A lama com metais pesados da Samarco (Vale+BHP) contaminou os corais de Abrolhos, localizados no extremo sul da Bahia, a cerca de 250 km da foz do rio Doce. A conclusão é de estudo conduzido pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), divulgado na última terça-feira (19).
Segundo notícia publicada no site da universidade, a pesquisa envolveu seis laboratórios da UERJ e também contou com a colaboração da UFF e da PUC-Rio. Concluiu que os rejeitos da exploração de minério de ferro derramados na bacia do rio Doce e que se espalharam pela costa capixaba, baiana e fluminense após o rompimento da barragem em Mariana em novembro de 2015 geraram pico de contaminação por metais pesados nos corais. Notadamente, na incorporação de zinco e cobre na estrutura desses animais.
Abrolhos é um Parque Nacional Marinho. O resultado da pesquisa já foi passado ao ICMBio, órgão do Ministério do Meio Ambiente e gestor da reserva, para que sejam incluídos nos autos de infração contra a mineradora.
Para o coordenador do estudo, o pesquisador Heitor Evangelista, diz que não há como remediar a contaminação. “Nosso papel é saber em que medida aquela área foi impactada. E a partir daí, deflagrar mecanismos de monitoramento para descobrir qual vai ser a resposta biológica diante desse fato. Precisamos aprender com esse processo”, avalia.
Evangelista confirma que a situação é mais uma ameaça a um dos locais que abriga mais de 1/3 de toda biodiversidade marinha conhecia no planeta, que já vem sofrendo com o aquecimento global.
Fundação diz que ajuda a monitorar
A Fundação Renova, entidade criada pela Samarco e suas controladoras Vale e BHP para gerir os impactos e reparações pelo rompimento da barragem em Mariana, diz que não teve acesso ao estudo. Mas que após conhecer o teor do mesmo, poderá avaliar se o monitoramento conduzido pela Rede Rio Doce Mar poderá auxiliar na elucidação dos problemas apontados.
A Renova disse, ainda, que fechou acordo de cooperação, no valor de R$ 120 milhões, com a Fundação Espírito-Santense de Tecnologia (Fest) e a Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) para ajudar a mensurar os impactos do rompimento da barragem de Fundão na biodiversidade aquática e indicar eventuais medidas reparatórias.
Também afirmou que a Rede Rio Doce Mar monitora impactos no mar, manguezais e restingas de Guarapari a Abrolhos, o que inclui o litoral da Serra. Segundo a Renova, os resultados serão avaliados pela equipe da Câmara Técnica de Conservação e Biodiversidade (CT-Bio) e apresentados ao Comitê Interfederativo (CIF).
Lama da Vale encosta no rio São Francisco
A lama da Vale com rejeitos de minério que se espalhou com o rompimento da barragem em janeiro em Brumadinho (MG) está prestes a atingir o rio São Francisco, um dos mais emblemáticos mananciais do país que fornece água ao semi-árido mineiro e nordestino, totalizando nove estados.
Segundo publicação no site do Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), na última segunda-feira (18) a lama já havia atingido a hidrelétrica de Retiro Baixo, no rio Paraopeba. Dali até a represa de Três Marias, no rio São Francisco, são cerca de 20km.