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Comunidades não querem rejeito da Vale na Serra

 

Os líderes comunitários Silvério Santos, João Duarte e Fábio Junior questionam o porque dos moradores não estarem sendo ouvidos e temem os problemas ambientais. Foto: Bruno Lyra

Bruno Lyra

A possibilidade da vinda para a Serra dos rejeitos de minério que a Vale vai tirar da praia de Camburi está provocando reações no município. É que a deposição dos 36 mil m3 de minério misturado à areia e sal pode acontecer aos pés do Mestre Álvaro, numa pedreira desativada licenciada recentemente pelo Estado para receber resíduos.

O local fica ao lado dos bairros Pitanga e Nova Carapina I, além de estar próximo a Barro Branco e Cidade Pomar. Moradores estão indignados por não terem sido informados e não querem a presença de rejeitos da Vale na região.

“A pedreira fica perto da nascente do valão (Canal dos Escravos) que passa em Pitanga. E se esse negócio vazar igual aconteceu em Mariana? Nossa comunidade não foi comunicada disso. Isso é dentro do município, não entendo como a Secretaria de Meio Ambiente da Serra (Semma) libera isso”, critica o presidente da associação de moradores de Pitanga, Luiz Henrique Ribeiro, o Zica.

Também representante comunitário de Pitanga, João Duarte Fernandes, é outro revoltado. “Tudo que é de ruim vem para o nosso município. Por que não leva para outro lugar? Não somos lixão de Vitória”, dispara.   A mesma opinião tem o líder comunitário do bairro Mestre Álvaro, Silvério Santos. “Não precisamos de mais problemas ambientais. Ainda mais vindo de uma situação que deveria ser assumida por Vitória”, frisa.                   

“A comunidade deveria ser consultada antes. É claro que isso vai trazer um impacto ambiental negativo. Não vai trazer emprego, lazer, cultura. Somos contra”, enfatiza Fábio Júnior da Silva Santos, coordenador da Assembleia Municipal do Orçamento (AMO) e da Federação das Associações de Moradores da Serra (FAMS) para a região Civit B. Esta abrange os bairros Nova Carapina I (onde Fábio reside) e II, Pitanga, Mestre Álvaro, Bairro Branco, Cidade Pomar e Monte Verde.

Diretor de Meio Ambiente da FAMS, Rubens Pereira de Souza – o Rubinho, diz que a entidade irá debater o assunto, mas adiantou ser contrário a deposição do resíduo ao lado da Área de Proteção Ambiental (Apa) do Mestre Álvaro e próximo a bairros. “Vai prejudicar a saúde da população e a natureza. Vamos nos unir para impedir isso”, avisa.   

Vitória ganhará dois parques da mineradora

A retira do minério que a Vale lançou no final de Camburi desde o início de sua operação em Tubarão foi acordada em um Termo de Compromisso Ambiental (TCA) assinado em 2017 junto aos ministérios públicos Estadual e Federal, Prefeitura de Vitória e Iema.

Nem Vale nem Iema confirmam que a sujeira virá para a Serra, mas empresários do ramo de deposição de resíduos industriais se movimentam para trazer o material para a região entre Nova Carapina e Pitanga. Fato que foi admitido, meses atrás, pelo subsecretário de Meio Ambiente da Serra, Ronaldo Freire.

Nas últimas semanas a Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semma) tem se esquivado do assunto. Através da assessoria de imprensa, diz que o licenciamento é de Iema e que não pretende participar do processo.

A Vale diz que entregou o projeto de retirada do minério ao Iema e que aguarda parecer do órgão, sem dar qualquer outra informação. Já o Iema, através da assessoria de imprensa, afirma que a Vale não definiu onde o material será jogado, mas que deverá ser em área licenciada na Grande Vitória.

A empresa Marca Ambiental conseguiu uma licença do próprio Iema para aterro de produtos dessa característica (material inerte) em 31 de outubro de 2017. A área é entre Pitanga e Nova Carapina, mas o representante da Marca, Harley Ribeiro, não confirma. 

Segundo o próprio Iema, os 36 mil m3 a serem removido vão gerar 1.118 viagens de caçamba longa (com três eixos) entre a praia e o ponto de deposição. Serão cinco viagens por dia. Nesse ritmo, o serviço deve demorar pelo menos sete meses. Na Praia de Vitória a Vale fará um parque ambiental e outro de lazer. 

 

     

Ana Paula Bonelli

Moradora da Serra, Ana Paula Bonelli é repórter do Tempo Novo há 25 anos. Atualmente, a jornalista escreve para diversas editorias do portal.

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