Ayanne Karoline
Após o boom imobiliário, principalmente pelo lançamento do programa Minha Casa, Minha Vida, um cenário de estagnação pairou sobre a Serra. E a região que mais recebeu lançamentos, localizada no eixo Laranjeiras – Manguinhos, é também uma das mais atingidas pela estagnação.
Até abril do ano passado, data da pesquisa mais recente realizada pelo Sindicato da Indústria da Construção Civil do ES (Sinduscon-ES), a Serra apresentava apenas um lançamento residencial, sendo 288 novas unidades.
Segundo o gerente de negócios da imobiliária Betha Espaço Serra, Alfredo Odillon, a busca por compra de apartamentos caiu muito, principalmente por imóveis de médio e alto padrão. Na Serra, esse perfil está na faixa de preço de R$ 350 mil. “Tivemos uma queda de 30% na procura por imóveis, especialmente em Manguinhos e regiões de Laranjeiras, como Colina e Morada”, disse.
Por outro lado, Alfredo enxerga a recuperação do setor nos condomínios horizontais e loteamentos. Ele cita como exemplo o condomínio Cidade Verde, na região da Serra-sede. Lançado em janeiro deste ano, ele já conta com 40% das unidades vendidas. “Houve grande procura, principalmente pelo fato de não precisar fazer financiamento bancário e comprovar renda. A demanda por este perfil tem aumentado muito”, revela. Para o consultor imobiliário Evans Edelstein, o momento atual é dos nichos de loteamento e condomínios horizontais (casas). Ele explica que a cidade conta com áreas amplas e, mais do que outros municípios da Grande Vitória, atrai esse tipo de empreendimento.
Já o presidente da Associação das Empresas do Mercado Imobiliário do Estado do Espírito Santo (Ademi-ES), Sandro Carlesso, diz que mesmo com dificuldades, o momento atual do mercado na Serra é melhor do que os demais municípios da Grande Vitória. “A cidade conta com 75% de suas unidades em construção vendidas. Hoje, a atual demanda tem sido atendida com os estoques do mercado e com alguns lançamentos pontuais de projetos diferenciados nas regiões de Laranjeiras e Manguinhos”, pontua.
Devolução por falta de pagamento
Sem condições de arcar com a dívida, muitos consumidores serranos estão devolvendo os imóveis financiados às construtoras e bancos.
Os juros estão entre os vilões. “Quem comprou imóvel na planta, por exemplo, conta com uma correção no saldo devedor em torno de 12% ao ano. Ao final de três anos, a correção ultrapassa 30% e o comprador não consegue pagar”, explica o consultor imobiliário Evans Edelstein.
Na Serra, acrescenta Evans, o boom imobiliário levou muitas pessoas a comprar apartamentos sem se programar. “O cliente entra no clima das vendas e atrativos, compra, depois precisa devolver e perde parte do que pagou”, analisa.
E isso pode chegar a 20% do valor já pago, o que indenizaria a construtora por quebra de contrato, como explica o advogado imobiliário Guilherme Fonseca Almeida. “Se as construtoras exigem retenções maiores, é necessário ajuizar ação para que a rescisão se opere de forma mais justa ao consumidor”, alerta.
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