Hoje (22) é o Dia Mundial da Água. Ao invés de celebração, é oportunidade do serrano cobrar um acesso mais justo a este líquido fundamental à vida. Tanto a água que chega – quando chega – às torneiras quanto o tratamento de esgoto ofertados pela Cesan na cidade estão na berlinda.
Na água tratada e distribuída pela Cesan já foram encontrados excessos de derivados de cloro e até chumbo e arsênico, substâncias câncerigenas. A empresa nega os dois últimos, mas admite o problema com o cloro. E diz já tê-lo corrigido.
Outra situação comum são as constantes faltas d’água. Problema recorrente na Serra nos últimos anos, que só recentemente alcançou a repercussão devida quando passou a atingir com frequência bairros da capital Vitória. Fato que levantou a suspeita, por parte de alguns serranos, de que a população da Serra esteja sendo vítima de racismo ambiental.
Os dois rios que abastecem a cidade estão sujos. E baixam muito o volume na estiagem. Vide o colapso enfrentado na superseca de 2015/2016. O rio Santa Maria da Vitória, além dos impactos dos materiais orgânicos, adubos químicos e agrotóxicos do cinturão de horigranjeiros das montanhas, sofre com excesso de barro durante as chuvas. O que interrompe a captação de água e o abastecimento da Serra.
Já o Reis Magos tem vazão modesta, que cai ainda mais durante a seca. O que evidencia a carga de esgoto que recebe das cidades de Santa Teresa e Fundão, além dos impactos agropecuários e do desmatamento.
E não é só. O manancial sofre também com a salinização, uma vez que a água salgada sobe pela maré de Nova Almeida até o ponto de captação em Putiri. Fato que também interrompe a captação. A Cesan inclusive já chegou a mandar água salobra do Reis Magos para moradores da Serra Sede e entorno. Um perigo para a saúde, há relatos de moradores que precisaram de atendimento médico após o consumo do líquido. A Cesan diz que corrigiu essa problema instalando detectores de sal e comporta no canal de captação.
Conta 80% cara e serviço precário
Palco da 1ª Parceria Público Privada (PPP) do ES para tratamento de esgoto, a Serra não têm tido uma experiência boa também nessa frente. PPP entre a Cesan e a Ambiental Serra (controlada pela Aegea) foi instalada há sete anos. Para o serrano, que paga 80% a mais na conta de água para tratar o esgoto – sem a possibilidade de separar os débitos – a sensação é de estar sendo enganado.
Isto porque estudos de diferentes instituições – Da Câmara de Vereadores passando pelo Tribunal de Contas do Espírito Santo – têm revelado que o esgoto não está sendo tratado adequadamente. Ou seja, o que sai das Estações de Tratamento de Esgoto continua poluindo o meio ambiente.
Se bem que nem é preciso tanto aprofundamento para perceber a fragilidade do serviço. Basta olhar as águas pútrefas das lagoas do Baú, Carapebus, Maringá, Juara, Jacuném e Serra Dourada. E dos córregos São Diogo, Laranjeiras, Dr. Róbson, Irema, Laripe, Canal dos Escravos. Até o maior rio 100% serrano, o Jacaraípe, já se encontra em situação falimentar. Sem contar os constantes vazamentos de esgoto, aonde também parte da população tem sua responsabilidade ao descartar objetos inapropriados na rede.
E olha que um dos principais discursos das autoridades municipais, estaduais e da própria Cesan ao proporem a PPP era a de que isso viabilizaria os investimentos para melhorar a qualidade do tratamento de esgoto oferecido até então.
Saneamento é direito básico. Assim como um meio ambiente equilibrado também é, conforme reza o artigo 225 da Constituição. Logo o serrano não só merece, como tem direito a água mais limpa e ao esgoto tratado adequadamente. Afinal, paga por isso.
Aliás, direito a água limpa e ao esgoto coletado e tratado corretamente deveria ser extensivo a todas as pessoas do planeta. Se esse direito for só para alguns é racismo ambiental.