Uma jaguatirica adulta foi atropelada e morta na rodovia do Contorno do Mestre Álvaro, na Serra – via que corta o Corredor Ecológico Duas Bocas – Mestre Álvaro, que abrange os municípios de Cariacica, Viana e Santa Leopoldina. Onças, jaguatiricas, lontras, cachorros-do-mato, raposas e cobras estão entre os animais que vivem na região e enfrentam a rodovia como barreira para se deslocarem entre os ambientes que ficarão fisicamente separados.
De acordo com denúncia de ativistas ambientais, a fatalidade já atingiu animais como veados, tamanduás, cachorros-do-mato e gambás. “Toda vida animal é uma grande perda para nossa biodiversidade. Mas esta última, uma jaguatirica, um animal que está quase em extinção, perder a vida desta forma é lamentável e mostra que a passagem de fauna não está funcionando e que medidas urgentes precisam ser tomadas”, denuncia Junior Nass, da ONG Guardiões do Mestre.
Antes mesmo de ser entregue, os ambientalistas já alertavam para o impacto ambiental da obra, que é circundada por terrenos alagados, Mata Atlântica em estágios diferentes de recuperação, pastagens e plantações. Os 19 quilômetros de rodovia, além de habitat de espécies nativas de plantas e animais, cortam o corredor ecológico Duas Bocas – Mestre Álvaro, área de grande biodiversidade e trânsito de animais entre as duas reservas ambientais.
Segundo o projeto seriam feitas cerca de 41 passagens de fauna, que poderiam ser tanto túneis por baixo da pista quanto pontes para que os animais pudessem atravessar em segurança. Também estava prevista a instalação de redutores de velocidade em pontos próximos a alagados e florestas, onde se presume que o fluxo de animais seja maior.
O Tempo Novo questionou diversas vezes o Instituto Estadual de Meio Ambiente (Iema), licenciador do empreendimento, e nunca obteve resposta se realmente foram feitas as passagens e quantas foram instaladas.
Na época em que começou a construção, o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) aprovado pelo Iema apontava que 168 espécies de animais sofreriam com a estrada e alertava que algumas poderiam ser extintas da região, sendo: 68% aves, 11% mamíferos, 10% anfíbios, 6% répteis e 5% peixes.
DNIT diz que rodovia possui 30 passagens construídas
O Tempo Novo procurou o Departamento Nacional de Infraestrutura e Transporte (DNIT), executor da obra, para falar sobre o assunto. O órgão informou que, ao longo dos 19 quilômetros do Contorno do Mestre Álvaro, foram construídas 30 passagens inferiores e que serão implantadas três passagens aéreas, visando à preservação da fauna local. A autarquia destaca que também serão instaladas cercas direcionadoras de fauna/cercas guias. Neste caso, os projetos estão sendo concluídos para posterior implantação. Essas estruturas serão instaladas ao longo do trecho com o objetivo de canalizar a movimentação dos animais para pontos específicos providos de passagens, como ecodutos e túneis. As cercas são projetadas para impedir que os animais acessem diretamente a pista, promovendo a segurança tanto dos motoristas quanto da fauna.
Outra medida mitigadora realizada pelo DNIT é a instalação de placas indicativas de presença de animais, chamadas de “Placas de Advertência de Fauna” ou “Placas de Trânsito de Animais Silvestres”, objetivando alertar os motoristas sobre a possibilidade de travessia de animais, incentivando-os a reduzir a velocidade e dirigir com maior cautela nessas áreas. Até o presente momento, existe uma implantada em cada acesso do trecho. Demais ações serão elaboradas e mantidas pela empresa concessionária que vai assumir o segmento rodoviário.
O que diz o Iema
O Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema) informa que os túneis voltados tanto para passagem de fauna silvestre quanto de gado são condicionantes ambientais para o licenciamento da via.
Ao todo, foram implantadas 9 passagens de gado e 31 passagens de fauna silvestre subterrâneas. Três passagens suspensas para fauna arborícola estão pendentes e o DNIT já foi notificado para o cumprimento total da condicionante.
Existem ainda 16 placas ao longo do trecho, sendo uma placa de cada uma das 8 espécies ameaçadas, com espaçamento de 2,5 km entre elas, tanto no sentido crescente quanto no decrescente do estaqueamento.
Além disso, foram exigidos programas de monitoramento de fauna e um projeto de iluminação na rodovia, utilizando equipamentos de iluminação não atrativos para a fauna. Também foi exigido, por meio de condicionante, a execução permanente de Programa de Monitoramento de Fauna Atropelada.
O Iema ressalta que segue acompanhando e fiscalizando o cumprimento das condicionantes. Os monitoramentos realizados agora na fase de licença de operação irão conduzir para tomada de novas decisões do órgão ambiental diante dos resultados, principalmente do monitoramento de fauna atropelada.