Instalado em Jardim Limoeiro na região do ‘Copo Sujo’, local de grande vulnerabilidade social perto da entrada do Complexo de Industrial de Tubarão, o Centro Pop (Centro de Referência Especializado no Atendimento à População de Rua) é uma estrutura pública municipal que cumpre papel humanitário e integra o Sistema Único de Assistência Social (Suas). De acordo com o coordenador do Centro Pop, Ramon Rosa Ribeiro, são atendidas até 80 pessoas por dia e a demanda cresceu 15% este ano. Ao lado das ameaças de precarização do serviço por conta dos cortes do governo Federal na assistência social, Ramon afirma que o crescente preconceito de setores da sociedade para com moradores de rua são os maiores desafios.
Quais serviços o Centro POP presta à população de rua?
Funciona de 2ª a 6ª feira durante o dia e atende o público adulto morador de rua, que é acolhido por assistente social e psicólogo, que fazem cadastro e levantam todas as necessidades da pessoa. Além de receber alimentação, insumos para higiene pessoal e colchonetes para descansar, o Centro Pop encaminha esse morador de rua para os serviços de Saúde, Educação, Trabalho Emprego e Renda e demais atendimentos ligados à assistência social.
Quantas pessoas são atendidas em média?
Por mês, passam de 250 a 300 pessoas diferentes por aqui. Diariamente os atendimentos chegam a 80, que é nossa capacidade máxima instalada. Chegam por demanda espontânea, encaminhamento por terceiros ou mesmo pela rede de proteção social.
Com o agravamento da crise econômica tem havido aumento da demanda?
Sim. No 1º semestre de 2019 a procura foi 15% maior do que no último semestre do ano passado. Um dado relevante, é que neste primeiro semestre de 2019 atendemos 311 pessoas novas que não tinham passado pelo serviço até 31 de dezembro de 2018.
Quais as causas que levam as pessoas às ruas da Serra?
Conflitos familiares, uso de substâncias psicoativas e desemprego/perda da moradia. Tem também os migrantes que vem de outros estados em busca de emprego ou familiares. A metade dos moradores de rua que temos na Serra, são migrantes. O restante é de gente que residia no próprio município.
Qual a origem desses migrantes?
Dos migrantes, 50% vêm de outros munícios da Grande Vitória – sobretudo Vitória, Vila Velha e Cariacica e Viana – e o restante de outros estados, principalmente do Rio de Janeiro, Bahia e Minas Gerais, com maior quantidade vinda dos dois últimos. Desses estados muitos chegam com informações de que há emprego na indústria, mas uma vez aqui sentem outra realidade. Já as pessoas oriundas de outras cidades da região metropolitana vêm também por conta de ameaças que recebem no território de origem.
Há estimativa de quantas pessoas estão morando nas ruas da Serra hoje?
São cerca de 300. Dessas, 150 ficam nos pontos fixos mapeados por nós. Os outros 150 são circulantes, se movimentando constantemente dentro da região metropolitana.
A assistência social vem tendo recursos reduzidos pela União, além de ser questionada por setores da sociedade que ajudaram a eleger o atual presidente. Como isso reflete no trabalho de vocês?
Temos vivido um momento muito difícil na assistência. Primeiro por contingenciamento de recursos. Também por pressão de setores da sociedade que entendem que isto é dinheiro jogado fora. Além disso, a população em situação de rua tem sentido um movimento de muita criminalização, está sendo associada a violência, furtos, roubos, crimes, contra a vida. Mas a realidade é outra. Na verdade o morador de rua é ávido por conhecimento, superação, trabalho e quer sair dessa condição.
Novidades no Centro Pop?
Sim, foram iniciadas em agosto duas turmas especiais de Eja (Educação de Jovens e Adultos) para moradores de rua. Passaremos agora por uma reforma no espaço e compra de equipamentos com recurso de R$ 200 mil encaminhado pelo Estado, através da Setades (Secretaria de Trabalho Assistência e Desenvolvimento Social). Lembro ainda que o Centro Pop é gerido há 3 anos em parceria com a Adra (Agência Adventista de Desenvolvimento de Recursos Assistenciais) e que além dele o morador de rua na Serra também é atendido no Abrigo Noturno em Jardim Tropical, no Abrigo Arco Íris que funciona 24h em Castelândia (30 vagas em cada abrigo), além da Casalar Masculina em Barcelona e Feminina em Mata da Serra, essas duas últimas voltadas para portadores de transtornos mentais que dificilmente conseguirão reinserção nas suas famílias.