Yuri Scardini
Como na situação nacional, aqui na Serra a extrema polarização entre o prefeito Audifax Barcelos (Rede) e o deputado federal Sérgio Vidigal (PDT) não permitem que haja uma força política hegemônica. E, também como no cenário nacional, não parece emergir uma nova força que contraponha esses dois líderes. Pelo menos nesta eleição.
Pelo nível de divisão e animosidade entre lideranças políticas da cidade, seja Audifax ou Vidigal o vencedor, é provável que haja crise de hegemonia no próximo mandato de prefeito. Na prática a ausência de poder dominante tira do governante a capacidade plena de mobilizar a administração da mesma forma que reduz as oportunidades para promover as reformas necessárias.
Tanto Audifax quanto Vidigal não economizam esforços para formar nestas eleições vereadores aliados, de forma que se o adversário vencer, uma verdadeira tropa de choque de oposição no legislativo municipal esteja a postos para bater no inimigo.
A existência de oposição faz parte da democracia. Mas, para que ela seja saudável, precisa ficar no nível do debate ideológico e de projetos, além do óbvio papel fiscalizador. Mas, se ela descamba para ações cujo objetivo é tão somente paralisar o executivo, vira um problema. A Serra é e deve ser sempre maior do que qualquer briga pessoal.
Há de se considerar também o novo cenário partidário na Serra, com o fim da janela de transferência. Especula-se que um número maior de partidos tenham representares na Câmara da Serra na próxima legislatura, o que pode impor a demanda por mais espaços em uma administração já no limite estrutural.
É bom ter a FAMS por perto
Ainda tem as eleições da Federação das Associações de Moradores da Serra, a Fams, que se transformaram numa verdadeira prévia eleitoral para outubro. Tanto Audifax quanto Vidigal querem o controle da entidade, pois é notório que Fams pode ajudar muito na condução da administração municipal, da mesma forma que também pode criar muita dor de cabeça.
Vidigal e Audifax tem grupos pesados, espalhados pelos mais variados setores da sociedade, a cidade está dividida e os sinais são de que vai permanecer fraturada após a outubro, sem perspectiva de consenso. Há também variáveis incontroláveis, como o posicionamento do deputado Bruno Lamas (PSB) ante a uma vitória de Vidigal ou uma possível subida do vereador Nacib Haddad (PDT) para ocupar uma cadeira no legislativo municipal num cenário de vitória de Audifax.
Colado a tudo isso, tem uma brutal recessão econômica, que torna o dinheiro público escasso e pune os prefeitos que ficam de mãos atadas. Imagina isso numa cidade de meio milhão de habitantes e com problemas sociais ‘mais profundos que um buraco negro’.
Todas essas possibilidades são apenas meros ensaios. Mas, é bom lembrar, há casos na história recente de crises de hegemonia que redundaram na dificuldade de formar uma maioria parlamentar duradoura, onde difusas tentativas desordenadas de superação da crise não tiveram sucesso. Vide os casos do ex-presidente Fernando Collor de Melo e da atual presidenta Dilma Rousseff.