É inegável que a notícia do início da construção do Contorno do Mestre Álvaro representa uma excelente notícia para o município da Serra neste início de agosto. Contudo, pela experiência pretérita em relação à grandes obras federais no Espírito Santo temos motivos para ficar apreensivos.
Bem verdade que não faltam exemplos de atrasos e má qualidade em obras no Brasil todo – haja vista as trapalhadas nas preparações para os jogos olímpicos. Definitivamente não é uma exclusividade capixaba casos como o do Contorno de Vitória e – talvez o mais emblemático de todos – do Aeroporto de Vitória. Assim, será requerido um esforço concentrado de nossas lideranças políticas para garantir fluidez nessa obra que terá impacto positivo também para outros municípios da Grande Vitória.
A gestão local também terá um papel fundamental no processo. Sabe-se que essa via vai abrir uma nova fronteira para o município e a pressão imobiliária será gigantesca para alterar as leis que balizam o atual uso da terra – essencialmente agrícola.
Projetos empresariais e mesmo residenciais, se forem autorizados no futuro próximo, deveriam ter cláusulas bastante específicas em relação às responsabilidades no trato da infraestrutura viária e de serviços à população. Nesse sentido, o recolhimento de resíduos sólidos (lixo) é uma preocupação. O atual modelo é um serviço financeiramente deficitário e uma nova frente de expansão urbana tende a piorar essa relação.
Assim, a pergunta central que se faz é: qual será o legado dessa intervenção viária e urbana? Que modelo de desenvolvimento se espera para aquela região? O potencial de transformação para a Serra com o Contorno do Mestre Álvaro é significativo. Isso é indiscutível. Maior e melhor mobilidade humana talvez sejam os maiores desejos da população. Vale ressaltar, contudo, que tais legados não são automáticos ou inerentes à obra de engenharia. A administração pública e a população têm que ter muito claro os desafios e as potencialidades dessa frente de trabalho.