Secretário de Obras da Serra nessa nova gestão de Vidigal, Halpher Luigi era o diretor da superintendência local do Departamento Nacional de Infraestrutura e Transporte quando em 2017 foi iniciada a construção do Contorno do Mestre Álvaro. No quarto bloco da entrevista concedida ao Tempo Novo no último dia 26 de maio (leia o primeiro, o segundo e o terceiro nos links) , Halpher revela que foi preciso mudar o projeto. É que no início da obra a escória foi usada para aterro nos alagados do Mestre Álvaro, ação que acabou proibida pelo meio ambiente. Agora, a Prefeitura da Serra anunciou que recebeu em maio 10 mil toneladas de escória da Arcelor e que está usando para melhorar o piso de vias rurais e urbanas não pavimentadas. Halpher diz que a aplicação está sendo criteriosa para evitar danos ao meio ambiente e à saúde humana.
A Prefeitura anunciou parceria com o ArcelorMittal Tubarão* para receber escória (resíduo da produção de aço) com intuito de jogar em estradas vicinais e até vias urbanas não pavimentadas. Mas e os riscos ambientais?
Existe essa possibilidade (de risco ambiental). O que a gente tem feito tanto a Secretaria de Obras quanto a de Serviços é adotar os cuidados necessários para que isto não aconteça. No caso da Secretaria de Obras é até um procedimento mais simples, que nós estamos dentro da cidade, a gente atua em vias urbanas não pavimentadas para aplicar esse material. Então apesar de ser um material inerte, um material já certificado pelos órgãos ambientais, há um cuidado. A questão maior talvez seja na área rural, mas lá também está sendo feita aplicação com muito cuidado para não deixar entrar em contato, por exemplo, com leitos d’água. Mas eu repito, no caso específico desse material ele não gera maiores problemas, já foi inclusive aprovada por órgãos ambientais a sua aplicação. O que a gente precisa fazer é adotar medidas para que não possa ser jogado em área de preservação permanente. Mas em vias urbanas onde você tem casas dos dois lados, está com isso equacionado, um ambiente antropizado, aí não há maiores problemas. Mesmo assim tomamos cuidados para não aplicar o material em excesso.
O senhor era superintendente local do DNIT, órgão responsável pela obra do Contorno do Mestre Álvaro, quando o Instituto Estadual de Meio Ambiente proibiu uso de escória como aterro das áreas alagadas para implantação da futura pista. Como foi possível prosseguir com a obra após isso?
A aplicação desse material no Contorno do Mestre Álvaro estava previsto. E o licenciamento ambiental original previa o uso desse material. O que aconteceu é que o órgão ambiental mudou de entendimento e a gente teve que mudar também o projeto. É por isso que nós vamos ter mais de 2 km de vias elevadas, porque não seria assim o projeto original. E isso sem aumentar custo. Como é uma obra licitada via regime diferenciado de contratação, vai ser feito sem custo adicional para a União.
O senhor tem experiência de ter dirigido o DER/ES e a Superintendência do DNIT no estado, além de estar agora dirigindo uma das secretarias mais robustas da maior cidade do Espírito Santo. Vai colocar seu nome à disposição das urnas ano que vem para deputado estadual ou até federal?
Passa longe disso. Já tive uma experiência com candidato à Prefeitura de Vitória (em 2020), foi uma experiência rica, muito boa. Mas não pretendo concorrer. Eu diria que não vou concorrer no pleito de 2022. Há outros nomes que poderão se colocar para serem testados. Estou numa tarefa técnica mesmo, de auxiliar o prefeito Sérgio Vidigal, trazendo minha experiência e network para fazer da infraestrutura da Serra a melhor infraestrutura municipal do estado do Espírito Santo.
A Serra precisa. É um grande município e ao mesmo tempo um município grande. São coisas distintas. Nada aqui é muito perto. Vitória com 12 km você está em qualquer lugar da cidade. Aqui não. É um município muito grande, com a população espalhada e necessita de uma infraestrutura muito forte, pujante, para aguentar a demanda que virá.
A gente está na administração de um prefeito que é empreendedor, que já governou aqui outras vezes e quer inovar. Mudar o patamar da prestação de serviço público. Não só agora nessa gestão dele, mas deixar esse legado.
O senhor seguirá no PL?
Não pretendo mudar. Mas não sei se vou ter alguma atividade partidária mais forte aí no processo (eleitoral de 2022). Mas continuo no PL, tenho muitos amigos lá. Num curto prazo não vislumbro processo de mudança não. Mas também não estou atuando partidariamente, estou atuando muito tecnicamente na prefeitura, até porque tenho uma história técnica muito bonita para contar aí. Quero continuar contando história bonita.
Eu já assumi na minha carreira vários cargos de chefia. No DNER, no DER, no Ministério dos Transportes, no DNIT, na ANTT, mas eu te digo sem medo de errar: O maior desafio de minha carreira é o de ser secretário municipal. Porque você está junto com a população, resolvendo o problema do cidadão na hora. É aquela coisa de ou você resolve ou você não está cumprindo bem o seu papel. É pressão o dia inteiro. É uma experiência muito nova, boa, muito rica. Prepara o gestor público para todo tipo de dificuldade. É muito mais desafiadora a administração municipal do que administração estadual ou federal. Já atuei nas três e posso dizer isso sem medo de errar.
Sobre a escória
* A ArcelorMittal Tubarão já declarou publicamente que o resíduo da fabricação de aço, a escória, não é tóxica. A empresa afirma que trata o material em sua planta industrial na Serra e se refere a ele como ‘co-produto’, que inclusive foi batizado ‘Revsol’ como marca registrada. Nos últimos anos esse material vem sendo doado para prefeituras de diversas regiões do estado para ser aplicado em estradas sem pavimentação, incluindo as dos municípios onde estão as nascentes dos rios que abastecem a Grande Vitória. Uma vez aplicada na estrada, a escória melhora a qualidade do piso e permite circulação de veículos em épocas de chuva. Mas também é arrastada pela força das enxurradas para dentro dos cursos d’água.
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