A falta de uma política agressiva de desenvolvimento econômico, dentre a falta de captação de novos empreendimentos, está levando a Serra a sucessivas perdas de receita e comprometendo a sua capacidade de investimentos. A consequência disso é que, em médio prazo, o município será um mero pagador de contas.
Viajando um pouco na história recente é fácil verificar que foram três os projetos de desenvolvimento econômico implantados na cidade. A CST – hoje Arcelor Mital – implantada pelo Governo federal, e os Civit’s I e II, pelo Governo do Estado, na década de 1970, para repor perdas causadas pela destruição das lavouras cafeeiras. Foi um projeto conjunto dos dois governos que beneficiou a Serra.
O segundo indutor do crescimento foi o Terminal Industrial Multimodal da Serra – Tims, na gestão de Adalto Martinelli, com a participação da Vale do Rio Doce. Uma ideia do ex-procurador Romulo Lopes, abraçada por Martinelli e que se tornou referência nacional e um modelo de negócio que funciona, gerando desenvolvimento, postos de trabalho e renda.
O terceiro foi na gestão do ex-prefeito João Baptista da Motta, que foi um misto de doações de áreas para atrair empreendimentos, apostando na criação de sistemas viários que pudessem atrair a iniciativa privada. Também deu certo.
Há 20 anos não aparece nenhum outro projeto de desenvolvimento econômico da magnitude dos anteriores, com uma atuação forte do secretário da pasta e do chefe do Executivo na captação de novos empreendimentos para a cidade. A explosão econômica que aconteceu na Serra de 2000 a 2010 foi fruto do que se fez no passado e da expansão imobiliária de Vitória para a Serra.
O que Sérgio Vidigal (PDT) e Audifax Barcelos (ex-PDT e hoje PSB) fizeram nos 18 anos em que administraram a cidade foi importante, mas consiste em pegar a receita viabilizada no passado e pulverizar a Serra de pequenas obras de pavimentação e drenagem, unidades de saúde, escolas, creches, praças e uma forte política de assistência social.
Qualquer obra estruturante de porte médio e grande que se faz necessária hoje na Serra, só sai se tiver recursos externos, do Governo do Estado ou Federal.
Pagando a conta da complacência
Acabou a agonia da fumaça vinda da queima da turfa na região da baixada do Mestre Álvaro, que durou cerca de 15 dias e maltratou milhares de pessoas, inclusive em Vitória, mas principalmente os moradores dos bairros no entorno, que são José de Anchieta II, Solar de Anchieta, Central Carapina e até a região de Laranjeiras.
Os moradores desses bairros conviveram nesse período diuturnamente com a fumaça e gases tóxicos. Só eles podem relatar com propriedade o drama que viveram nesses dias. São pessoas de todas as idades, mas quem mais sofreu foram as crianças, gestantes e idosos. Não foram poucos os relatos de casos de internações, náuseas, vômitos, desmaios, crises asmáticas, sinusites e outras doenças respiratórias.
O caso serviu para mostrar que a natureza não sabe se defender das agressões que o homem pratica contra ela; mas sabe vingar. E a vingança vem de forma impiedosa, sem olhar classe social e nada, quem estiver no seu caminho vai sofrer as consequências. Está mais do que claro que área de preservação é área de preservação e que a sua ocupação tem que ser planejada e executada de forma a não cometer crime ambiental.
Serviu também para as autoridades públicas repensarem o modelo de ocupação que tem predominado na Serra ao longo de décadas nessas regiões que deveriam ser de preservação, que são áreas de baixadas, fundos de vale, encostas de morros, beiras de rios, córregos e lagoas e áreas de mata nativa.
Via de regra essas ocupações são irregulares e têm o olhar complacente de quem deveria coibir essas ocupações. Mais cedo ou mais tarde a conta dessa complacência vem e não é pequena não, e quem paga é quem não tem nada com isso.
A vigilância agora deve ser para não permitir que as áreas queimadas sejam frutos de invasões e piorar ainda mais uma situação que já é degradante e caótica.