capaz de produzir manifestações. Por hora, protestos só na internet.