Se por um lado o Contorno do Mestre Álvaro vai melhorar mobilidade e segurança tirando parte do tráfego do atual traçado da BR 101 entre Carapina e Serra Sede, por outro ele pode afetar comércios e serviços que se beneficiam justamente deste trânsito. É o caso das lojas de atacarejo – aquelas que vendem tanto em pequenas quanto em grandes quantidades – que tem na Serra o principal polo deste segmento no Estado. A avaliação é do presidente da Associação Capixaba de Supermercados (Acaps), João Falqueto, que também é empresário e morador do município.
Segundo ele a concentração de tantas lojas de atacarejo só foi possível por conta do trânsito de pessoas de outras cidades pela BR 101. “O foco do segmento é vender para restaurante, bar, cozinha industrial, que compram itens em maior volume. No caso da cozinha industrial, a Serra tem bastante, pois é uma cidade com muitas indústrias. Mesmo assim, parte do consumidor dos atacarejos da Serra vem de Aracruz, que tem a Fíbria, porto, Jurong. E também de outros municípios”, explica.
Falqueto avalia que o contorno do Mestre Álvaro pode tirar pelo menos parte deste consumidor, que não é da Serra, das lojas localizadas no eixo Carapina – Laranjeiras, uma vez que o cliente pode deixar de passar pelo trecho “Já há uma concentração alta, não só de atacarejos, mas também de super e hipermercados na Serra, que tem um volume de estabelecimentos acima da média nacional. E todas disputando o consumidor do varejo também, o que é um agravante”, analisa.
O presidente da Acaps pondera, entretanto, que por serem mais simples de montar do que um supermercado ou hipermercado convencional, o atacarejo mudado de lugar com mais facilidade. “Por ser mais robusta, a loja de atacarejo trabalha com volume grande de mercadorias e é preparadas para o trânsito de empilhadeiras em seus corredores. Por isso seu galpão pode ser mais facilmente adaptado para outra atividade, como logística, por exemplo. E isso também é vantagem”, observa.
Falqueto ressalta que sua avaliação sobre o impacto do Contorno do Mestre Álvaro está ainda no campo de hipótese, mas os empresários devem ficar atentos. “Temos o exemplo do Markro, pioneiro no atacarejo do ES. Loja bem localizada, na BR 101 entre Carapina e Laranjeiras, mas está com dificuldades. Simplesmente porque optou por um modelo de negócios com número muito baixo de funcionários. E mesmo sendo essa característica de atacarejo, a empresa exagerou, não observou uma tendência. E sabemos que o consumidor gosta de ter um funcionário para atendê-lo no corredor quando precisa”, exemplifica.
Negócios de R$ 70 milhões por mês e mil empregos gerados
De acordo com Falqueto, a Serra já possui sete lojas de atacarejo e uma construção. Na
BR 101, além do Macro, há o Atacadão e o Oba. Na mesma via está sendo construído o Vem, do grupo Extrabom. Já na Av. Civit, há o OK. Na rodovia ES 010, há uma outra loja do OK.
Na Eudes Scherrer, perto de Vila Nova, tem o Super Rede. E na Norte x Sul, em São Diogo, fica a loja do Sempre Tem. De acordo dados da Acaps, elas geram de 900 a 1 mil empregos diretos e movimentam R$ 70 milhões por mês.
Previsão é que nova rodovia fique pronta em dois anos
As obras do Contorno do Mestre Álvaro foram iniciadas no 1º semestre e estão na fase da terraplanagem. A gestão é do Departamento Nacional de Infraestrutura e Transporte (DNIT), que estima o custo em R$ 300 milhões. No início de outubro, o engenheiro responsável, Rodrigo Gomides, disse que R$ 100 milhões já estão garantidos para serem aplicados até o final deste ano. A futura via terá 18,9 km, ligando às regiões do Contorno de Vitória, ao sul, e Chapada Grande, ano norte, ambas na Serra. A previsão é que fique pronta em dois anos. E fará parte da BR 101, retirando 35% do tráfego existente hoje entre Carapina e Serra Sede, trecho que tende a ser municipalizado.