O epicentro da epidemia do novo coronavírus surgiu num mercado popular de carnes – incluindo de animais silvestres – na cidade de Wuhan na China. Mas foi através das pessoas mais abastadas, que podem viajar a trabalho ou a passeio em aviões, que a doença se espalhou e virou pandemia.
No ES e na Serra a covid-19 foi detectada primeiro nos bairros de classe média. Agora, já se espalhou para a periferia. E nela é mais letal, evidenciando de forma cruel como a desigualdade social impõe não só uma qualidade de vida inferior, mas também uma existência mais curta para os pobres.
Líder das mortes no ES com 82 dos 302 e dois óbitos no ES até 17 de maio, a Serra é exemplo de como a desigualdade social se faz explícita no ranking das vítimas fatais da covid-19. Os bairros de classe média Colina, Morada, Parque Residencial Laranjeiras, Valparaíso e Manguinhos tinham 238 casos da doença confirmados, que resultaram em 09 mortes.
Na outra ponta da estratificação social, os bairros Vila Nova, Feu Rosa, Jardim Tropical, José de Anchieta e Bairro das Laranjeiras somavam 196 pacientes que testaram positivo. Mas, neste caso, a letalidade foi bem maior: 24 mortos.
Os dados são do painel da covid-19, publicado pela Secretaria de Estado da Saúde (Sesa).
Nos bairros pobres as residências são mais apertadas e cheias. O isolamento social é mais difícil de fazer. A alimentação é mais precária assim como o acesso a saúde, fruto de vidas com poucos recursos econômicos e que, muitas vezes, obtêm suas parcas rendas em trabalhos insalubres. Nesses bairros a infraestrutura urbana também é inferior e não é incomum esgoto a céu aberto, por exemplo, vetor de diversos problemas de saúde.
É fato que a pandemia está também está impactando os ricos e a classe média. No entanto os pobres e miseráveis precisam ainda mais de ajuda, antes da deflagração da covid-19 eles já eram 100 mil entre o meio milhão de moradores da Serra, conforme dados da Prefeitura. Número que deve disparar.
Agora, torna-se ainda mais fundamental a ampliação da rede pública de assistência social e saúde. Este é desafio imenso para o último ato da gestão Audifax Barcelos (Rede) e para o mandatário que o sucederá, pois a crise há de ser longa e a arrecadação do município já recua forte. Isso num momento em que a política de proteção social no Brasil passa por desmonte sob a batuta de um governo errático que flerta com crise institucional sem precedentes desde a redemocratização.
Bons sinais locais foram dados nos últimos anos, com a construção da UPA de Castelândia e do Hospital Materno Infantil, além do uso de recursos próprios da Prefeitura ante a ausência de repasses federais para programas de assistência social. O próximo prefeito terá que ser alguém hábil para manter contas equilibradas, sustentar o status de cidade atraente para investimentos, ser criativo para estimular novos caminhos para geração de trabalho e renda, mas sem descuidar da enorme demanda social já posta e que tende a se ampliar.
O sucesso da próxima gestão também dependerá de melhora do cenário nacional e internacional, o que por hora não se vê no horizonte.
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